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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 JoAnn Ross

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Trinta noites, n.º 4 - Avril 2014

Título original: Thirty Nights

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2003

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Paixão e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5163-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Prólogo

 

Cambridge, Massachusetts

 

Para um turista qualquer o jardim verde do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, situado à beira do rio Charles, constituía um cenário idílico. Contudo, pelo menos neste caso, as aparências enganavam. No interior do venerável edifício de tijolo vermelho, coberto por um anexo de hera, ocorria uma autêntica batalha campal de palavras.

Hunter St. John estava de tal maneira furioso que de bom grado estrangularia o homem que, equivocadamente, julgara como sendo sábio até àquele momento. Se estivesse na Idade da Pedra, provavelmente, tê-lo-ia feito. Mas na sua qualidade de homem civilizado, via-se obrigado a lutar simplesmente com a sua palavra.

– Você roubou-me a investigação para a utilizar em benefício próprio.

– Outra vez a mesma conversa: que melodramático! – respondeu o homem mais velho, fazendo um gesto de desprezo. – Às vezes fico preocupado consigo, John.

– O projecto da fusão genética era meu – insistiu Hunter.

– Você é o meu investigador auxiliar e tudo o que faça, enquanto for estudante investigador, pertence-me. Incluindo essa experienciazita com genes...

– Com essa «experienciazita» ganhou um prémio de investigação do Instituto Nacional de Saúde...

– Foi muito bem merecido – Cassidy adoptou uma expressão de grada satisfação.

– Era o meu projecto. Eu fui o único autor, eu concebi-o, eu trabalhei nele quando não me encontrava ao seu serviço, a ajudá-lo nas suas investigações, roubando horas ao meu sono. Não tinha o direito de mo usurpar – para assombro de Hunter, Cassidy teve a ousadia de sorrir.

– Você é um jovem brilhante, John. Receio, no entanto, que lhe falte contenção emocional para triunfar no campo da investigação. Um cientista deve manter a cabeça fria em qualquer situação. Por isso, lamentavelmente, terei de comunicar à administração que não me parece conveniente que continue aqui a trabalhar comigo.

Hunter sempre soubera que George Cassidy era uma pessoa profundamente egoísta, mas aquela traição superava tudo o que imaginara e vira até então.

– Quer dizer que depois de me ter roubado o projecto... dá-me um pontapé?

– Essa não é exactamente a expressão que eu usaria, mas, se quiser, serve.

Uma fúria que nunca tinha sentido fez estremecer Hunter. Cerrou os punhos para não descarregar a sua força na cara daquele miserável.

– Tenho vontade de o matar!

– Oh, não me parece que tivesse coragem para fazer isso – desafiou Cassidy. – Ainda é muito jovem, Hunter, nos seus tenros vinte anos...

– Tenho vinte e um anos – Hunter seguira os brilhantes passos do seu pai e já era licenciado em Medicina pela Universidade de Harvard. Naquele momento, fazia um mestrado em Bioquímica no Instituto Tecnológico de Massachusetts. O projecto de fusão genética que tão mesquinhamente lhe tinha sido roubado por Cassidy constituía a sua tese de doutoramento.

– Continua a ser um novato nestas coisas. Pode continuar a trabalhar em qualquer outro projecto.

– Tinha um projecto pessoal até você mo ter roubado.

– Na verdade, meu rapaz, essa escolha para o fim em vista é tão inadequada como reiterativa – aparentemente aborrecido com aquela conversa, Cassidy abriu uma jaula, tirou um coelho branco do seu interior, e preparou-se para lhe extrair uma amostra de sangue.

Mas não era da natureza de Hunter render-se sem luta.

– Eu posso falar com a administração e contar-lhes o que me fez.

– E em quem acreditariam? Em si, um estudante que foi expulso de duas escolas devido ao seu temperamento arrebatado? Ou em mim, um respeitado, reconhecido e galardoado cientista que, inclusivamente, foi várias vezes nomeado para o prémio Nobel?

Ambos sabiam a resposta àquela pergunta. E sabiam também que o tempo de estágio de Hunter naquele instituto terminara. Um fim abrupto e nada glorioso.

– Se alguma vez chegar a dominar as suas violentas emoções – acrescentou Cassidy no meio do denso silêncio que se abateu sobre o laboratório, – é possível que se converta num dos melhores cientistas do nosso tempo. Há, no entanto, uma coisa que precisa de aprender.

– O que é? – inquiriu Hunter. Estava quase a afogar-se em raiva.

– O mundo lá fora é uma selva, por isso todos se devoram uns aos outros – concluiu, enquanto acariciava com gesto ausente o branco e suave pêlo do coelho. – Só sobrevivem aqueles que melhor se conseguem adaptar.

«E os mais traidores», pensou Hunter. O que mais o irritava, mais do que o roubo do próprio do projecto, era que semelhante traição tivesse sido obra do homem em quem tanto tinha confiado. Um homem a quem, ingenuamente, tinha chegado a considerar quase como um pai adoptivo.

– Vai pagar-mas, isso pode ter a certeza.

– Talvez – respondeu, imperturbável. – Enquanto isso, não se esqueça de fechar a porta quando sair. Não gostaria que os coelhos apanhassem uma constipação.

Cego de raiva, Hunter saiu apressadamente do laboratório. Nem sequer pensou no facto de ter andado com a jovem filha de Cassidy.

 

 

Vestida com o recatado uniforme do colégio, blusa branca e saia verde plissada, Gillian Cassidy apertou os livros contra o peito ao ver Hunter St. John afastar-se a passos largos.

Ia-se embora. Sabia que o pai e ele já tinham discutido muitas vezes, mas agora tinha o pressentimento de que Hunter já não voltaria. Mordendo o lábio para conter o involuntário gemido que lhe subiu à garganta, fechou os olhos e apoiou-se contra a parede coberta de hera. Ainda que percebesse que o seu afamado pai sabia tudo o que havia para saber sobre o corpo humano, de repente acabava de fazer uma descoberta sobre si própria... sem necessidade de lhe pedir ajuda.

Só tinha doze anos, mas Gillian sabia agora perfeitamente bem o muito que doía ter o coração partido.

1

 

Rio de Janeiro

Treze anos depois

 

A cidade do Rio tinha um ritmo contagiante, para além de uma beleza própria, única. Os cariocas viviam aceleradamente e saboreavam a vida com prazer, como era evidente depois da meia-noite, quando gente singularmente atractiva inundava as ruas e fazia abarrotar bares e discotecas.

O camarim de Gillian Cassidy desfrutava de uma esplendorosa vista sobre a baía de Guanabara, mas, naquele instante, a sua atenção não estava concentrada nas luzes que rodeavam o famoso Pão de Açúcar. Em vez do céu, analisava, com o seu manager o concerto nocturno que acabava de dar. Era o seu primeiro concerto de piano no Rio e ainda lhe faltavam quatro actuações durante as duas noites seguintes antes de voltar para a Austrália.

O quarto estava cheio de flores. Havia, por exemplo, um sofisticado ramos de lilases e gladíolos da direcção do teatro. E outro verdadeiramente espectacular de papoilas gigantes e aves do paraíso, do embaixador dos Estados Unidos, que tinha voado de La Paz para assistir ao concerto. O resto das flores era de admiradores e seguidores de todo o país.

– O que é que achaste da iluminação? – perguntou-lhe, enquanto se sentava em frente ao toucador. Tinha tirado o vestido preto de noite e vestira um cómodo roupão.

– Pareceu-me perfeita. Como sempre – assegurou-lhe Deke Feller. Abriu o bar e tirou uma garrafa de cerveja brasileira para ele e outra de água mineral para Gillian.

– Não achas que a luz do tema dos Sonhos era um bocadinho fria? – perguntou, enquanto começava a pôr creme no rosto.

– Já te disse: a mim pareceu-me absolutamente perfeita.

– Continuo a pensar que devia ter sido um pouco mais quente – o cheiro das flores tornava o ar quase irrespirável; começava a doer-lhe a cabeça. Anotou mentalmente que enviaria os ramos para os hospitais mais próximos. – Que tal se acrescentássemos mais cor-de-rosa?

– Cor-de-rosa – repetiu Deke, enquanto tomava notas no seu inseparável caderno.

– Não concordas? – olhou-o no espelho.

– Insisto é que me pareceu magnífica, não tenho nada contra. Mas tu é que és a estrela.

E Gillian sabia que se a estrela dizia cor-de-rosa, então a equipa de iluminação teria forçosamente que a satisfazer.

– Achas que estou armada em prima-dona caprichosa? – já trabalhava há três anos com Deke e, ao longo desse tempo, ele foi-se transformando no seu melhor amigo. Ao contrário dos outros empregados, que lhe diziam sempre o que ela queria ouvir, sabia que ele era, em todos os momentos, sincero com ela. Por muito crua que fosse a verdade.

– Claro que não – Deke pareceu ficar surpreendido com a pergunta. – Tu és uma perfeccionista, Gilly, e precisamente por isso é que os teus espectáculos têm tanto êxito.

Desde o início da sua carreira, quando era apenas uma pianista esforçada e desconhecida, disposta a fazer carreira num campo dominado por artistas pop e country, Gillian tinha descoberto que a tecnologia era quase tão importante como a própria música. O desafio consistia, por isso, em tentar equilibrar a magia do piano, usando a mais sofisticada tecnologia de som e seguir atentamente as sugestões, sempre bem-vindas, da editora.

Sabia ainda que, por vezes, as pessoas cometiam o erro de pensar que, só porque tinha um aspecto doce e frágil, a sua atitude perante a técnica tinha que ser a mesma. À medida que os anos passaram, crescera e tivera a necessidade de arranjar um representante, um manager, um produtor e toda uma equipa em quem podia confiar. Ainda assim, insistia sempre em ser ela a ter a última palavra nas decisões finais, incluindo os mínimos pormenores, desde as cores das luzes que deviam brilhar nas actuações até ao tipo de letra dos programas dos concertos. Era assim tão mau esforçar-se para nunca decepcionar os seus admiradores?, interrogou-se. Embora admitisse possuir uma quase obsessiva necessidade de controlar todos os aspectos da sua vida. Uma necessidade que tinha surgido há muitos anos, justamente no dia em que o pai lhe telefonara para o colégio na Suíça para a informar, com toda a frieza, de que acabava de se divorciar da «cabra» da sua mãe.

– Além disso – murmurou naquele momento Deke, – como dizia a minha tia Fayrene...

– A que cantou no teatro de Grand Ole?

– Não, essa era a tia Patsy. A tia Fayrene era dona da Batuta do Rebelde, nos arredores de Turkey Gulch.

– Ah, sim! – exclamou Gillian que, por essa altura, já desistira de perceber e penetrar na incontável parentela do seu amigo. – Como poderia esquecer a madame de Turkey Gulch, o bordel mais conhecido de todo o Tenessee?

– Goza, goza, era uma mulher muito inteligente. Dizia que quando tens uma mina de ouro, o truque consiste em não deixar que ninguém faça prospecções sem pagar primeiro. Naturalmente que ela aplicava esse princípio ao seu negócio, mas tu também estás sentada em cima de uma mina de ouro, Gilly. E és a única dona da tua carreira.

Gillian sorriu, divertida.

– Vou ter isso em conta.

 

 

Castle Mountain, Maine

 

Hunter St. John fazia a cama, depois de ter feito amor. A mulher que se deitava com ele era uma especialista em Bioquímica que trabalhava numa localidade perto, popularmente muito conhecida pela «fábrica de cérebros». Toni Maggione era uma mulher inteligente, determinada, sedutora e, para satisfação de Hunter, possuía além disso um comportamento implacavelmente hedonista quando fazia sexo. Tinham-se conhecido há três anos, quando chegou àquela rochosa costa do Maine, depois de ter trabalhado num hospital da Bósnia, com a intenção de se dedicar ao seu último projecto. Recordava-se bem da primeira conversa. Toni tinha-o olhado então como se fosse um animal de laboratório que estivesse a criar para utilizar nas suas investigações sobre o cancro. E Hunter suportara bem o impacto do seu olhar, que sem qualquer pudor incidira na cicatriz do seu rosto parcialmente desfigurado, bem como na dupla pinça que substituía a sua mão esquerda, à espera da horrorizada reacção do costume.

Uma reacção que não chegou a produzir-se, já que a única coisa que pôde ler nos seus belos olhos castanhos foi uma vaga curiosidade.

– Esta manhã morreram-me três ratas! – comentara. – Deverei dizer-lhe que lamento?

– Não é preciso. Já que não serve de nada – franziu os lábios. – Tive uma manhã terrível.

– Apesar de tudo, talvez possa melhorar.

Naquele momento, Toni esboçara um lento e provocador sorriso.

– Pois, então, deve adivinhar. Porque era precisamente isso o que estava a pensar.

Abanando as ancas de forma provocante, dirigiu-se para a porta para a fechar à chave. Depois, sem deixar de sorrir, voltou-se para ele e começou a tirar a roupa. Sem esperar um convite verbal, Hunter imitou-a.

Desde então, esses encontros repetiram-se a uma média de três a quatro vezes por semana. A doutora Antoinette Maggione parecia utilizar o sexo para aliviar a implacável pressão do trabalho. E Hunter sentia-se mais do que disposto a proporcionar-lhe esse alívio.

– Quase me esquecia. Trouxe-te um presente – disse-lhe ela.

– Um presente?

– Não te assustes, querido – sorriu, ao detectar aquele tom de inequívoco alarme na sua voz. Metendo-se na cama, fez-lhe umas carinhosas carícias na face que era atravessada pela cicatriz.

– Já deixaste bem claro que não queres que te traga mais presentes pelo Natal. Isto é simplesmente uma coisinha que vi numa loja de vídeos no outro dia... – levantou-se, foi à sala e voltou com uma caixa de vídeo com um laço... – Pensei que poderia animar-te um pouco.

– Se pensas num vídeo para me animar, então é porque não estou a fazê-lo muito bem – sentou-se na cama.

– Querido – sorriu de novo, – se não fosses um magnífico amante não me teria esquecido do vídeo dois minutos depois de teres entrado por essa porta. Não é pornografia. É um vídeo de música.

Colocou o vídeo no aparelho e voltou para a cama. Tratava-se de música de piano. Hunter não era um homem muito dado a sonhar acordado, mas aquela música tão doce evocou-lhe de imediato a imagem de um rio sob o sol, deslizando pelas rochas cobertas de musgo até ao mar. No ecrã, uma mulher alta e esbelta sentava-se ao piano, de costas para a câmara, rodeada por um círculo de pedras altíssimas. Uma cabeleira ondulada, com reflexos dourados e acobreados, deslizava pelas costas até à cintura.

– Como terão conseguido autorização para gravar em Stonehenge – reflectiu Hunter em voz alta.

– A Gillian Cassidy pode permitir-se tudo isso dada a sua popularidade. Além disso, com aqueles olhos e expressão, qual seria o burocrata do governo que dizia que não a essa mulher? Também aparecem umas imagens incríveis da costa irlandesa.

– Cassidy?

Hunter sabia que se tratava de um apelido bastante comum. Sobretudo na costa Este, onde se tinham estabelecido tantos emigrantes irlandeses. Mas... por acaso, não tinha George Cassidy uma filha? Recordava vagamente uma adolescente gorducha e ruiva.

– Se saísses algumas vezes do laboratório, saberias que Gillian Cassidy é por si só um acontecimento musical. O ano passado um tema seu, Machu Pichu, foi número um nos topes em vários países.

Não podia ser aquela rapariga. A ideia de que um canalha, tão frio e insensível como George Cassidy, tivesse feito um ser capaz de suscitar tanto sentimento com o seu virtuosismo com aquele piano... era inconcebível. Mas, de repente, apareceu no ecrã um primeiro plano da pianista. E Hunter levantou-se para se aproximar mais do ecrã.

Ficou paralisado a contemplar aqueles olhos verdes com longuíssimas pestanas, que lhe eram estranhos e ao mesmo tempo familiares. Por muito incrível que fosse, era ela. A filha de Cassidy tinha certamente crescido. E como se recordava daqueles olhos grandes, antes escondidos por uns óculos, levemente rasgados, como os de um gato. Tinha a pele tão branca como o alabastro. Quando um leve sopro da brisa fez ondear a sua cabeleira, Hunter experimentou um estranho desejo.

Parecia tão frágil como o cristal. Mas a música que criavam aquelas mãos era poderosa na sua beleza. E maravilhosamente embriagante.

Parecia ter herdado a paixão da mãe. Hunter lembrava-se da terceira mulher de George Cassidy, Irene, como uma mulher muito mais jovem, espontânea e desinibida, que o marido.

Ainda que tanto um como o outro tivessem compartilhado a mesma implacável agressividade na hora de satisfazer os seus desejos. E, naquele tempo, Irene Cassidy desejara descaradamente Hunter.

– Bom, comprei o vídeo para te pôr de bom humor, mais... sensual – pronunciou Toni, divertida. – Mas o que nunca esperei é que acabaria por competir com ela pela tua atenção.

– Não digas parvoíces. Tu não tens rival, querida – e atraiu-a a si para a beijar com mais carinho que desejo.

Era em momentos como aquele, com o corpo saciado e a mente deliciosamente aturdida, livre de toda a encenação romântica, que Hunter compreendia que pelo menos George Cassidy tivera razão numa coisa. Os sentimentos eram uma complicação desnecessária: debilitavam as pessoas, tornavam-nas vulneráveis.

Durante os treze anos que tinham decorrido desde que deixara o Instituto Tecnológico de Massachusetts, Hunter sobrevivera, e inclusivamente triunfara, à força de enterrar e ocultar os seus sentimentos, ao ponto de já não se parecer em nada com o jovem idealista que fora. Pelo menos, por isso, devia estar agradecido a Cassidy.

Enquanto Toni voltava a aconchegar-se contra ele, o seu pensamento não deixava de voltar a Cassidy e à filha, cuja imagem lhe tinha recordado um daqueles etéreos anjos pintados nos frescos das catedrais renascentistas. Não conseguia evitar questionar-se sobre se seria tão inocente e virginal como aparentava. Achava estranho que assim fosse, a julgar pela paixão que era capaz de despertar com a sua música.

Mas o contraste da paixão e da inocência não podia ser mais atractivo. O que é que se sentiria ao arrancar gritos e gemidos de paixão de prazer daquela jovem tão serena e delicada? De repente, Hunter, que apesar de tudo não tinha usufruído de qualquer tipo de vocação desde o azarado dia em que deixou o Instituto Tecnológico de Massachusetts, compreendeu exactamente o que queria no Natal.

Queria Gillian Cassidy. E, graças ao que sabia sobre o seu pai, estava decidido a consegui-la.