Editado por Harlequin Ibérica.
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© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
A oferta do rebelde, n.º 68 - agosto 2017
Título original: Rebel’s Bargain
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-9170-224-5
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Se gostou deste livro…
– Chegarei no primeiro voo que encontrar.
Orsino não ignorou a preocupação na voz do irmão. Supunha que era algo normal depois de saber que o irmão gémeo quase morrera.
Depois de anos a participar em todo o tipo de desportos de alto risco, a sua sorte mudara. Ter de enfrentar a sua própria mortalidade e uma possível incapacidade permanente fizera com que parasse para reavaliar a sua vida.
– Não há pressa, Lucca – replicou Orsino, mudando o telefone de orelha.
Tremeu de dor quando tocou, sem querer, nas ligaduras que cobriam a sua cabeça.
– Não há nada que possas fazer por mim. Além disso, sei que, se vieres, te dedicarás a seduzir as enfermeiras em vez de tomar conta de mim – troçou, para tentar aliviar o tom.
– Como podes dizer isso? – perguntou Lucca. – Já não sou assim, sou um homem novo. Agora, só há uma mulher no mundo para mim e é uma princesa. Uma princesa a sério.
Orsino resmungou ao ouvir as palavras do irmão. Não conseguia habituar-se àquele novo homem tão apaixonado e feliz em que parecia ter-se transformado.
– Além disso, as enfermeiras já terão bastante contigo. Já tens o número de telefone da mais bonita?
Quase lhe disse que não sabia como era o pessoal que o atendia. Achava que era um detalhe que Lucca não precisava de saber, só se fosse absolutamente necessário.
– Dos dois, tu és o sedutor, Lucca, esqueceste-te?
– Vá lá, Orsino, estás a falar comigo, vi como as mulheres reagem quando te veem. Embora não saiba porquê. Afinal de contas, eu sou o mais bonito dos dois. Portanto, não me digas que, embora estejas convalescente, não tens de afastar as enfermeiras.
– A verdade é que não – sussurrou ele.
Apertou o telefone com desespero. Sentia-se frustrado e furioso com a sua situação. O pessoal do hospital esforçava-se com ele. Não por causa da sua aparência física, como o irmão dizia, mas porque, ao princípio, nem sequer sabiam se ia conseguir sobreviver.
– Imagino – replicou Lucca, novamente, num tom sério. – É por isso que pelo menos um de nós devia ir. Precisas da tua família.
– A minha família… – repetiu Orsino, sem esconder a amargura.
O mais parecido que tivera com um contacto familiar antes do acidente fora quando o novo diretor-geral contratado pelo pai, Christos Giatrakos, lhe ligara para tentar tirar proveito da sua reputação. Giatrakos pedira-lhe ou, melhor dizendo, exigira, que se transformasse na imagem da empresa familiar. Nunca se dera bem com o pai, mas pensava que, pelo menos, poderia ter-se incomodado em ligar-lhe pessoalmente.
– Bom, sei que estive muito ocupado e não…
– Não me referia a ti, Lucca – interrompeu Orsino. – Lamento. Estou de mau humor. Não estou a habituado a ter de estar sem me mexer. Não devia desabafar contigo. Agradeço a oferta, a sério, mas não há nada que possas fazer aqui.
– Bom, talvez não agora. Mas, quando te derem alta, vais precisar de alguém.
– Estás a oferecer-te para ser a minha enfermeira? – perguntou Orsino, sorrindo. – Valeria a pena aceitar a tua oferta só para te ver disfarçado dessa maneira.
A gargalhada do irmão gémeo do outro lado da linha conseguiu fazer com que se sentisse um pouco melhor.
Até àquela semana, não se apercebera do que era importante na sua vida. E chegara à conclusão de que devia ver o irmão gémeo com mais frequência. Mas não queria fazê-lo até recuperar o suficiente. Não queria que ninguém tivesse de se compadecer dele.
– Porque me subestimas sempre, Orsino? É apenas porque és alguns minutos mais velho do que eu?
– Estou a imaginar-te com uma touca de enfermeira e um avental branco e engomado, Lucca. E é uma ideia que me atrai muito – troçou, sorrindo ao perceber que o irmão voltava a rir-se. – Mas não te preocupes com isso. Encontrarei alguém para me dar uma ajuda quando me derem alta.
– A quem vais ligar? À Lucilla?
– Não, embora já me tenha ligado para saber como estou. A nossa irmã mais velha ainda continua a preocupar-se connosco. E parece que, agora, está muito ocupada por causa do novo diretor-geral. Acho que o Giatrakos está a tornar-lhe a vida impossível.
– Sim… A questão é que precisas de alguém com experiência e de alguém em quem possas confiar.
Orsino teve de se controlar para não se rir. Não podia dizer que confiasse na pessoa que queria que o ajudasse quando lhe dessem alta. Antes pelo contrário.
Não era precisamente em confiança que pensava quando se lembrava de Poppy. No passado, chegara a jurar que não voltaria a vê-la, mas, depois de passar alguns dias preso numa montanha com medo de morrer, mudara de opinião. Essa situação tão extrema dera-lhe uma nova perspetiva. Sabia que nunca mais voltaria a confiar nela e perceber essa realidade dava-lhe uma liberdade e uma segurança incríveis. Mas chegara à conclusão de que Poppy e ele tinham assuntos pendentes e era por isso que continuava a pensar nela. Durante cinco anos, tentara convencer-se de que não devia remexer o passado, mas o acidente dera-lhe a oportunidade de pensar e sabia que não ia podia deixar tudo para trás sem a enfrentar mais uma vez. Porque sabia que ainda havia alguma coisa para resolver antes de se afastar para sempre.
Sabia que Poppy não gostaria de o ver outra vez. Depois do que lhe fizera, achava que seria difícil, mesmo para uma mulher tão valente como ela. Quanto a ter de estar à sua inteira disposição enquanto recuperava…
Não pôde evitar esboçar um sorriso sabendo como sofreria. Mas achava que era uma vingança muito pequena depois do que lhe fizera.
– Não te preocupes comigo, Lucca. A mulher que tenho em mente para me ajudar é perfeita para esse trabalho – disse ao irmão.
Poppy suspirou, com nervosismo, enquanto o táxi avançava entre o trânsito.
Estivera muito assustada desde que ouvira a notícia sobre a avalanche e os dois escaladores que tinham sido feridos. Mesmo os que não conheciam Orsino, tinham sentido medo e admiração pelo que fizera. Ouvira as pessoas a falar dele, mesmo no aeroporto. Uns falavam do seu heroísmo e outros, da sua temeridade.
Não conseguia parar de retorcer as mãos no colo. Não era medo o que sentia naquele momento, era terror. Tinha um nó no estômago.
Passara cinco anos sem ver Orsino, mas não conseguia imaginar um mundo em que não ele estivesse. Não conseguia parar de pensar na sua vitalidade, na sua paixão…
«Meu Deus, a sua paixão!», pensou.
As lembranças invadiram-na por completo, fazendo com que sentisse uma onda de calor. Mas também não se esquecera da sua arrogância nem das suas exigências. A forma como sempre estivera pronto para julgar os outros, ignorando os seus próprios defeitos.
Mesmo assim, apesar dos aspetos negativos, tinha um grande nó na garganta.
A mensagem que recebera do hospital não fora muito informativa, mas fora cortante. Ao recebê-la, o sangue congelara nas veias. Fora suficiente para sair a correr de França para chegar o quanto antes à base da cordilheira dos Himalaias. E fizera a viagem com o coração apertado.
O táxi parou e Poppy olhou para o hospital. Não conseguia controlar o seu pulso acelerado.
Nem sequer pestanejou quando os jornalistas se aproximaram para lhe fazer mil perguntas. Mal as ouviu. Só conseguia pensar no que a esperava no interior.
Os seus passos ecoaram no silêncio do corredor e Poppy estava cada vez mais nervosa.
«Por favor, por favor… Que sobreviva, que continue vivo…», rezava, sem parar.
Tentara convencer-se de que já não sentia nada por Orsino Chatsfield. Há muito que todos os sentimentos negativos que tivera por ele tinham morrido, enterrara-os graças ao seu trabalho. Concentrara-se na sua profissão e conseguira muito sucesso. O trabalho não lhe dera tempo para sentir dor, para se arrepender nem para se sentir culpada. Estava demasiado ocupada.
E vivera assim durante aqueles últimos cinco anos, convencida de que Orsino já não importava. Pelo menos, até ao dia anterior.
Tivera um nó na garganta desde que descobrira que quase morrera numa das montanhas mais inóspitas do mundo. De facto, sabia que podia estar a morrer naquele momento. Mas não queria pensar nisso. Orsino não podia morrer.
Nunca tropeçava, nem sequer quando usava saltos de agulha, mas fê-lo naquele momento. Ela, que dominava as passarelas do mundo, acabara de tropeçar sem motivo aparente.
Chegou finalmente ao último quarto. Respirou fundo e entrou. Mas parou imediatamente ao vê-lo imóvel na cama do hospital. Estava tão quieto que, durante uns segundos horríveis, se questionou se não estaria…
Levou a mão ao coração. Estava tão acelerado que lhe doía o peito. Tinha o olhar fixo na cama. Não recordava tê-lo visto tão quieto. Orsino sempre estivera em movimento, como se tivesse mais energia e força do que os outros.
Só o vira imóvel quando acordava antes dele. Recordou como era bonito, a dormir e completamente relaxado ao seu lado. A intensidade dos sentimentos que tivera por ele chegara a aterrorizá-la.
E chegara à conclusão de que tivera motivos mais do que suficientes para sentir medo. Lamentava não ter confiado nos seus instintos e não ter fugido. Mas tinha de reconhecer que Orsino conseguira deslumbrá-la desde o começo.
Viu que tinha quase todo o corpo ligado. A brancura dos curativos contrastava contra a pele bronzeada. Tinha um braço engessado desde os dedos até ao cotovelo. O outro braço, nu por cima da colcha de algodão, estava cheio de nódoas negras. Também tinha a cabeça ligada. E não só o couro cabeludo, como também os olhos.
Sentiu um aperto no coração ao vê-lo assim.
O queixo e o pescoço eram as únicas partes que ainda conseguia reconhecer. Reparou na sua boca, naqueles lábios finos que conseguiam seduzir qualquer um com um sorriso.
Respirou fundo, tentando não pensar nas palavras que tinham saído daquela boca há cinco anos. Mas o tempo não diminuíra as suas lembranças, continuavam a magoá-la, continuava a sentir-se culpada e indignada.
Engoliu em seco. Interrogou-se se realmente estaria muito mal. Não sabia se podia confiar no que ouvira nas notícias. Sabia que podiam ser pouco credíveis, mas aquelas feridas na cabeça…
– Amindra? És tu? – sussurrou Orsino.
Ficou com falta de ar ao ouvir a voz dele. Parecia muito rouca, como se tivesse passado muito tempo sem falar. Era a sua voz de madrugada, com que a acordara com frequência, murmurando tudo o que queria fazer-lhe enquanto a acariciava com as mãos hábeis. Mas não podia pensar nessas coisas, não entendia o que se passava. Era um alívio ver que estava suficientemente bem para falar.
Estava muito nervosa. Mas, depois de mais de uma década a trabalhar como modelo, era uma perita a esconder as suas emoções por trás de uma máscara de impassibilidade.
O seu olhar pousou naqueles olhos ligados e tremeu, não pôde evitá-lo.
– Enfermeira? – perguntou ele, novamente. – És tu?
– Olá, Orsino.
A sua voz era tão suave e sedutora como a recordava, como a ouvia nos seus sonhos.
Não pôde evitar ficar rígido ao ouvi-la. Tinha o botão de chamada ao lado, podia tocar nele com os dedos, e cheirava a desinfetante. Não estava a sonhar, continuava no hospital.
Sentiu uma dor forte no peito quando as suas costelas magoadas se expandiram de repente. Durante uns segundos, esqueceu-se de que tinha de respirar.
Era ela, estava ali.
Embora estivesse completamente ligado e medicado, conhecera a sua voz imediatamente. Tê-lo-ia feito em qualquer lugar e em qualquer circunstância. Até achara ouvi-la na montanha, por baixo de meia tonelada de neve. Aquela voz gozara com ele e impulsionara-o para que não se desse por vencido. Parecia-lhe muito irónico que imaginasse precisamente a voz daquela mulher para sair dessa situação.
– Quem és? – perguntou ele, embora soubesse.
Sabia que Poppy acabara de abrir a boca, surpreendida, pois ouviu como inalava rapidamente. Tinha a certeza de que ela esperara que reconhecesse imediatamente a sua voz, mas não ia dar-lhe essa satisfação.
Não gostava de a ter ali, achava que viera demasiado depressa. Tinham-lhe prometido que iam tirar-lhe as ligaduras dos olhos naquele dia. Não quisera que Poppy o visse daquela maneira, tão incapacitado na cama e ainda atordoado por causa dos analgésicos fortes.
Não entendia como podia ter chegado até ali tão depressa. Não esperara vê-la até alguns dias mais tarde.
– Sou a Poppy – esclareceu ela.
– Poppy? – repetiu ele.
Não pôde evitar pronunciar o seu nome com mais emoção do que teria querido. Detestava sentir-se assim e não entendia o que se passava.
Sentiu uma onda de calor na pele, algo profundo e inquietante que não queria sentir.
Ver-se tão perto da morte levara-o a reconhecer que ainda tinham coisas para resolver na relação, mas nada podia tê-lo preparado para a explosão de emoções não desejadas que a presença dela conseguira acender no seu interior.
Não pôde evitar pensar que fora um erro pedir ao pessoal do hospital para a avisar.
Não teria sido o primeiro erro que cometia por causa daquela mulher.
– Sim, sou eu – confirmou, de perto da cama. – Como estás?
Orsino procurou os botões para levantar as costas da cama. Não gostava de estar completamente deitado enquanto ela o observava. Fazia com que se sentisse muito vulnerável. Já o incomodava com as enfermeiras e, com ela, era muito pior.
– Deixa-me ajudar-te. O que queres? – perguntou Poppy, aproximando-se dele.
Os seus dedos suaves tocaram nos dele e afastou rapidamente a mão. Pensou que era porque não gostava da tristeza que sentira na sua voz. E achava que o formigueiro que sentia nos dedos se devia aos problemas de congelamento que sofrera nas mãos.
– Orsino?
Cerrou os dentes, mas não pôde evitar que o seu corpo respondesse ao sussurro. Lembrou-se da última vez que tinham estado juntos. Uma lembrança que o apanhou desprevenido e ameaçava fazê-lo perder a compostura.
– Consigo fazê-lo – declarou, com frieza.
Daquela vez, não encontrou a mão quando tentou acionar os controlos da cama. Levantou as costas da cama e demorou uns segundos a acomodar-se na nova posição.
– Espera, posso ajudar.
Poppy falou com segurança e eficiência, num tom frio e preferia-o assim. Mas chegou-lhe um cheiro a framboesas enquanto ajustava as almofadas atrás dele para que ficasse mais confortável. Algo suave tocou-lhe no queixo e estendeu a mão para o apanhar.
Era uma madeixa de cabelo. Suave e elástica, fez-lhe cócegas na palma da mão. Puxou-a ligeiramente e sentiu que lhe chegava o calor daquela mulher, como se tivesse tido de se inclinar para ele. Engoliu em seco ao ver-se rodeado do seu cheiro.
Sabia que tinha de soltar o seu cabelo, mas os seus dedos não responderam. Não pôde evitar imaginar uma cascata de caracóis castanhos sobre os seus ombros pálidos.
– Deixaste crescer o cabelo.
Sempre a conhecera com o cabelo curto, uma imagem que lhe dera um ar de fragilidade juvenil, reforçado ainda mais pelos seus olhos impressionantes e um rosto que parecia esculpido. Conseguira prender a atenção do público, fora a cara mais fresca e inocente do mundo da moda. Mas ele sabia que não era inocente.
– Sim, queria mudar de imagem – confirmou, com brusquidão.
Orsino soltou o seu cabelo. Questionou-se se essa mudança de imagem teria tido lugar quando se tinham separado. Durante cinco anos, evitara todo o tipo de revistas em que Poppy pudesse aparecer e não era o momento de fazer perguntas. Não queria que ela despertasse a sua curiosidade.
Nem a sua libido. Mas acontecera, não podia negá-lo. Apesar do estado em que estava, o seu corpo respondera ao cheiro feminino e ao som da sua voz, reagindo com demasiada intensidade. Tirava-o do sério que Poppy ainda tivesse esse poder sobre ele.
Recostou-se contra as almofadas, tentando aumentar a distância entre eles, mas o cheiro dela perseguia-o. Pensara que, quando Poppy fosse vê-lo, já estaria mais recuperado, que seria capaz de a ver.
– Como estás, Orsino?
– Porque me perguntas isso? Estás preocupada comigo?
Ela não respondeu, mas sentiu que havia ainda mais tensão no ar. Deu-lhe a impressão de que ela também estava a tentar controlar a situação e que o frustrava não conseguir vê-la.
– Todos querem saber como estás. Transformaste-te numa espécie de herói internacional depois de te salvares e ao teu companheiro.
– Foi por isso que vieste tão depressa, para aproveitar o interesse mediático que suscitei, não é?
Durante a sua relação, os paparazzi não tinham parado de os perseguir. Algumas revistas referiam-se a eles como «o casal do ano». Demorara a perceber que era a própria Poppy que precisava de ter sempre a atenção dos meios de comunicação social.
– Vejo que não mudaste, Orsino. Sempre a julgar as pessoas, os meros mortais.
Ignorou as suas palavras. Não sabia o que dizer. Achava que ele tinha razão e ela não.
Também pensava que Poppy tivera muita sorte por ele ser um homem civilizado. Sabia que os outros homens não se teriam ido embora como ele, que se teriam vingado depois do que lhe fizera.
– Mudaste, Poppy? – perguntou ele.
– Claro que mudei – respondeu Poppy, enquanto passeava pelo quarto. – Já não tenho vinte e três anos e sou uma mulher independente, segura e capaz.
– Sempre foste autossuficiente – murmurou ele. – Nunca precisavas de ninguém, pois não, Poppy? Só se essas pessoas estivessem dispostas a fazer o que querias. Continuas a usar as pessoas?
– Olha quem fala! Oferecias alguma coisa? Partilhavas? – inquiriu, zangada.
Percebeu que parecia agitada. Gostou de não ser o único que não conseguia controlar as emoções.
– O que recordo é ter tido de ser sempre eu a dar sem receber – declarou ele. – Ofereci-te dinheiro, prestígio e os meus contactos.
Poppy não disse nada para se defender e ficaram uns segundos em silêncio.
Apercebeu-se de, pelo menos, mudara um pouco. Antes, o seu caráter apaixonado dominara-a por completo, mas acabava de lhe demonstrar que aprendera a render-se.
E, sem saber porquê, sentiu-se muito dececionado.
– Bom, está claro que não querias que viesse – declarou ela, finalmente, num tom de derrota. – Contactar comigo deve ter sido erro do hospital.
– Não, não foi um erro. Mas deviam ter esperado um pouco mais. Ainda não preciso de ti.
– O que queres dizer? Está claro que não precisas de mim.
Percebeu que parecia confusa e sorriu. Depois de tanto tempo e do que aquela mulher fizera, adorava tê-la exatamente onde queria.
– Mas precisarei de ti quando sair daqui. Quem melhor do que a minha esposa para cuidar de mim?