Título: Dicionario do nome das coisas
Autor: Orlando Neves
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Revisão: Frederico Sequeira
ISBN:9789895556489
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À dinastia que reina na Jordânia (assim como no Iraque, antes de a monarquia ser derrubada) chama-se «hachemita». Deve-se isso a provir do nome Hashim, descendente de Maomé e defensor de Meca em 1201.
Esta conhecida sanduíche não nasceu na cidade alemã de Hamburgo, ao contrário do que se possa pensar. É um produto norte-americano, inventado, em 1885, por dois irmãos de Hamburg, nos arredores de Búfalo, no estado de Nova Iorque, durante um período em que havia falta de carne — decidiram picá-la para a distender.
Uma tradição bíblica liga esta palavra ao nome de um antepassado de Abraão, um patriarca chamado Héber ou Eber (Génesis).
Na mitologia grega, Hélice foi uma das ninfas que ajudou a criar Zeus na ilha de Creta. Grato, o rei dos deuses transformou-a na constelação Ursa Maior. A palavra grega donde proveio é helikos, cujo significado seria «espiral, que gira, que volteia como a Ursa Maior». No latim manteve a mesma acepção, mas designava também uma espécie de hera, exactamente devido à sua forma espiralada.
«Ser um Hércules» é expressão que classifica pessoa dotada de força extraordinária. Hércules (ou Héracles) é o mais popular herói da mitologia clássica. Filho de Zeus e Alcmena, mulher de Anfitrião (ver), semideus, tomou-se célebre por ter realizado os doze trabalhos que lhe foram impostos pelo rei de Tirinto. Permanece como símbolo da libertação e da procura da imortalidade, através do esforço heróico e supremo. Em artes plásticas, Hércules é representado com uma expressão séria, barba encaracolada, pescoço curto e cabeça pequena em comparação com a estatura gigantesca.
Miticanente, Hermafrodito é filho de Hermes e de Afrodite. Criado pelas ninfas do monte Ida, o jovem era de extraordinária beleza.
Hermafrodito resolveu percorrer mundo e chegou junto à fonte de Sálmacis, perto de Halicarnasso. A ninfa Sálmacis, ao vê-lo, perdeu-se de amores por ele. Não sabendo o que dizer, porquanto o seu coração jamais fora visitado por Eros, ele manteve-a à distância. A ninfa simulou conformar-se, mas escondeu-se num bosque vizinho Hermafrodito despiu-se e lançou-se nas águas da fonte. Sálmacis, como descreve Ovídio nas suas Metamorfoses, num instante estava junto dele. Apesar da resistência do filho de Afrodite, a ninfa cobriu-o de beijos e, «como a hera que se enrosca no tronco das grandes árvores», enlaçou-o fortemente, o que lhe tirou qualquer possibilidade de resistência. Pediu, em seguida, aos deuses que jamais a separassem de Hermafrodito. Os deuses ouviram-lhe a súplica. Os dois corpos fundiram-se num só e assim surgiu um novo ser, de dupla natureza. Em dois versos, o poeta latino citado sintetizou a essência do hermafrodito:
Não são já dois. Sob dupla forma não são um homem
nem urna mulher; parece não terem nenhum sexo mas têm os dois.
Do que é impenetrável, fechado, de tal modo que não deixa passar ar ou outros gases ou, metaforicamente, do que é incompreensível de imediato, a não ser para iniciados, se diz «hermético». E é nesta última acepção que se encontra a origem. Chamavam os gregos ao deus Hermes, Hermes Trismegistus (Hermes três vezes o máximo), por ele ser, entre outros atributos, o deus de todas as magias. Tot era o deus egípcio, mestre da escritura, ou seja, da palavra e da inteligência, do ardil e da astúcia, mago e patrono dos magos que já Heródoto identificava com o Hermes grego, mais tarde identificado também com o inventivo deus latino Mercúrio — daí o «trimegisto», Tot, Hermes e Mercúrio.
Foi do físico alemão Heinrich Hertz que, por alturas de 1890, tomou o nome esta unidade de frequência que equivale à de um fenómeno periódico cujo período é de um segundo.
Higia, do grego hyguiés que significa «de boa saúde», era filha do deus da Medicina, Asclépio, e, portanto, a semideusa que personificava a saúde, para a qualidade da qual muito contribui a higiene.
Na mitologia grega, Himeneu terá sido um jovem ateniense de tal beleza que se confundia com uma formosa adolescente. Apaixonado por uma conterrânea, quando integrou urna peregrinação de mulheres a Elêusis, para cultuarem Deméter, foram todas raptadas por piratas, incluindo Himeneu. Este, apanhando os raptores a dormir, matou-os. Casou, finalmente, com a jovem que amava. Em memória desse feito, Himeneu era invocado como de bom augúrio em todos os casamentos e foi elevado à categoria de deus dos matrimónios.
Himeneu, como vocábulo, terá origem em hímen, «membrana, película», mas também «grito ritual por ocasião das núpcias, hino», o que nos daria a ideia de «rompimento do hímen, durante o qual se invocaria, aos gritos, Himeneu, mais tarde transformados em hino ou canto nupcial, de triunfo».
Hipócrates foi um médico da antiguidade grega (460-377 a. C.) que cuidava gratuitamente dos pobres, de reconhecida honestidade, considerado fundador da medicina ocidental. Foi ele quem escreveu o «juramento» que tem seu nome, um código de honra rigoroso para todos os médicos jurarem no início das suas actividades — juramento que ainda hoje se mantém.
Um excerto: «Qualquer que seja a casa onde entre, vou para ajudar o doente, abstendo-me de toda a maldade. Sobre tudo, o que eu veja ou ouça, na minha assistência aos doentes e que não seja para ser ouvido noutros lugares, manterei silêncio.»
Qualquer coisa de uma enormidade extraordinária, diz-se «homérica». Homero (cuja existência é lendária) ficou como o primeiro e o maior poeta grego (escreveu a Ilíada e a Odisseia). Embora, por vezes, se atribuísse à incomensurável obra de Homero a «enormidade extraordinária», parece que a palavra nasce da descrição do poeta da vida dos deuses do Olimpo, quando Hefesto, filho de Hera, deus do fogo e das forjas, que nasce coxo, participando numa festa, provocou uma enorme gargalhada entre os deuses devida à deformidade física. Homero escreve:
... e Hera, a deusa de alvos braços, sorriu,
e, a sorrir, recebeu a taça das mãos de seu filho.
Ele, então, começando pela direita, pôs-se a servir aos outros deuses
o doce néctar [...].
Um riso inextinguível se ergueu entre todos os deuses
[bem-aventurados,
ao verem Hefesto a fadigar-se pelo palácio.
Foi este «riso inextinguível» denominado «riso homérico».
Os arruaceiros dos campos desportivos, em especial do futebol, que, tantas vezes, extravasam a sua violência para as ruas das cidades, passaram a ser conhecidos como hooligans, a partir dos incidentes no estádio Heisel de Bruxelas. Eram na sua quase totalidade de origem britânica. A palavra faz parte do nome de um criminoso irlandês que actuava em Londres por alturas de finais do século XIX. De facto, Patrick Hooligan comandava uma quadrilha de delinquentes do submundo londrino que praticou inúmeros delitos junto da população, conforme atestam os arquivos policiais.
Flor do arbusto do mesmo nome, originária da China e do Japão. O botânico francês Commerson (1727-1773) importou a planta e deu-lhe o nome de «Hortênsia» em homenagem a uma sua amiga francesa, Hortense Lepante.
Os católicos chamaram «huguenotes» aos protestantes calvinistas franceses durante os séculos XVI e XVII. Sabe-se, historicamente, como foram cruéis as lutas entre essas duas facções cristãs, que culminaram com a célebre «matança de S. Bartolomeu», ordenada por Catarina de Médicis, em 1572, que vitimou centenas de protestantes. A designação de «huguenote» provinha do suíço Besançon Hugues, falecido em 1532, e que foi o prefeito protestante de Genebra, a cidade onde Calvino organizou a Igreja reformada da Suíça.
Ao arco de cores que se forma nas nuvens, por refracção do Sol reflectindo a sua luz na chuva, chama-se arco-íris. Em todos os cultos, o arco-íris é o símbolo do caminho entre este mundo e o outro, espécie de ponte que os deuses usam nas suas viagens entre o céu e a terra (é a aliança entre Deus e o homem como está no Génesis 9, 12-17). Na mitologia, Íris é filha de Taumas e personifica o arco-íris, ao ser representada com asas, coberta de um leve véu que, quando o sol lhe bate, toma as cores do arco-íris. A sua missão era a de portadora das ordens dos deuses aos homens, sendo, principalmente, mensageira de Hera.
Ver agareno.
Planta de flores aromáticas, pertencente à família das Liliáceas, de corola azul, branca ou rósea. Tomou o nome de Jacinto, filho do rei Amiclas e de Diómedes. Adolescente de grande beleza, foi amado pelo deus Apolo. Este divertia-se, frequentemente, a lançar discos e um deles (diz a lenda que desviado por Zéfiro, ciumento de tais amores) cortou a cabeça ao jovem. Apoio, desesperado, transformou-o na flor jacinto, em cujas pétalas se quer ler a vogal A, de Apoio, e a consoante Y, de Yacinthos.
Em 1218, os dominicanos fundaram um convento em Paris, na Rua de Saint-Jacques (Sanctus Jacobus, em latim). Aquando da Revolução Francesa, a esse convento estava associado um hospício (lugar onde se recebiam os hóspedes, sobretudo os peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela — Tiago é Jacques em francês). Em 1789, por iniciativa dos constituintes bretões, aos quais se juntavam outros deputados da província, fundou-se o Clube dos Jacobinos, assim chamados por se terem instalado no convento dominicano. Como esses deputados eram, politicamente, avançados nas suas ideias, «jacobino» passou a significar «republicano, democrata com posições intransigentes». Devido à sua irreligiosidade tomou-se também sinónimo de «herege».
A banheira de massagens com este nome foi inventada por um emigrante italiano na América do Norte que fabricava bombas hidráulicas. Um seu filho sofria de artrite reumatóide e ele lembrou-se de acoplar à banheira uma bomba que permitisse à criança as hidromassagens. Chamava-se o emigrante Cândido Jacuzzi (1902-1986).
É o mês que os romanos consagraram ao deus Jano. Divindade antiquíssima, de origem ignota, tem-se como filho de ApoIo e Creusa, provavelmente oriundo de Atenas. Logo que atingiu a maioridade, Jano equipou uma flotilha e dirigiu-se para Itália, onde após algumas conquistas, construiu uma cidade à qual deu o nome de Janículo. A seguir, estendeu o seu poder sobre o Lácio. Quando Saturno, expulso do céu, foi buscar refúgio na Itália, dotou Jano de prudência, de tal modo que o passado e o futuro estavam sempre ante seus olhos. Depois da morte foi elevado a deus da paz. Representavam-no com uma cabeça com duas faces, tendo na mão uma vara e na outra uma chave.
Era o primeiro a ser invocado nas cerimónias religiosas, porque presidia às portas e aos caminhos e porque era por seu intermédio que as preces dos homens chegavam até aos deuses. Jano tinha dois rostos porque exercia poder sobre o céu e sobre a terra.
Tudo se abria e fechava à sua vontade. As suas estátuas representavam-no tendo na mão direita o número trezentos e, na esquerda, o número sessenta e cinco, para exprimir a duração do ano. Presidia no ano ao começo de tudo: era o deus dos princípios. O Janus bifrons, «Jano de dois rostos», exprimia a faculdade que tinha de olhar para a frente, o porvir, e ver atrás, o passado; Janus quadrifrons, «Jano de quatro cabeças» exprimia as quatro estações do ano que ele presidia. Visto Jano abrir o ano, o primeiro mês era-lhe consagrado, janeiro, januarius.
Etimologicamente, ianus significava «passagem». («Janela» tem origem em januella, diminutivo de janua, «porta de entrada, acesso».)
É palavra de etimologia obscura que se supõe vinda do francês janot, raras vezes dicionarizado, que teria origem numa personagem teatral do final do século XVII e depreciaria os que se vestiam pedantemente elegantes. O certo é que o termo não tem este sentido desfavorável e, antes pelo contrário, é modo de dizer carinhoso a alguém que se veste bem e com quem se simpatiza.
No entanto, é provável que tudo venha de uma personagem de Rabelais no Gargântua, o mestre Jannotus de Bragmardo, «rapado à moda de César, com o seu chapelão à antiga [...] levando na sua frente três bedéis com dalmáticas vermelhas e, atrás de si, cinco doutores, rígidos, bem trajados, eleitos para o caso». A arenga embriagada que Jannotus faz, seguidamente, deu origem à palavra francesa janotisme como sinónimo de anfibologia cómica ou «parvoíce», que se enquadra nas características da tal personagem teatral a que acima se faz referência.
Ver Levis.
A uma série de lamentos, algo exagerados ou excessivos, em relação à dor sofrida, chamamos «jeremíada», aludindo ao profeta Jeremias que predisse a destruição de Jerusalém e se tornou famoso pelas suas lamentações (Livro das Lamentações, da Bíblia).
«Ser uma Jezabel» é ser uma mulher depravada e extraordinariamente cruel. Jezabel, fenícia, era filha do rei de Tiro e Sidon e casou com o rei Achab de Israel para que se efectuasse uma aliança entre as duas nações. Mas continuou a adorar o deus do seu país, Melquart, o Baal de Tiro. Querendo que o deus fosse cultuado no mesmo plano do deus de Israel, perseguiu esta religião e os seus profetas, matando-os. Mas Elias conseguiu escapar e profetizou que ela viria a ser devorada pelos cães, o que aconteceu quando surgiu um rebelde, Jeú, que assassinou Achab e os sacerdotes de Baal e a lançou aos cães.
Diz-se de homem de grande paciência que, apesar de todas as desgraças, incluindo a da pobreza, mantém a fé no seu Deus e no futuro. No Livro de Job, da Bíblia, narra-se a história de Job, um homem virtuoso e prospero que Satanás tentou para que blasfemasse contra o seu Deus e este tirou-lhe toda a sua riqueza e tomou-o vitima das maiores desgraças — mas Job manteve a fé com uma proverbial paciência, até que Deus lhe devolveu as riquezas e a saúde.
John Bull personifica o povo inglês. Em 1712, um desenhador satírico escocês, John Arbuthnot, publicou uma série de folhetos que traziam a imagem de um inglês corpulento, representativa de um fidalgo camponês. No desenho era acompanhado por uma outra figura, um comerciante de linho, Nicholas Frog, que representaria um holandês, ambos aliados contra Lewis Baboon, por sua vez personificando um francês. Na série desenhada narrava a «História de John Bull» (bull, tem vários significados, o principal dos quais «touro»). A figura obteve grande sucesso e foi interpretada por outros caricaturistas, umas vezes negativamente (bastante estúpido, bronco, pesado), outras, de modo positivo (um honesto e simpático lavrador usando um colete, o Union Jack).
Unidade de energia (J) definida como o trabalho efectuado pela força de um newton quando o seu ponto de aplicação se desloca um metro. Origina-se do nome James Prescott Joule (1818-1889), físico inglês.
A palavra é formada do genitivo de Júpiter, jovis. O seu significado, inicialmente, era «que diz respeito a Júpiter». Mas os astrólogos consideravam que os nascidos sob a influência do planeta Júpiter eram pessoas de temperamento «cordial, alegre, bem-disposto», jovial, em suma (Júpiter, o deus, era considerado a fonte da alegria e do bem-estar dos homens).
Homem traiçoeiro, desleal. Alusão a Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, que vendeu Jesus por trinta moedas de prata.
Diz-se dos naturais da Judeia, nome este que deriva de Judá (Yehudá), quarto filho de Jacob e Lea e fundador da tribo mais poderosa do mundo hebreu.
O nome do mês é proveniente da deusa romana Juno, a mulher de Júpiter, que representava, simbolicamente, o amor, encarnado no casamento e na maternidade e protegia os partos e os recém-nascidos.
Ver Agosto.
Diz-se de algo que surge ilógico, absurdo, incongruente, como as situações em que se debatem os protagonistas do romancista checo de língua alemã Franz Kafka (1883-1924).
Espingarda de assalto, quiçá a mais popular de todas as guerras e guerrilhas dos últimos cinquenta anos do século XX, também conhecida por AK-47 (automática Kalashnikov). Quem a desenhou, em 1947, foi Mikail Kalashnikov, um armeiro russo.