Título: Mentes Brilhantes, Mentes Treinadas
Autor: Augusto Cury
Design de capa: Ideias com Peso
Revisão: Eda Lyra
ISBN: 9789722045605
LIVROS D’HOJE
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Somos a única espécie, no meio de milhões na natureza, que pensa, tem consciência de si mesma e escreve a sua história. Um privilégio indescritível, é verdade. Mas temos escrito uma história que nos liberta ou nos aprisiona? Que expande a nossa auto-imagem ou sufoca a nossa auto-estima? Que liberta o nosso imaginário ou deprime a nossa capacidade de inventar? Que expande a nossa inteligência ou bloqueia as nossas habilidades?
Muitos vivem em sociedades livres, porém são escravos das suas emoções. Escravos modernos, algemados pelo medo, insegurança e angústias; sem correntes físicas, mas acorrentados por preocupações irrefreáveis, por pensamentos perturbadores e por uma mente inquieta, ansiosa, agitada, que pensa descontroladamente e teima em não relaxar.
O grande desafio das sociedades modernas não é ter espaço para protestar, ambiente para expressar ideias e condições para consumir produtos e serviços. Não, o grande desafio é treinar a nossa mente para ser livre e tranquila num dos territórios mais difíceis de se explorar do universo, o planeta psíquico. Tão próximo e tão distante. Desconheço o quanto já explorou esse planeta, mas sei que a maioria de nós vive à superfície, não penetra nas camadas mais profundas da sua mente.
A mente humana é tão complexa que, diferentemente do universo físico, desobedece às leis da física e da matemática. Só para exemplificar: Para alguns, os elevadores são uma aventura; para outros, um cubículo sem ar. Para alguns, uma pequena aranha é um animal belíssimo; para outros, uma fonte de pânico. Para alguns, as derrotas provocam a garra e o desejo ardente de superação; para outros, geram culpa, vergonha e o desejo de esconder a sua face do mundo. Para alguns, uma plateia é um convite para libertar a criatividade; para outros, um convite ao medo, capaz de asfixiar a inteligência e a fala.
Tais paradoxos, que, em maior ou menor grau, atingem todo o ser humano, representam apenas uma parte da nossa sofisticação psíquica. Somos notavelmente complexos e, ao mesmo tempo, marcadamente complicados. Esses paradoxos, tão comuns à personalidade humana, indicam que precisamos de mentes treinadas educacionalmente para os superar de modo a que se tornem mentes brilhantes. Caso contrário, eles irão pautar a nossa história e contaminá-la.
Conhece pessoas que fora de casa são uns «anjos», dóceis, mas, dentro de casa, se tornam agressivas e intolerantes? E pessoas que sorriem socialmente, mas por dentro estão angustiadas? E profissionais que, relaxados, produzem muito, mas, stressados, bloqueiam o raciocínio, deixam de ser produtivos? E pessoas que tratam das suas empresas com competência, mas são carrascos da sua qualidade de vida?
«Mentes treinadas» não são importantes apenas para superar essas discrepâncias, mas também para criar plataformas de janelas light no córtex cerebral, que representa a memória humana, para dar sustentabilidade às funções mais importantes da inteligência, como a generosidade, a sensibilidade, a segurança, a autocrítica, a estabilidade emocional. E o que são essas plataformas de janelas light? São áreas de leitura utilizadas na construção de pensamentos. Fique tranquilo. Iremos estudar mais à frente estes assuntos.
Os computadores, mesmo os mais rudimentares, conseguem recitar mais informações do que qualquer ser humano. Parece que são mais complexos do que a mente humana, mas nenhum deles sabe e jamais saberá o que é o sabor da alegria, o paladar do amor, nem mesmo o que é sofrer por antecipação, recuar, sentir culpa, viver a dor do outro ou sequer experimentar uma pequena dúvida. São máquinas simplistas, embora possamos considerá-las supersofisticadas.
Qualquer ser humano, seja um mendigo socialmente rejeitado, uma pessoa com um surto psicótico ou um alcoólatra a cair pelas ruas sem nenhum autocontrolo, é milhões de vezes mais complexo do que a mais complexa das máquinas humanas. Eu e você podemos falhar diversas vezes, às vezes estupidamente, mas até as nossas falhas são fruto da nossa sofisticação.
As nossas gritantes diferenças com os computadores não estão no mundo da lógica, mas, sim, no universo da consciência existencial e das funções da inteligência que ultrapassam os limites da lógica. Na teoria da Inteligência Multifocal, que é a teoria que desenvolvi ao longo de mais de vinte e cinco anos sobre o processo de funcionamento da mente, de construção de pensamentos e de formação de pensadores, aponto que a consciência existencial é o fenómeno mais complexo da psique. Nunca um computador terá consciência de si mesmo. Já nós temos essa consciência, por isso quando sofremos, choramos ou nos alegramos, tais acontecimentos são únicos no universo.
A maturidade, a afectividade, a serenidade, a ousadia, a flexibilidade, o altruísmo, a tolerância, a humildade, a simplicidade, enfim, todas as funções da psicologia «intrapsíquica» precisam de muito mais do que milhões ou mil milhões de dados para serem construídas. Os computadores não as irão construir, a não ser pela simulação. Elas só podem ser alcançadas pela mente humana. Mas para isso são necessários treinos e mais treinos da emoção e do intelecto.
De igual modo, a psicologia educacional requer o mesmo tipo de treinos. Achamos ingenuamente que, pelo facto de os alunos se sentarem nos bancos de uma escola, do ensino fundamental à universidade, e saturarem a sua memória de informações e, por fim, passarem nos exames escolares, se encontram preparados para a vida. Este pensamento é um erro crasso. Até para desenvolver um «amor inteligente» não estarão preparados.
Entulhar informações na memória prepara-os para serem stressados ao longo da vida, pois informações não elaboradas aceleram, como veremos, os pensamentos e expandem a ansiedade. Mentes aceleradas ou agitadas destroem a tranquilidade, o prazer, o encanto. Talvez estejam preparados para executarem tarefas ou serem consumidores, mas não para serem pensadores que se poderão lapidar a si mesmos e à sociedade.
Devemos estar conscientes de que os treinos propostos aqui têm de ser trabalhados continuamente. Na mente humana, nada se incorpora num passe de magia, numa leitura rápida ou numa palestra. É necessária uma trajectória de exercício de semanas, meses e anos.
Na psicologia interpessoal, que estuda as relações sociais, o exercício psíquico é igualmente importante. Quantos pais não têm a intenção de ser mais calmos com os seus filhos, professores menos ansiosos com os alunos, executivos mais sociáveis e criativos nas empresas, amantes menos críticos e mais distribuidores de elogios, mas falham? Talvez 80% da nossa vontade de mudar não resulte em nada.
Que bom seria se em todas as escolas do mundo, inclusive nas judias e palestinianas, os alunos treinassem o seu «eu» para entender que toda a escolha tem perdas, que o objectivo da maturidade psíquica é mais do que ganhar a discussão, é «ganhar» ou conquistar o outro! Uma mente mal treinada pode transformar as relações sociais num inferno interminável.
Estou sempre a dizer que os meus livros não são de auto-ajuda ou motivação. Os livros de auto-ajuda, regra geral, não nos levam a compreender o nosso psiquismo, a penetrar nas camadas mais profundas do funcionamento da mente. Produzem mensagens positivas e orientações que raramente resistem ao calor dos problemas de segunda-feira. Mentes Brilhantes, Mentes Treinadas é um livro de divulgação científica fundamentado na Teoria da Inteligência Multifocal. Portanto, é um livro de aplicação psicológica, sociológica, filosófica e educacional que estimula a arte de pensar, a consciência crítica e procura fornecer ferramentas para o treino psíquico.
. Apesar de ser um dos livros mais lidos no Brasil, resolvi ampliar a versão original e disponibilizar mais ferramentas.
Alegro-me pelo facto de algumas das minhas obras estarem a ser usadas em universidades e teses académicas em muitos países, mas alegro-me ainda mais por ter a possibilidade de socializar instrumentos para que pessoas fora da área da saúde mental possam compreender e utilizar. Contribuir com a saúde psíquica para o desenvolvimento da inteligência e para o prazer de viver dos leitores é o meu maior presente. Nunca nos devemos esquecer que ser autor da nossa própria história é o nosso mais solene direito e o nosso mais importante desafio.