O segundo Conde de Rochester (1647-80) foi um dos mais famosos rebeldes políticos de seu tempo, além de ser conhecido também por suas poesias românticas e humorísticas, que criticavam os costumes da sociedade da época. Seu estilo de vida, que a Aristocracia considerava leviano e debochado, pois se envolvia constantemente com mulheres casadas, trouxe-lhe inúmeros aborrecimentos, inclusive seu afastamento da Corte.
Muitos boatos maliciosos circulavam em torno do seu nome e seu amigo Etherege, autor de peças teatrais, imortalizou-o no personagem Dorimant,“um verdadeiro demônio com a cara de anjo”.
Rake, o herói deste romance, foi também inspirado na personalidade boêmia do segundo Conde de Rochester.
O Conde de Rochester dirigiu seus quatro cavalos, fazendo-os parar, enquanto observava a admiração no rosto do ajudante.
–Tome conta deles, Jason!– ordenou, enquanto descia da carruagem.
O empregado tocou a campainha e a pesada porta da residência de Lord Langstone, em Park Lane, foi aberta imediatamente por um mordomo, vestido com as cores da família, azul e amarelo.
O Conde conhecia muito bem aquelas cores. Lord Langstone sempre competia nas corridas, onde invariavelmente Rochester o vencia. Era assim em todos os esportes que praticava.
O empregado continuava olhando, admirado, assim como todos os outros criados que permaneciam parados na entrada de mármore da mansão. Não havia nada que os ingleses admirassem mais do que um esportista.
Para os fãs das corridas, o Conde era o 44, rei dos esportes. Comentava-se muito também seu desempenho excelente em outras atividades, mas, destas, as pessoas só falavam aos cochichos.
Quando o mordomo se aproximou, o Conde perguntou:
–A senhora está?
–Sim, senhor. Vou informá-la da sua chegada.
O mordomo seguiu adiante, subindo por uma escadaria pela qual já tinham passado muitas pessoas ilustres, e conduziu o Conde a um salão que tomava toda a extensão da casa.
Parecia um aposento construído especialmente para festas. Os candelabros de cristal refletiam à luz do sol que vinha das janelas. As flores, sem dúvida trazidas da fazenda de Lord Langstone, enchiam o ar com seus perfumes.
O Conde caminhou, preguiçosamente, pelo tapete e, só depois que o mordomo fechou a porta atrás de si, viu que não estava sozinho. No outro extremo do salão, arrumando algumas flores, havia uma jovem distraída, só percebeu sua presença quando ele chegou ao meio do aposento. Virou-se e o olhou diretamente nos olhos.
A expressão, para surpresa dele, era de medo.
O Conde estava acostumado a receber os mais variados olhares, de mulheres de todas as idades. Mas nunca tinha sido olhado com medo A expressão mais comum era de adoração.
Notou que a menina, ela não passava disso, estava extremamente perturbada e rapidamente, pegou as flores que ainda não tinha colocado no vaso e começou a andar em direção à porta.
Entretanto, para sair dali, precisava passar pelo Conde. Quando se aproximou mais, ele viu que era uma moça muito bonita, de uma beleza suave. Devia ter dezessete ou dezoito anos, avaliou, com olhos experientes e estava vestida com uma roupa bem simples e ligeiramente fora de moda. Na cintura fininha, usava uma faixa de cetim azul.
–Acho que devo me apresentar– disse, quando ela parou a poucos centímetros de distância.
–Eu sei… quem é, meu senhor– murmurou, pouco à vontade–, e eu… eu não devia estar aqui. Estou… com medo… de ter perdido a noção do tempo.
–Não. Na verdade, cheguei um pouco cedo.
E era verdade. Tinha dirigido os cavalos com tanta rapidez, pelo parque, que estava pelo menos vinte minutos adiantado para o encontro marcado com Lady Langstone.
–Eu… eu preciso… ir.
As palavras eram quase um murmúrio, mas ele as ouviu, e deu dois passos na direção da porta, interceptando o caminho.
–Antes que você saia, e como já sabe quem eu sou, acho justo que me diga quem é.
Ela o olhou e novamente seus olhos estavam cheios de medo.
Como se sentisse que era obrigada a responder, disse:
–Eu sou… Ofélia Langstone, meu senhor.
–Está me dizendo que é a filha de Lord Langstone?
–Sim, senhor.
–Mas, do primeiro casamento, naturalmente?
–Sim, senhor.
–Então, acho que sua madrasta vai apresentá-la à sociedade nesta estação, não é? Ou você ainda está na escola?
Houve um intervalo de silêncio. Depois, com um tremor na voz, Ofélia respondeu:
–Eu… não serei apresentada, senhor!
O Conde ergueu as sobrancelhas, espantado. Ao mesmo tempo, lembrou-se de Lady Langstone. Claro, ela não gostaria de acompanhar uma enteada. Principalmente, sendo tão bonita.
Ofélia olhou para a porta e depois para o Conde.
Ele ficou esperando a reação dela, achando que possuía uma beleza estranha, diferente, mais ligada ao passado do que ao presente. Não tinha nada em comum com o tipo de beleza em moda na época, ditado pela duquesa de Devonshire, nem a atração da mulher madura, tão divulgada pela Sra. Fitzherbert.
Seu rosto era clássico, oval, com um nariz muito reto e os lábios formando curvas perfeitas. Tinha algo de espiritual que dificilmente se encontra em moças tão jovens.
O Conde era um conhecedor de mulheres. Escolhia suas amantes do mesmo modo como julgava seus cavalos ou selecionava um bom prato c um ótimo vinho. Ficou imaginando onde já teria visto aquele rosto e aquela moça que tinha atraído sua atenção desde que entrara no aposento.
Percebeu que ela parecia ter algo a lhe dizer e olhava amedrontada para a porta, como se sentisse medo de que alguém entrasse. A voz dela saiu baixinha.
–Posso… pedir… uma coisa… ao senhor?
–Naturalmente.
–Lembra-se de Jem Bullet– o Conde franziu a testa. O nome lhe parecia familiar, mas não conseguia situá-lo.
–Jem Bullet?
–Foi seu cavaleiro… seu empregado… há alguns anos.
–Oh, mas é claro! Jem Bullet! Um ótimo cavaleiro. Ganhou várias corridas para mim.
–Então, pode… fazer algo… por ele… agora?
O Conde estava confuso.
–Fazer algo por ele? Mas esse homem deixou de ser meu empregado.
–Ele sofreu um acidente.
– Oh, sim! Agora me lembro. Ele teve um acidente. Eu o aposentei.
– Sem nenhuma pensão!
–Isto, não é verdade.
A voz do Conde estava agressiva.
–Nunca, em toda a minha vida, Srta. Langstone, e isto é absoluta verdade, aposentei um homem ou uma mulher que me tivessem servido bem, sem lhes garantir o futuro.
–Mas não Jem Bullet.
Agora, a voz dela tinha um tom que o Conde percebeu ser de crítica. Abriu a boca para responder, mas naquele momento ouviu um som do lado de fora da porta. A jovem á sua frente começou a dizer, em uma voz que ele mal conseguia ouvir tudo.
–Por favor, por favor, não conte à minha madrasta que… falou comigo.
Estava quase chorando, sem dúvida, de medo. Então, com a leveza e a rapidez de uma brisa, ela passou por ele, antes que a porta fosse aberta.
Mas a pessoa que temia não estava lá. Era apenas o mordomo.
Ofélia passou por ele, sem uma palavra, e desapareceu no interior da casa.
–A senhora pede que me acompanhe– disse o mordomo–, ela pede que o senhor venha até o seu boudoir, a pequena sala íntima, perto do quarto.
Era o que o Conde esperava. Seguiu o mordomo.
No caminho, descobriu-se tentando ver algum sinal de Ofélia, mas só percebeu o silêncio da casa imensa e o roçar dos próprios passos nos tapetes.
–Jem Bullet!
Pronunciou o nome baixinho, lembrando agora perfeitamente do homem inteligente, que montava seus cavalos e sempre ganhava todos os prêmios.
Lembrou-se do acidente. Tinha-se sentido triste e desapontado, ao saber que Jem Bullet não poderia mais montar, mas naturalmente, havia providenciado uma garantia para seu futuro, como sempre fazia.
Ficou imaginando como Ofélia havia recebido aquela informação falsa, e porque estaria preocupada com os empregados de outras pessoas. Pensando nela, percebeu que sabia bem pouco sobre os Langstone. A não ser que, Lady Langstone o perseguia há algum tempo.
Para o Conde, não era nenhuma novidade, ser perseguido, por aquele tipo de mulher. Era um alívio saber, que as mães de mocinhas casadouras o evitavam a qualquer custo. Tinha até ficado um pouco desconcertado, quando foi aceito na melhor sociedade da Corte.
Só seus melhores amigos, e eram bem poucos, conheciam a personalidade complexa de Gerald Wilmot e os motivos que o levaram a escolher o Condado de Rochester, quando o Rei lhe ofereceu um título.
Todos os antigos senhores de Rochester, tinham fama de galanteria e rebeldia. A começar pelo primeiro Conde, descrito por seus biógrafos como “bravo, humano e um boêmio de bom coração”.
Gerald não só admirava esse homem que havia vivido cem anos antes, como também se identificava com seus problemas familiares. Ambos tiveram mães puritanas e dominadoras que censuravam seus excessos de bebedeiras, e de certa forma eram as responsáveis por eles.
As coincidências não paravam aí, como o primeiro Conde, Gerald também ocupava um cargo na Câmara dos Lordes, que assumiu aos vinte e um anos, depois da morte de seu pai, Lord Wilmot, e se interessava bastante pela Marinha.
Denunciava apaixonadamente a política com que a Marinha estava sendo conduzida, com os marinheiros demitidos ou aposentados, logo após a assinatura do Tratado de Amiens, em março de 1802.
Entretanto, muito antes disso, já havia-se distinguido por sua bravura e imaginação.
Tinha trazido, com toda segurança, um grande número de fugitivos da Revolução Francesa, cujas cabeças estavam ameaçadas pela guilhotina.
Foi como recompensa por esse feito que o Rei George III lhe ofereceu um título. Sem hesitar, sabendo que deixaria a mãe furiosa, Gerald Wilmot respondeu:
–Se Sua Majestade não se importa, quero ser o novo Conde de Rochester.
Na ocasião, o título estava sem herdeiro e o condado quase extinto, e o ex-estudante boêmio, que os colegas de Oxford chamavam de Gerald “Rake” Wilmot, preparou-se para seguir os passos de seu antecessor. Principalmente, ao que tudo indicava, em relação às damas.
Levava uma vida alegre, despreocupada, com amigos em toda parte e principalmente na corte do Príncipe de Gales e da Rainha, que, aliás, o considerava libertino demais para ser uma boa companhia para o jovem Príncipe.
Se o primeiro Conde, John, tinha sido um demônio com as mulheres, “Rake” levava sobre ele a vantagem de ser um homem extremamente bonito, que combinava a audácia com o cinismo, um sorriso simpático e uma língua ferina.
Só numa coisa eram completamente diferentes. John tinha-se apaixonado por Elizabeth Barry, a quem dedicou poesias, e não havia na vida do atual Conde ninguém que inspirasse versos como os que o outro escreveu: “Eu só lhe estou fazendo justiça, amando-a, como nunca mulher alguma foi amada”.
Às vezes, Earl encontrava alguém atraente, mas nenhuma dama ouvira dele o que Elizabeth Barry ouvira de John:
“Quando com a arte do amor sem resistência, com seus olhos ela me escravizou”.
Rake nunca se tinha sentido assim. Nunca havia sido escravizado por uma mulher, nem tinha o menor desejo de o ser. As mulheres eram um divertimento, serviam para o riso, para o seu desejo, e nada mais. Viu claramente o inferno que a mãe tinha feito da vida do pai e jurou que aquilo não aconteceria com ele.
Passava de um caso de amor para outro, com uma rapidez e uma naturalidade que assustavam as mães protetoras. Não havia donzela na Corte que já não tivesse sido advertida pelos pais:
–Quero deixar uma coisa bem clara; se, por má sorte, você estiver na mesma festa que Rake Rochester, evite-o. Se me desobedecer, será mandada embora de Londres no dia seguinte.
Entretanto, as mulheres sofisticadas, com maridos distraídos, sempre o olhavam com um ar curioso.
O Conde sabia que podia escolher quem lhe agradasse, mas todas lhe pareciam muito cansativas e, com o tempo, foi ficando cada vez mais aborrecido com elas.
Durante a juventude, se dedicava seriamente a suas conquistas. Depois, a facilidade delas o deixou enfastiado. Agora, só queria uma coisa; que as mulheres não o aborrecessem.
Por causa disso, tinha resistido tanto tempo aos avanços de Lady Langstone. Mas Circe, como ela própria se havia apelidado, era muito persistente.
Escolhera este apelido para esquecer o nome banal de Adelaide Charlotte, que parecia não combinar com sua ambição de poder sobre os homens. Um poder considerável.
Circe, exercia sobre eles o mesmo fascínio que Rake sobre as mulheres. Trocava de amantes com frequência, descartando-se deles assim que a aborreciam ou cansavam, e estava sempre à procura de uma nova conquista. Era uma das mulheres mais diabolicamente atraentes e o Conde reconhecia isso. Tinha olhos imensos, misteriosos, cabelo vermelho escuro e os lábios sorriam cheios de promessas. Possuía algo de felino, mas quando desejava alguém, enfeitiçava a vítima, feita uma cobra.
–Ela é a cobra do paraíso– uma vez uma mulher tinha declarado, furiosa–, se aquela serpente tivesse nome, seria Circe!
Mais de uma dúzia de mulheres pensava da mesma forma, ao ver seus maridos dominados, seus filhos com o coração partido e a confusão emocional causada por Circe, que prosseguia intacta, vitoriosa.
Sobre ela, circulavam muitas histórias, e o Conde, às vezes, pensava que seria uma rival à altura na luta do amor. Com ela, precisaria ser cuidadoso, para não perder a batalha.
Bem, mas não tencionava competir com ninguém.
Seus dias de juventude tinham firmado a reputação de conquistador. Possuía glórias e críticas suficientes. Era, no fundo, um rebelde, não propriamente um leviano, como diziam. Só seguia sua própria vontade e não se importava com o que os outros pensavam.
Quando queria uma mulher, tomava-a. Não precisava fazer disso um acontecimento público, um carnaval.
Na noite anterior, quando Circe Langstone o convidou, de modo muito casual, para visitar sua casa, sabia exatamente o que ela queria.
–Vou receber alguns amigos– disse–, teria muito prazer em vê-lo, se não tiver nada melhor a fazer.
Era um modo muito artificial, para que o Conde acreditasse na pureza das intenções dela e não lesse, nas entrelinhas, um convite bem diferente. Na última hora, ele sabia, os amigos não compareceriam “por motivos pessoais” e se encontraria sozinho com a anfitriã.
Olhou-a de cima a baixo. Estava com um colar de esmeraldas que brilhavam do mesmo modo que seus olhos verdes. De repente, desejou saber como realmente, ela era. Se na verdade seria assim tão má como a reputação que tinha.
À reputação de uma mulher, o Conde pensou, pode ser construída em bases muito frágeis. Um boato pode ser exagerado tanto que se torna algo pior e mais depravado que as profundezas do inferno.
Circe parecia um pouco diabólica. Rake achou que os olhares lânguidos por baixo dos cílios longos e escurecidos eram tão artificiais como as coisas que ela dizia. Seria um erro não procurar conhecer todo o repertório dela.
–Estou treinando alguns cavalos– respondeu–, e se tiver vontade, como espero ter, e passar por Park Lane, vou me dar a honra de aceitar o seu convite.
Falou com seu cinismo habitual e olhou nos olhos da mulher, deixando bem claro que, no último momento, podia mudar de ideia e não aparecer, e que também, não estava lisonjeado nem muito interessado pelo convite.
Agora que estava ali, tudo acontecera como já esperava… com exceção de Ofélia.
Quando a porta do boudoir se abriu, sentia-se confuso, pensando no que teria acontecido com Jem Bullet e por que a garota havia dito que não recebia nenhuma pensão.
Lá em cima, em um pequeno quarto, nos fundos, Ofélia perguntou a si mesma como podia ter se comportado de modo tão louco e estúpido, ao se encontrar, sozinha, com o Conde de Rochester.
Sabia que a madrasta ia ficar furiosa, se soubesse. Agora, só podia rezar para que Bateson, o mordomo, tivesse suficiente tato e não dissesse que o Conde a havia encontrado arrumando as flores.
Na verdade, naquele dia arrumou mais flores do que normalmente. Por isso, sabia que a visita do Conde era importante.
Ofélia podia adivinhar a importância dos homens que a madrasta recebia, pela quantidade de flores que comprava.
Hoje, havia mais do que nunca. Depois de arrumar os vasos do boudoir da madrasta, arrumaria ainda os dos salões Entretanto, ela dizia a si mesma que devia ter observado o relógio, pois sabia que tinha que desaparecer dali, antes que o Conde fosse levado lá em cima.
–Como pude ser tão idiota?
Olhou o espelho, apreensiva. Não estava preocupada com seu próprio rosto, mas com a face contorcida de ódio da madrasta, que lhe dava medo, quase terror.
Ofélia sentiu-se aterrorizada, ciciante da ira da mulher que havia tomado o lugar de sua mãe. Era inteligente bastante, para saber que Circe não a punia pelos erros que cometia, e sim por ser atraente demais para uma enteada.
Antes de sair da escola, já fazia ideia de como seria sua vida. Mas suas previsões não eram tão horríveis quanto a realidade. Agora, depois de três meses vivendo com uma mulher que a odiava, Ofélia imaginava quanto tempo ainda conseguiria aguentar.
Nada do que fazia estava certo. E sempre que a madrasta a olhava, era com olhos cruéis e os lábios apertados. Não adiantava recorrer ao pai. Tudo que dizia era desmentido pela madrasta e o pai acreditava na esposa.
Depois de dois anos de casados, ele continuava apaixonado, completamente dominado por aquela mulher que o escravizara, mal a esposa tinha sido sepultada.
Ofélia não sabia, mas muita gente percebeu que George Langstone enviuvou no momento certo para Circe Drayton.
O marido dela, um bêbado, havia morrido em duelo e o amante da época desaparecera imediatamente, porque não queria casar.
Homens que gostavam de visitá-la e cortejá-la, quando o marido não estava em casa, oferecendo joias e vestidos, se recusavam a dar o que mais desejava; uma aliança de casamento.
Sem dinheiro, sem amigas e com uma posição precária na sociedade, Circe olhou em volta, desesperada, procurando alguém que a salvassse e encontrou George Langstone.
Ele era uma presa fácil, encantador, educado, esportista e rico. Um homem que sempre pensava o melhor de seus semelhantes. Circe concentrou nele todos os seus encantos, e alguns diziam até que havia usado magia negra para conquistá-lo. Segundo os boatos, Circe invocava o diabo, e logo a história se espalhou rapidamente.
–Minha querida, ela é uma bruxa!– as mulheres comentavam.
–Como Henry poderia evitar? Você sabe como ele é simples, nunca iria lutar contra bruxaria!
Se não era Henry, era Leopold, Alexander, Lionel ou outros.
Os homens pareciam coelhos hipnotizados por uma serpente, quando olhavam nos olhos de Circe, ficavam encantados, até que ela não mais os desejasse.
Foi Lady Harriet Sherwood, sua amante, que fez com que o Conde se interessasse por Lady Langstone, pois ele próprio não tinha nenhuma intenção de seguir o destino de outras vítimas.
–Ela é cheia de truques!– Harriet tinha dito, furiosa–, John foi dominado por ela e tenho certeza de que tudo isso é resultado de magia negra!
–Acredita mesmo nestas bobagens?
–Mas você conhece John! Ele é o melhor irmão que alguém pode ter. É calmo, sensível e nunca antes se importou com mais ninguém, a não ser com a esposa e a filha.
–Talvez tenha chegado a hora dele resolver fazer algumas farras– o Conde comentou, cínico.
–Farras? Aos trinta e quatro anos? Ele já passou desta fase há muito tempo! Não é culpa dele! É aquela mulher. A bruxa. Ele não tem jeito de escapar dela!
Harriet se aborrecera por causa do irmão. Denunciou Circe Langstone e a magia negra com tanta fúria, que o Conde sentiu-se curioso.
Tinha percebido o convite nos olhos dela, desde a primeira vez que a olhara. Sabia também que o modo como aquela mulher procurava ignorá-lo, era um desafio que muitos homens achavam irresistível.
Agora, finalmente, ele estava sucumbindo, mas, não iria muito longe, disse a si mesmo. Só queria fazer um reconhecimento do terreno e ver se suas suspeitas eram verdadeiras ou falsas. Se ela tinha mesmo tanto poder de sedução ou tudo não passava de boato.
Para Ofélia, ele era apenas mais um, na longa sequência de amantes da madrasta. Sentia-se mal em ver o quanto Circe traía o marido.
Tudo que acreditava ser do mais sagrado, era desprezado por aquela mulher que tinha tomado o lugar de sua mãe, aquela mulher que dormia na cama de sua mãe e usava suas joias.
Circe odiava a enteada. Ofélia desprezava a madrasta que era capaz de descer tão baixo, mas sentia também um medo físico, algo que nunca havia sentido antes.
Agora, estava apreensiva, angustiada, sentindo uma dor no peito, imaginando o que aconteceria, se o Conde dissesse a Circe que ela lhe havia falado sobre Jem Bullet. Ao mesmo tempo, achava que tinha sido muito corajosa, pois talvez ele pudesse ainda salvar aquele pobre homem, que estava quase morrendo de fome.
Foi a própria filha de Jem, que muitas vezes ajudava Ofélia a se vestir e pentear, quem lhe contara sobre as condições de penúria a que fora reduzido.
–Acho que um cavalheiro como o Conde de Rochester– Emily tinha dito–, devia ter mais consideração e não deixar o meu pobre pai morrer de fome, depois de servi-lo durante tantos anos.
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