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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Kathryn Ross

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sede de vingança, n.º 1105 - agosto 2017

Título original: The Greek Tycoon’s Innocent Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-255-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Nicholas Karamanlis não demorou a localizar a sua presa. Embora o salão de baile estivesse repleto de convidados do casamento, ele viu-a imediatamente. Estava ligeiramente afastada das pessoas que se amontoavam entre a zona do bar e a pista de dança, e o seu isolamento entre a multidão chamou-lhe a atenção.

Durante um momento, contentou-se em observá-la da janela do terraço. As luzes brilhantes de discoteca giravam e espalhavam a sua luz sobre a cabeleira comprida e loira, e iluminavam-na com milhares de tons que se espalhavam pela sua figura elegante dentro de um vestido verde e comprido.

Ela virou-se e os seus olhares encontraram-se. Ele ficou momentaneamente enfeitiçado pela sua beleza. As fotografias que o detective privado tirara não lhe faziam justiça.

Olharam-se fixamente durante o que pareceu uma eternidade e ele sentiu uma explosão repentina de adrenalina. O facto de ser desejável acrescentava um encanto agradável à sua tarefa.

Cat desviou o olhar perante a chegada dos seus amigos. Estava habituada a que os homens olhassem para ela, mas havia algo diferente no olhar escuro e intenso daquele homem. Não se tratava simplesmente de ser muito bonito, mas da maneira como olhava para ela, como um caçador que vigia a sua presa. De repente, sentiu-se vulnerável e, ao mesmo tempo, sem fôlego. Nunca se sentira assim e isso inquietava-a. Inclusive rodeada dos seus amigos, sentia o pulsar forte do coração, quase tão estrondoso como a bateria da orquestra.

Enquanto tentava pensar noutra coisa, bebeu um gole de água. Certamente, era apenas calor. Londres estava a sofrer uma onda de calor e, apesar de ser quase meia-noite e de todas as portas e janelas da sala estarem abertas, a temperatura rondava os trinta graus.

Também podia dever-se a, ultimamente, se mostrar muito receosa com os homens. Cada vez que alguém lhe dirigia a palavra, ela perguntava-se se teria sido enviado pelo seu pai ou pelo seu meio-irmão. Era uma loucura, mas, quanto mais se aproximava o seu vigésimo primeiro aniversário, mais forte era aquela sensação de desconfiança e ansiedade. Faltavam três meses para o seu aniversário e estava desejosa que acontecesse. Desejava poder esquecê-lo o quanto antes.

Pensou, com tristeza, que não deveria sentir-se assim. Deveria ser uma data desejável, um momento feliz em família. Se a sua mãe fosse viva, as coisas seriam diferentes, mas a única família que lhe restava era o seu pai e o seu meio-irmão, Michael, e a única coisa que os obcecava era a quantia de dinheiro que ela herdaria se cumprisse os requisitos do testamento do seu avô e se casasse antes do seu aniversário. No que lhes dizia respeito, ela não passava de um peão. Se mexessem a peça para o casamento… Xeque-mate, o dinheiro chegaria em abundância. Mas ela não se casaria por dinheiro, preferia ir para o inferno a entrar no jogo deles. E dissera-o claramente, embora eles não lhe tivessem prestado muita atenção.

Porque é que o seu pai não podia ser obcecado pela felicidade da sua filha? Era pedir muito?

A pergunta despertou as sombras do passado. Estavam no seu interior e faziam-lhe sentir a solidão aguda que sentia desde a infância. Aquela sensação nunca desaparecia, nem sequer numa sala cheia de gente. Era a maldição do dinheiro McKenzie.

– Ouve, Cat, apetece-te dançar? – alguns dos seus amigos arrastaram-na até à pista de dança.

Agradecida pela interrupção, Cat deixou-se levar por eles.

Durante alguns minutos, ela conseguiu esquecer e foi absorvida pela música. Estava ali, junto do resto dos empregados da empresa de publicidade onde trabalhava há três meses, para festejar o casamento dos seus colegas, Claire e Martin. O casal casara-se nas Caraíbas na semana anterior e, naquele momento, celebravam uma festa num hotel luxuoso de Knightsbridge. Cat via-os no meio da pista, abraçados, enquanto dançavam lentamente, apesar de o ritmo da música ser muito animado.

«O amor devia ser assim», pensou Cat. Se calhar, um dia ela encontraria alguém que a fizesse sentir-se assim. Alguém que a amasse, alguém em quem pudesse confiar. Um ano antes, ela achara ter encontrado essa pessoa, Ryan Malone, atraente e encantador, o qual, a pouco e pouco, a enfeitiçara e fizera pensar que era definitivo. Depois, descobrira que Ryan era sócio do seu irmão e que o único interesse que tinha em casar-se com ela era a sua herança. Ainda lhe custava recordá-lo e, desde então, ela tornara-se muito mais precavida com os homens.

Ela virou-se e, sem querer, dirigiu o olhar para o terraço, onde estivera aquele homem. Tinha a sensação estranha de que os seus olhos continuavam fixos nela. Mas ele não estava ali, nem em lado nenhum. Era óbvio que o imaginara. Tentou afastar aquela sensação para se concentrar na música, mas não conseguia esquecer o olhar escuro e profundamente intenso.

Nicholas observava Cat da sua posição de vantagem. Dançava bem, com movimentos ágeis e um ritmo natural muito sexy. Recordou ter ouvido uma vez que «se se dança bem, é-se bom no sexo». Se calhar, poderia verificar essa teoria mais tarde. Ansiava o momento de a sentir a mexer-se sensualmente por debaixo dele. Possuir aquele corpo curvilíneo seria um verdadeiro prazer.

No entanto, devia evitar precipitar-se. Tinha de avaliar cuidadosamente a situação para saber quem se aproximava dela. Queria saber se o seu pai ou o seu irmão tinham algum espião ali. Certamente, quereriam proteger a valiosa herdeira. Tinham três meses para obterem a herança. Ele sabia que Cat era tão ambiciosa como o resto da família e, sem dúvida, os três estariam decididos a pôr as suas mãos naquele dinheiro.

Pois bem, Nicholas tinha outros planos. Enquanto ele vivesse, não permitiria que tivessem aquele dinheiro. Só serviria para provocar mais destruição.

A simples menção do apelido McKenzie fazia-o estremecer como se uma cobra lhe tivesse mordido. Carter McKenzie era uma cobra, um réptil sigiloso, manipulador e desonesto. Oito anos antes, Nicholas cometera o erro de confiar nele. Carter mentira-lhe e enganara-o. Por sua causa, Nicholas perdera muito dinheiro a tentar resolver a situação, mas, o que mais o enfurecera fora que estivera prestes a perder algo muito mais importante do que o dinheiro. Carter tentara despojá-lo da sua reputação… e quase conseguira.

Aprendera a lição à força. Desde então, Nicholas erguera um império que o tornara mais rico do que jamais sonhara, mas não esquecera o seu antigo inimigo. Demorara o seu tempo a observar e à espera do momento certo. Confirmara que o filho e a filha de Carter McKenzie eram iguais ao seu pai. Michael McKenzie era apenas um artista pouco conhecido e Catherine… financiara-lhes um negócio escuro após outro e igualava-os em ambição.

Segundo a informação que tinha, não restava muito dinheiro do fundo de que ela dispunha e, sem o resto da herança McKenzie, não poderia financiá-los durante muito mais tempo.

Nicholas sonhava com esse dia, porque tinha intenção de intervir, de seduzir Catherine McKenzie e de recuperar o que era dele. Carter arrepender-se-ia de se ter cruzado no seu caminho. A vingança seria muito doce.

Cat abandonou a pista de dança e, com determinação discreta, ele seguiu-a, surpreendido ao ver que se dirigia a toda a pressa para a porta principal. Parecia que, de repente, fugia de alguma coisa.

Instantes depois, Cat parou no exterior. A rua estava estranhamente deserta, inclusive o porteiro que estivera de serviço horas antes partira.

Longe da multidão, ela sentiu-se melhor e pareceu-lhe absurdo o ataque de pânico que sentira na pista de dança. Como é claro, ninguém a vigiava. Mesmo assim, só queria voltar para a segurança do seu apartamento.

Havia uma paragem de táxis no passeio em frente e ela saíra com a intenção de entrar no primeiro e sair dali, mas a paragem estava deserta. Para além do som das folhas das árvores que se mexiam ao compasso de uma brisa suave, só havia silêncio. Cat remexeu na mala, tirou o telemóvel e chamou um táxi. Depois, dirigiu-se novamente para o hotel para esperar.

Ao virar-se, tropeçou num jovem vestido com umas calças de ganga e uma t-shirt. Durante um segundo, ela esteve prestes a desculpar-se por não o ter visto, mas, de repente, ele empurrou-a bruscamente, enquanto agarrava na sua mala e no seu telemóvel. Em pânico, Cat teve consciência de que estava a ser assaltada.

O telefone foi-lhe arrancado com facilidade, mas ela agarrou-se instintivamente à mala e ofereceu resistência. Ainda teve tempo de ver o seu rosto, antes de a mala lhe ser arrancada e o jovem desatar a correr. No entanto, não chegou muito longe, pois, um segundo depois, caiu pesadamente sobre no passeio. Cat ouviu o corpo a cair e o som do telemóvel e do conteúdo da mala ao espalhar-se no chão.

Então, viu uma forma escura que saía das sombras. Alguém agarrara o assaltante.

– Eu não o faria – disse um homem, enquanto pisava a mão do jovem, que tentava recuperar a mala. – A polícia está a caminho.

O jovem não esperou mais. Num segundo, estava de pé e abandonava o lugar a toda a pressa, enquanto os seus passos ecoavam na rua deserta.

– Está bem? – o salvador baixou-se para apanhar os pertences de Cat e ela percebeu a calma, e o ligeiro sotaque, na sua voz profunda. Ao endireitar-se, ela viu perfeitamente o seu rosto, iluminado por uma luz. Uns olhos escuros e intensos encontraram-se com os seus. Era o homem que estivera a observá-la minutos antes.

Calculou que teria cerca de trinta e dois anos. O seu cabelo era preto, espesso e liso. Era muito atraente, mas não do modo habitual, mas de um modo duro e perigoso. Tudo nele, desde os olhos pretos até aos lábios sensuais, transmitia poder e controlo.

– Acho que sim – ela teve noção de que ele esperava uma resposta. – Obrigada por me ajudar.

– Não devia ter lutado pela mala, poderia tê-la magoado – disse ele. – A vida é mais importante do que uma simples posse.

Tinha razão e ela começava a dar-se conta do que poderia ter-lhe acontecido. Ele entregou-lhe a mala e a mão de Cat tremeu ligeiramente.

– Vamos entrar no hotel – disse ele, com voz amável, embora lhe agarrasse no braço com força.

Cat não tentou resistir e deixou-se levar de volta para a segurança do hotel. Havia uma força nele que a afligia e o contacto da mão sobre a sua pele produziu-lhe um calafrio. Era uma sensação que não entendia. Afinal, já não corria perigo… ou corria?

– Senhor Karamanlis, está tudo bem? – perguntou o recepcionista, quando entraram no hall.

Não passou despercebido a Cat que conhecesse o apelido do homem. Também reparou que, cada vez que falava, os empregados ficavam tensos. O gerente do hotel apareceu, telefonaram à polícia e, de repente, ela encontrou-se a caminho do elevador.

– Pode esperar pela polícia lá em cima, na minha suíte privada.

Não era um convite, mas uma ordem. A porta do elevador fechou-se e encontraram-se sozinhos no espaço reduzido.

Ela olhou para ele nos olhos e sentiu novamente uma sensação de alerta. Não conseguia identificar os sentimentos que lhe provocava. Era algo mais do que a habitual cautela que sentia perante os homens.

Cat não compreendia como um estranho podia produzir tal efeito nela. Se calhar, devia-se ao facto de ser tremendamente atraente, do tipo mediterrânico. Se calhar, devia-se ao modo como olhava para ela, como se tentasse decifrar os segredos da sua alma.

Ele carregou no botão do último andar e começaram a subir em silêncio. Nicholas viu-a apoiar a cabeça contra o espelho. Parecia jovem, pálida e frágil. Tinha uns olhos cor de jade, que olhavam fixamente para ele.

Não era o que ele esperara e isso inquietava-o. Nunca imaginara que sentiria a necessidade de a proteger, mas sentira-o ao devolver-lhe os seus pertences e aquele momento de fraqueza irritava-o. Tratava-se da filha de Carter McKenzie, recordou a si mesmo. Sabia bem que aquela mulher era tão traiçoeira e ardilosa como o resto da sua família. Lera os relatórios do detective e não permitiria que aquele ar de vulnerabilidade o distraísse da sua missão de vingança.

– É muito… amável da sua parte – Cat quebrou o silêncio, enquanto tentava recuperar a calma.

– É um prazer – disse ele, com voz melosa.

Havia um tom cínico na sua expressão, ou seria imaginação sua?

– Vi-o na festa – disse ela, com os olhos semicerrados. – Conhece Martin e Claire?

– Não.

A simplicidade da resposta fez com que o pânico se apoderasse dela. Acertara na sua primeira impressão? O seu irmão enviara-o?

– Então, o que fazia na festa?

– Posso fazer o que quiser, visto que sou o dono do hotel.

– Ah, estou a ver! – era lógico, dado aquele ar de superioridade com que se passeava por ali. Ela sentiu-se como uma estúpida por ter pensado que o seu irmão tivera alguma coisa a ver. Se era o dono daquele hotel, devia ser um homem muito rico e poderoso, e não o tipo de pessoa que cumpria ordens de outra.

– O meu nome é Nicholas Karamanlis – apresentou-se ele, enquanto procurava alguma expressão de reconhecimento no rosto dela. Oito anos antes, ele fora sócio do seu pai e, embora nunca se tivessem visto, se calhar o nome era-lhe familiar. Mas ela nem sequer pestanejou.

– Cat McKenzie – disse, enquanto lhe estendia a mão.

Ele hesitou antes de lhe apertar a mão e, quando o fez, provocou uma descarga de calafrios no corpo de Cat.

Os seus olhares fundiram-se e ela perguntou-se se ele teria sentido a química sensual entre eles ou se seria apenas imaginação sua.

Trémula, soltou-se, aliviada ao ver que as portas do elevador se abriam, libertando-a da intensidade da situação.

Nicholas sorriu para si enquanto a acompanhava até à suíte. Até àquele momento, a noite ia de vento em popa.

Era evidente que ela não fazia ideia de quem era ele.

Planeara seduzi-la durante a semana seguinte, já que sabia que o seu pai estaria fora do país, o que diminuiria o risco de ser descoberto. Mas, quando o detective privado o informara de que Cat iria à festa de um casamento num dos seus hotéis, decidira antecipar os seus planos e chegara de Atenas naquela tarde.

E, naquele momento, alegrava-se de se ter arriscado. Além disso, tinha pouco tempo.

A situação do ladrão fora muito oportuna e a imensa beleza de Cat, que despertara o seu desejo de a levar para a cama, só melhorava a situação.

Seria muito fácil vingar-se.

O peixe mordera o anzol. Só faltava puxar a linha.

Capítulo 2

 

A suíte de Nicholas parecia umas águas-furtadas. De design ultramoderno, o chão era de mármore preto e os sofás, brancos e redondos, estavam situados de modo a aproveitar a vista sobre Londres.

– Este lugar é fabuloso! – comentou Cat, colada à janela, enquanto admirava o jardim e a piscina.

– Não é mau – admitiu Nicholas, embora olhasse para ela e não para a paisagem. O vestido de seda verde colava-se às curvas do seu corpo, um corpo muito desejável. A cintura fina poderia ser abrangida pelas suas mãos grandes e os seios convidavam a que a boca de um homem os explorasse. Só de pensar nisso, Nicholas excitou-se. – Tenho uma suíte assim em cada um dos meus hotéis. É útil por motivos profissionais, embora, como viajo tanto, mal as utilize.

– E onde se considera em casa? – ela olhou para ele com curiosidade.

– Tenho uma casa na ilha de Creta – respondeu ele.

– É grego – foi uma observação, mais do que uma pergunta. – Creta é um lugar bonito.

– Já esteve lá?

– Sim, o meu avô tinha uma villa nos subúrbios de Xania e, em jovem, passava as férias lá.

Durante um instante, ela recordou a beleza daquela mansão perto do mar. Adorara os Verões naquele lugar, rodeada de amor e de felicidade. Depois, acontecera o acidente e a sua mãe morrera. Cat não tinha mais de dez anos, mas, desde o dia em que o carro do seu pai perdera o controlo naquela estrada, a sua vida também sofrera uma reviravolta. E Creta deixara de ser um lugar de lembranças felizes.

– Esteve lá recentemente? – Nicholas percebeu a seriedade do rosto dela e, por algum motivo, sentiu o impulso de a consolar e afugentar as nuvens escuras.

Cat não queria sequer pensar na sua visita no ano anterior. O seu pai obrigara-a a afiançar o seu irmão num negócio ruinoso. Ao chegar lá, descobrira que Michael cometera deliberadamente uma fraude e ela passara uma semana à procura das pessoas que defraudara para lhes devolver o dinheiro.

– Ultimamente, não tenho tempo para férias.

Nicholas percebeu a sua hesitação. Não lhe mentira, simplesmente omitira a verdade. Ele sabia pelas suas fontes que voltara a Creta no ano anterior, para apoiar economicamente o seu irmão num dos seus negócios. O detective privado tirara fotografias das suas visitas às vítimas da fraude. Pouco depois, e depois de Cat voltar para Londres, tinham cometido uma fraude ainda maior. Era algo que não devia esquecer. Ela era uma verdadeira McKenzie. Todos eles pareciam ter o hábito de mentir por omissão.

Cat surpreendeu-se ao perceber um brilho nos olhos escuros que olhavam fixamente para ela e sentiu um calafrio.

– Devia voltar lá – disse, enquanto lhe virava as costas. A ligeireza na voz contrastava com a intensidade feroz do olhar. – Vou preparar um uísque. Apetece-lhe beber alguma coisa? – perguntou ele. – Talvez um brandy, dizem que é bom depois de se sofrer um abalo.

– Não. Estou bem, obrigada.

– Deduzo que se sinta melhor.

– Acima de tudo, sinto-me envergonhada.

– Envergonhada? – ele arqueou um sobrolho.

– Por ter causado esta confusão toda. Devia ter ido para casa. Não me roubaram nada e a polícia não poderá fazer grande coisa. Aquele tipo já estará longe.

– Isso não tem nada a ver. Se o apanharem, evitarão que outra pessoa passe pelo mesmo.

– Suponho que sim.

Ela contemplou-o enquanto ele se servia de uma bebida. O fato escuro parecia caro e realçava os seus ombros largos. Cat não conseguiu evitar apreciar o físico impressionante daquele homem, musculado e torneado, que dava a impressão de ser capaz de lidar com qualquer situação.

Não podia negar que o considerava tremendamente atraente, mas não era o seu tipo. Tinha demasiado dinheiro e poder. Ela crescera rodeada de riqueza e não gostara, nem gostava de como transformava as pessoas. Sem dúvida, era um tipo arrogante que conseguia sempre o que desejava. E tinha um ar perigoso, que o fazia desconfiar intensamente dele.

O homem parecia observá-la atentamente e, embora não lhe tocasse, de repente teve consciência de uma certa intimidade. Quase sentia os olhos pretos percorrerem o seu rosto e pararem nos seus lábios. Inconscientemente, Cat humedeceu-os, enquanto o seu coração acelerava.

À medida que o olhar dele descia, ela sentiu os seus seios endurecerem contra a seda do vestido. Era uma sensação muito estranha. Por muito que insistisse que ele não era o seu tipo, o corpo de Cat parecia não fazer caso. O ardor do desejo sexual aumentava no seu interior com intensidade. Ela desejava que lhe tocasse… que a beijasse. Na verdade, queria algo mais. Desejava partilhar com ele uma intimidade que jamais conhecera. Era uma loucura!

– Parece-me que o fiz perder muito tempo – disse ela, depois de engolir com dificuldade e enquanto rezava para que a sua voz não revelasse a ansiedade que sentia. – Quanto tempo demorará a polícia a chegar?

– É sexta-feira à noite e a chamada não foi de urgência – ele encolheu os ombros.

– Acho que devia ir-me embora – ela tentava pensar racionalmente, mas sentia que o pânico a dominava. Nicholas Karamanlis provocava-lhe um efeito estranho e, se ficasse, poderia fazer algo que lamentaria mais tarde. Ao abrir a mala, deu-se conta de que as chaves não estavam lá.

– Passa-se alguma coisa? – Nicholas olhava, imperturbável, para ela, enquanto remexia na mala.

– As minhas chaves não estão aqui!

– Apanhei tudo o que havia no passeio – disse Nicholas, com calma.

– Não poderei entrar em minha casa! E não tenho chave sobressalente.

– Bom… Vejamos! De manhã, poderá pedir para que lhe troquem as fechaduras todas. Entretanto, pode ficar aqui – o convite soou muito casual.

– É muito amável da sua parte – ela olhou para ele enquanto ele acabava a sua bebida, – mas sei que o hotel está lotado. Alguns dos meus colegas tentaram reservar um quarto para esta noite.

– Referia-me a que pode ficar na minha suíte – esclareceu ele, enquanto olhava para ela nos olhos.

Houve um longo silêncio durante o qual se sentia a electricidade entre eles. Cat viu que os olhos dele pousavam novamente sobre os seus lábios e o seu coração voltou a pulsar descontrolado. Como seria ir para a cama com aquele homem e ele beijá-la e tocar-lhe de uma maneira íntima? A pergunta fez com que sentisse calor e um desejo intenso de saber a resposta.

Apressadamente, tentou controlar-se. Cat era virgem. Gostaria de dizer que escolhera sê-lo até encontrar a pessoa certa, mas a verdade era muito mais complexa. A verdade era que nenhum homem a fizera sentir o desejo de se entregar por completo.

O único que quase o conseguira, afinal só estava atrás do seu dinheiro, e, felizmente, ela descobrira-o antes. Depois disso, custava-lhe confiar nos outros.