José Eduardo Agualusa
Isabel veio da cozinha e encostou-se à ombreira da porta a limpar com um pano as mãos acabadas de lavar. O jantar estava pronto e vinha chamar Luís e a filha, mas, ao entrar na sala, deparou-se com os dois sentados no chão, entretidos com um puzzle, e deteve-se a observar a cena. Viviam juntos há quase um ano e Isabel dizia a si própria todos os dias que era uma mulher com sorte, embora, na realidade, se sentisse apenas resignada. Ao contrário do amor incondicional que sentira por Filipe, o investimento emocional na relação com Luís implicara também a fria ponderação do deve e haver da vida. Estando sozinha e dependente de um emprego de baixos proventos, não a incomodou o instinto de ser cautelosa quanto ao futuro. Conquanto fizesse questão de se valer por si e não depender de ninguém, não limitou a sua escolha ao idílico e frágil destino do amor. Queria segurança. Luís empenhava-se a construir uma sólida carreira no banco onde chegara já a director e, apesar de não ser um homem de gostos requintados e nem muito culto, era responsável e dedicado. E Isabel pensou que isso lhe bastava.
Isabel mudara-se para casa de Luís ao fim de seis meses de namoro e ele adoptara a filha dela como se fosse sua. O maior desejo dele era ter filhos, mas, depois de anos de tratamentos, teve de aceitar que isso nunca aconteceria.
Não fora amor à primeira vista, mas haviam desenvolvido uma relação que fora crescendo e tornando-se mais sólida com o passar dos meses. Por vezes, Isabel surpreendia-se a compará-lo a Filipe e, bem, não encontrava muitas semelhanças. Luís era mais novo, da idade dela, bem-humorado, mas menos profundo, menos atento aos pormenores. Isabel nunca tivera – e provavelmente nunca voltaria a ter – um homem que a conhecesse tão bem como Filipe. Filipe percebia-a, lia o seu pensamento e interpretava-o com uma lucidez que nunca deixara de a espantar. Era um homem experiente e ajudara-a muito a ultrapassar um momento difícil, após o divórcio, apontando-lhe caminhos sem lhe querer impor a sua opinião. Isabel gostava de Luís, acreditava que sim, embora fosse uma relação mais serena, em nada comparável à paixão que vivera com Filipe.
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Quando se lembrava de Filipe sentia um aperto no peito, uma nostalgia, uma frustrante sensação de inevitável fracasso. Deixá-lo fora a opção correcta, pensava, ou insistia nessa convicção para sossegar o espírito, para não se sentir derrotada. Dissera que o amava e, ao mesmo tempo, abandonara-o. Sabia que Filipe nunca entenderia a sua decisão. Não fora capaz de ser directa com ele, de lhe explicar, mas, por outro lado, achava, ele tinha obrigação de a conhecer e perceber as razões dela sem precisar de uma explicação directa. Isabel desfizera em poucas semanas uma relação construída sem pressa, passo a passo, que tivera de ultrapassar a desconfiança dela, vencida pela paciente dedicação dele. No fim, levada pela ansiedade de cortar com o passado, tomara-se de coragem, recusara-se a vê-lo e derrotara-o pela desilusão. Fosse como fosse, tinha feito a sua escolha e, mesmo se quisesse, não poderia desfazê-la.
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Filipe encontrou-a dois meses depois da separação, por acaso, num centro comercial. Viu-a ao longe, a sair de uma loja, e o seu primeiro impulso foi precipitar-se para lhe falar, mas, num segundo momento, surpreendeu-se paralisado por um pensamento fulminante: não conseguia ir ter com ela e abordá-la com a naturalidade de simples amigos. A dedicação à pessoa que amamos, a nossa preocupação com ela, com o seu bem-estar, com a sua felicidade, o tempo que gastamos a pensar nela ao longo do dia, a necessidade de falar com ela, de fazer amor com ela, de lhe aparecer de surpresa e ver os seus olhos brilharem de alegria, de lhe ver um sorriso, de lhe consolar uma tristeza, de a fazer feliz, a entrega sem reservas a essa pessoa torna-a no centro da nossa vida. Se a perdemos, a nossa vida dissipa-se nesse desaire. Filipe não sabia, não imaginava o poder destrutivo que uma pessoa nesta situação tinha sobre a outra, nunca passara por aquilo, nunca fora deixado por nenhuma mulher que amasse o suficiente para se incomodar seriamente com a separação. Em contrapartida, no passado, deixara algumas almas arrasadas pelo caminho e tivera sempre o desespero delas na conta de uma lamechice insuportável. Agora, porém, tomava consciência do que elas haviam sentido por sua causa.
Os nossos sentimentos pela pessoa que amamos são sempre egoístas porque só tratam da nossa felicidade, mesmo se lhe oferecemos incondicionalmente o nosso mundo inteiro e vivemos para ela enquanto estamos apaixonados; um dia, se deixamos de sentir esse amor, se deixamos de precisar dela, nesse exacto instante partimos com pressa e sem olhar para trás. Partimos sem dor – sem a nossa dor, pelo menos –, como se não houvesse uma história, como se não lhe tivéssemos jurado o nosso amor, como se nunca tivéssemos precisado dela realmente e tivesse sido tudo uma representação, sabes, coisas que se dizem para ganhar vantagem emocional. Acreditaste em tudo o que te disse? Desculpa, mas não sou a alma boa que fazias de mim, eu avisei-te, não me ouviste. Não te quero mal nem quero que me odeies, mas tenho de pensar em mim, na minha felicidade futura, que não passa por ti. E partimos, não podemos continuar, não há uma responsabilidade, uma obrigação, uma moral que nos obrigue a gostar como dantes, voltamos costas, simplesmente. Quando viu Isabel no centro comercial, Filipe sentiu uma alegria súbita e logo uma mágoa desoladora. Isabel tinha-se tornado o centro da sua vida, lentamente, de forma consistente, e Filipe não se importara com o que estava a acontecer-lhe, não se defendera emocionalmente, não ponderara os riscos e fora irresponsável com os seus sentimentos, ciente contudo de que não havia outra maneira de amar. Mas Isabel partira sem olhar para trás.
Isabel teria gostado de o ver e de falar com ele, embora tivesse sido um encontro penoso para ela, mas Filipe não se aproximou, deixou-se ficar ali enquanto Isabel se afastava sem reparar nele.
Filipe voltou para a cama, apagou a luz, permaneceu de olhos abertos, espantado numa irremediável espertina, até se habituar à claridade soturna do quarto, sentindo o pesado desalento dos quartos de hotel quando estamos sozinhos. Porventura, essa solidão e a circunstância pouco ponderada de se encontrar a passar os seus cinquenta anos em Nova Iorque, obedecendo a um impulso romântico, sublinhavam o desamparo que lhe tirava o sono. Mas Filipe era um homem optimista e razoável e de modo algum atravessara os últimos anos afogado numa tristeza inconsolável. Compreendera que não se podia arrancar o amor a alguém que não o sentisse ou, por qualquer motivo decisivo, preferisse abafá-lo a favor, quiçá, de uma paz de espírito ou de um conforto mais imediato, de uma felicidade menos exigente, qualquer coisa. Por conseguinte, teria sido um disparate desistir de ser feliz por cedência a uma decepção, a um desgosto.
Por mais dolorosa que fosse a separação, recordava com saudade cada momento com Isabel e não se arrependia nem por um segundo de ter dado tudo por ela, de ter procurado fazer tudo por ela – isto é, admitindo que assim fora, pois Isabel talvez não pensasse o mesmo. A quente, Filipe talvez tivesse sentido que lhe dera mais de si do que o contrário. Parecia-lhe que Isabel era muito concentrada em si própria, sempre tão preocupada com os seus problemas que, normalmente, não havia espaço para falarem dele. Em contrapartida, Isabel queixava-se de Filipe não querer falar da vida dele, dos seus problemas, e ele respondia-lhe que não falava, simplesmente, porque não os tinha.
Não se sentira revoltado com ela nem com o mundo por este não lhe dar tanto quanto ele desejava. Na altura, soçobrara numa profunda tristeza, mas pensava, muito pragmaticamente, que, com o tempo, haveria de esquecer Isabel e, então, ela seria só um pontinho na sua vida, uma recordação antiga, uma nostalgia sem importância. E assim foi, ao longo dos anos subsequentes. Ou melhor, ele fizera com que assim fosse. Não pensara nela, não despendera um minuto do seu tempo a decompor o passado. As coisas são como são e não adiantava analisá-las até à exaustão, procurar descobrir obsessivamente onde falhara. Provavelmente, não poderia ter feito nada melhor, ou, ainda que pudesse, que tivesse feito melhor, no fim o resultado não teria sido o mesmo? Por isso, seguira em frente e não ficara agarrado ao passado. Mas de tempos a tempos tinha, como lhe chamar?, uma recaída. A espaços, dava consigo suspenso numa memória triste, num inconfessável desapontamento, numa frustração por não ser dono e senhor da sua vida e não poder dizer eu decido o meu destino independentemente das circunstâncias. Naquele caso, não dependera só dele. Acontecia-lhe isto se entrava num restaurante onde costumava almoçar com Isabel, se dobrava a esquina onde antes se encontravam, se passava na rua dela, pela casa dela, e tomava consciência de viverem na mesma cidade, tão perto um do outro, e, ao mesmo tempo, em planetas diferentes.
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Já depois de se terem separado e de terem deixado de se ver, Filipe e Isabel mantiveram-se em contacto por um breve período e ele não desistiu dela. Procurava uma solução, tentava fazê-la ver que, se ambos quisessem e se esforçassem, era possível ficarem juntos. Filipe estava disposto a divorciar-se. Nem se surpreenderia se Patrícia não ficasse particularmente desgostosa por ele sair de casa – embora essa sua percepção pudesse estar inquinada por uma certa esperança de acabar o casamento com, digamos, a aquiescência dela, sem dramas, sem dor, como se tal fosse possível. Um homem tem a sua vida interior, os seus silêncios misteriosos, o seu isolamento, que podem ser confundidos com desinteresse. Uma mulher menos paciente, emotiva, pode sentir-se rejeitada e ofendida, já uma mulher mais intuitiva consegue ser tolerante e passar por cima dessa idiossincrasia masculina. Patrícia geria com parcimónia as ausências de Filipe do casamento deles porque o amava, não por indiferença, e, definitivamente, não queria o divórcio.
Um homem apaixonado é uma bomba-relógio. Filipe tinha consciência disso, apercebia-se do quanto era capaz de relativizar agora os princípios incorruptíveis de outrora, de como se dispunha a maleabilizar a sua vida para afastar os obstáculos impossíveis que o impediam de ficar com Isabel. Reconhecia um certo desespero na sua atitude, uma determinação invulgar, uma vontade feroz de fazer qualquer coisa para não a perder. Perguntava-se, ela vale isso tudo? Ela merece tanto? E a resposta era invariavelmente sim.
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Filipe chegou a confrontar Patrícia com o embaraço que se tornara o casamento deles. Tinham horários diferentes, cruzavam-se em casa, cuidavam dos miúdos à vez. Melhor seria se se divorciassem, disse, como se fosse só um desabafo, um estado de espírito. Patrícia parou o que fazia, levantou a cabeça, perscrutou-lhe os olhos, a expressão, os sinais de perigo no seu rosto comprometido.
– Estás a falar a sério? – perguntou-lhe. – Queres divorciar-te?
– Estou a dizer que o nosso casamento já tem pouco de vida em comum.
– Sim, eu percebi, mas também disseste que o melhor era divorciarmo-nos.
– Sim.
– Então, eu estou a perguntar-te: é isso que queres?
– O que eu quero é falar disto e descobrir contigo o que é melhor para os dois.
– Muito bem – concordou Patrícia. – Falemos, então.
– Eu sinto – começou ele – que já quase não estamos juntos como um casal. Antigamente não nos largávamos, saíamos muito, fazíamos programas juntos, fins-de-semana fora. Havia uma relação mais forte, não nos cruzávamos em casa.
– Antigamente não tínhamos dois filhos, nem as mesmas responsabilidades, não trabalhávamos tanto.
– Eu sei.
– Queres mesmo o divórcio? Estás a pensar nisso?
– Importavas-te?
– Que raio de pergunta é essa?! – exasperou-se Patrícia.
– Claro que me importava! Filipe, queres dizer-me alguma coisa?
– Como assim?
– Tens outra, é isso?
– Disparate! Não, não tenho outra – mentiu.
– Porque é que me estás a perguntar isso, se me importava?
– Por nada, esquece, o que interessa é arranjarmos mais tempo para nós. Temos de fazer isso.
– Quanto a isso, estamos de acordo. Mas não me voltes a falar em divórcio.
– Não volto – assentiu Filipe, engolindo em seco a falta de coragem, embora na altura estivesse convencido de que acabaria por fazê-lo.
Ficaram assim, Filipe e Isabel, enredados num impasse que redundou num equívoco. Ele, pensando que ela já não o amava; ela, duvidando da determinação dele, acreditando que, no fundo, Filipe não tencionava realmente divorciar-se, mas apenas evitar com promessas vãs que se separassem.
A relação deles, pelo seu carácter secreto, nem sempre tinha sido fácil, minava a paixão, a possibilidade de estarem juntos de facto. Isabel aguentara estoicamente, sempre esperançada de que Filipe tomasse uma atitude, saísse de casa e se dedicasse a ela finalmente, sem condicionantes, sem secretismos. Não lhe dizia, mas sentia-se a segunda mulher, o brinquedo para ele se divertir à margem da sua aparentemente imaculada vida familiar. Crescia nela uma incerteza, não estava convencida de que Filipe a amasse de facto, caso contrário, pensava, já teria deixado a mulher. Isabel começou a reflectir nisso numa tarde após o trabalho. Estava sentada numa esplanada a beber um café num dia soalheiro mas frio de Inverno. Perguntou a si própria se devia sentir-se responsável caso Filipe desfizesse a sua família para ficar com ela, se se importava realmente com a mulher dele. Não a conhecia, não eram amigas, nunca a vira, mas ela existia e tinha um lugar na vida de Filipe. De facto, ela tinha prioridade na vida de Filipe e, provavelmente, ele não a deixaria nunca. E, sim, incomodava-a ser responsável pelo seu divórcio, se acontecesse, mas não, não desistiria dele por isso.
À medida que os meses passavam, Isabel ia acumulando dúvidas no seu espírito, ganhava consistência a ideia de a relação deles não ter futuro. Já Filipe preferia não pensar nisso, amava Isabel e sabia que um dia teria de fazer uma escolha, tomar uma decisão, mas ainda não se sentia preparado para isso. Precisava de tempo.
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Patrícia estava de banco no hospital quando recebeu a chamada urgente e as palavras que ouviu deixaram-na apavorada. Era da escola. O seu filho mais novo sofrera uma queda, disseram-lhe, ficara vários minutos inconsciente. Ia a caminho do hospital. Foi um choque. Patrícia dirigiu-se imediatamente para a porta das urgências com as pernas a tremer, o coração acelerado, uma angústia no peito. A ambulância deveria chegar dentro de dez minutos. Foram os dez minutos mais terríveis da sua vida. Patrícia teve de apelar a todo o seu profissionalismo para controlar a ansiedade e dominar os nervos de modo a estar em perfeitas condições de receber o filho e conseguir ocupar-se dele sem vacilar. Enquanto esperava, ligou a Filipe, mas o telemóvel dele encontrava-se desligado. Deixou-lhe uma mensagem de voz, depois outra, escrita, e em seguida tentou ligar-lhe mais três vezes, mas a chamada foi sempre encaminhada para a caixa de mensagens.
Quando a ambulância chegou, Patrícia precipitou-se para a porta traseira. Verificou logo os sinais vitais do filho, encontrou-o consciente e alerta. Isso sossegou-a, era bom sinal, mas levou-o para dentro e sujeitou-o a todos os testes possíveis. Os exames arrastaram-se tarde fora e, entretanto, Patrícia foi insistindo com chamadas e mensagens para Filipe, mas o telemóvel manteve-se mudo, como se ele se tivesse desligado do mundo. Imaginou que Filipe se tivesse esquecido do telemóvel em casa e se encontrasse no escritório, o que significava que ficaria incomunicável até à noite.
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Filipe passara a tarde com Isabel, em casa dela. Chegara depois do almoço e, ainda no elevador, desligara o telemóvel. Ela recebeu-o como sempre, com um sorriso sereno, um abraço, um longo beijo, feliz por vê-lo. Sentaram-se no sofá da sala e ali ficaram a conversar durante algum tempo. Beijaram-se, ela levantou-se, estendeu-lhe a mão, encaminhou-o para o quarto.
Depois de fazerem amor deixaram-se estar na cama, abraçados. Mais tarde, voltaram a fazer amor. As horas foram correndo sem pressa e não se importaram com o tempo a passar, porque naqueles momentos ignoravam o mundo. O mundo e as suas complicações não existiam.
Filipe só voltou a ligar o telemóvel ao final da tarde, quando se despedia de Isabel, e então reparou que tinha várias chamadas não atendidas de Patrícia e outras tantas mensagens.
Isabel viu-o empalidecer enquanto escutava a primeira mensagem.
– Algum problema? – perguntou-lhe, preocupada.
– O meu filho teve um acidente – gaguejou Filipe, assustado.
– O que é que aconteceu?
– Parece que caiu e bateu com a cabeça.
– É grave, Filipe?
– Não sei – respondeu ele, olhando em volta, desorientado, à procura da carteira, do casaco. – Tenho de me ir embora.
Isabel ajudou-o a recolher as suas coisas, entregou-lhas.
– Vai, depressa.
– Depois falo-te – disse, antes de sair.
– Não te preocupes com isso. Vai lá ter com o teu filho.
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Filipe telefonou a Patrícia assim que saiu de casa de Isabel e entrou no carro para se dirigir ao hospital, mas ela já ia com o filho a caminho de casa.
A criança regressou a casa no próprio dia. Os exames não revelaram nada de anormal, para além de uma ferida superficial na cabeça, e, contra o procedimento de rotina naqueles casos, Patrícia decidiu não deixar o filho sob observação no hospital durante vinte e quatro horas, uma vez que ela mesma poderia vigiá-lo e levá-lo de volta ao hospital se detectasse alguma sequela do traumatismo.
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– Onde é que estiveste a tarde inteira? – perguntou-lhe Patrícia, depois de deitarem o miúdo.
– Estive no escritório – disse. – Tinha o telemóvel desligado e não reparei.
– A tarde inteira, Filipe?
– Sim, o que é que queres, não reparei, não precisei de telefonar, nem tirei o telemóvel do bolso do casaco. Só vi que estava desligado quando vesti o casaco para me vir embora.
– Inacreditável…
– O que é que é inacreditável, Patrícia?
– Teres o telemóvel desligado o dia inteiro! Nem pensaste que podia haver uma emergência?
– Não, não pensei. Não costumamos ter emergências todos os dias, pois não? E eu não costumo ter o telemóvel desligado.
– Porque é que o desligaste?
– Sei lá! Queres parar com o interrogatório?!
Patrícia ergueu as mãos, como que contendo uma fúria.
– Muito bem – disse apenas, saiu da sala e retirou-se para o quarto.
Não voltaram a falar do assunto, embora Patrícia ficasse sempre desconfiada de que Filipe não lhe contara a verdade. A sua explicação fora plausível, mas o embaraço óbvio que ele evidenciara já não.
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