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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Emily Mckaskle

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Regresso à sedução, n.º 1037 - setembro 2017

Título original: The Billionaire’s Bridal Bid

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-314-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Dizem que aceitaste apresentar-te como uma das solteiras para o leilão do fim-de-semana.

Claire Caldiera ergueu o olhar do café que servia a Rudy Wilson, um dos seus clientes habituais, e viu Victor Ballard apoiado no balcão. Em vez de se dar ao trabalho de responder, limitou-se a pegar no pano pendurado no cinto do avental e a passá-lo pela mesa de Rudy.

– Se precisares de mais alguma coisa Rudy, é só pedires – disse, sorrindo para o idoso agricultor e membro do patronato escolar.

– Não te preocupes, querida. Para mim, um donut é suficiente.

Claire assentiu e colocou a cafeteira na máquina. Vic seguiu-a até ao fim do balcão.

Vic era considerado um bom partido na pequena vila onde tinha crescido, mas Claire tinha motivos para saber que era um canalha.

– São só rumores ou finalmente vou ter a oportunidade de sair contigo? – perguntou Vic.

Claire virou-se para ele mas antes percorreu com o olhar a sua cafetaria, Cutie Pies, para ter uns segundos de calma. A meia dúzia de clientes da cafetaria naquele momento estava distraída com os seus consumos e, infelizmente, não precisavam dela. Claire forçou um sorriso.

– É verdade. Amanhã participarei no leilão.

Vic dedicou-lhe um sorriso que teria derretido a maior parte das mulheres da vila. Era uma pena que ela formasse parte da minoria à qual o seu sorriso era indiferente. Por muito que Vic tivesse a mandíbula de um super herói e os seus olhos fossem cor de caramelo como os de um anjo, o seu encanto forçado repugnava-a.

– Ainda bem que ando há algum tempo a poupar – resmungou ele.

Como se isso fosse preciso! Vic vinha de uma das famílias mais abastadas da pequena vila de Palo Verde na Califórnia. Mas não era isso que irritava Claire.

O verdadeiro motivo pelo qual ela não tinha o menor interesse em sair com Vic Ballard era porque ele lhe recordava demasiado Matt que, embora fosse tão atraente como ele, não partilhava da sua fútil arrogância. Para ela, Matt era mil vezes mais interessante. Ou pelo menos era isso que pensava quando era jovem e ingénua. Quando ela tinha dezoito anos, Matt tinha-lhe feito acreditar durante seis semanas que alguém como ele podia amá-la. Tinha conseguido chegar a convencê-la de que um amor como aqueles que acontecem nos contos de fadas era possível. E Claire jamais lhe perdoaria por isso!

Vic Ballard era um cretino, mas tinha sido Matt quem lhe tinha partido o coração.

Claire considerava que tinha tido sorte que fosse Vic quem entrava pelo menos uma vez por semana na sua cafetaria e não Matt, que nunca mais tinha voltado a viver em Palo Verde. Odiava tanto a vila na qual tinha crescido como Claire suspeitava que a odiava a ela.

Desde a ruptura, Matt tinha-se convertido num dos fundadores e director executivo de FMJ Inc., uma empresa de tecnologia extremamente bem-sucedida com sede na Baía de São Francisco.

Matt e os seus colegas da Escola de Negócios, Ford Langley e Jonathan Bagdon tinham criado a empresa quando ainda andavam na universidade. A FMJ já tinha levado a cabo vários projectos empresariais lucrativos.

Tudo isto tinha feito de Matt um homem muito rico e ainda mais inalcançável para ela do que tinha sido no passado, quando era apenas o segundo filho da família mais rica da vila em comparação com ela, que vinha de uma das famílias mais humildes.

– Então os rumores são verdadeiros: vais quebrar finalmente a tua promessa de não sair com ninguém? – perguntou Vic.

– O que é que queres que te diga? – Claire forçou um sorriso. – É por uma boa causa.

A Sociedade de Beneficência de Palo Verde tinha organizado uma gala para angariar fundos para a biblioteca da escola local. O leilão de solteiras era mais apropriado para as jovens da vila do que para uma mulher trabalhadora como ela e Claire não tinha pensado oferecer-se. Mas quando uma das candidatas partiu a perna e o comité da Sociedade lhe tinha pedido para substituí-la, Claire não tinha sido capaz de recusar. Afinal, como é que poderia negar-se a ajudar o desenvolvimento da biblioteca que durante a sua triste infância tinha sido um dos seus santuários? Assim, e embora correndo o risco de que pudesse ter de passar um serão com Vic Ballard, tinha aceitado o convite.

Nem sequer compreendia o interesse que alguém poderia ter em licitar por ela. Vic tinha destroçado a vida da irmã dela, mas isso não o tinha impedido de tentar namoriscar com ela ao longo dos anos. De facto, ele era a principal causa da sua promessa de nunca mais sair com ninguém. Mas, como o seu ego não tinha limites, isso não a tinha intimidado.

Para se consolar, Claire disse a si própria que a sua situação teria sido ainda pior se, em vez dele, quem ameaçasse ganhar a licitação fosse Matt. Se tivesse que escolher entre dois homens desprezíveis para um suposto serão romântico, preferiria passá-lo com alguém que não lhe tivesse partido o coração.

 

 

– Vais apostar mil dólares por… uns queques? – disse uma mulher a Matt, nas suas costas. – Para quem não queria vir, decidiste apostar uma fortuna em queques.

Matt terminou de escrever o número na placa da licitação e ergueu-se antes de se virar. Estava familiarizado com o sarcástico ronronar de Kitty Biedermann. No princípio do ano, a FMJ tinha comprado a joalharia de Kitty. A FMJ estava especializada em empresas de tecnologia, mas a decisão de ampliar o mercado tinha sido rentável. Além disso, Ford tinha conseguido o benefício acrescido de se ter apaixonado e conquistado a atraente Kitty. E Matt invejava-o.

Kitty estava linda como sempre, com um vestido vermelho que parecia que tinha sido pintado sobre o seu corpo e o cabelo caído sobre os seus ombros. A sua beleza eclipsava as outras mulheres. Matt deu-lhe um beijo na face.

– São uns queques especiais – disse.

Kitty devolveu-lhe um sorriso sedutor.

– Devem ser.

Kitty era uma mulher excepcional. Se não fosse a mulher de um dos seus melhores amigos, não tinha hesitado em tentar conquistá-la.

– Quando é que vais deixar o Ford e fugir comigo? – brincou.

Kitty olhou para o seu marido que tinha ido pedir uma bebida ao outro lado do pátio do clube de campo onde se dividiam os campos de golfe e se avistava o contraforte das montanhas de Sierra Nevada.

Ao ver Ford, os olhos de Kitty adoptaram uma expressão de amor tão terna que Matt sentiu uma pressão no peito que não quis analisar.

Nesse momento, o seu gesto transformou-se num despique amigável.

– Já vi que não conseguiste convencer nenhuma das tuas amigas a vir contigo – abanou a cabeça com um sorrisinho de desaprovação. – A culpa é tua por saíres com essas modelos magrinhas de que tanto gostas. Os traseiros delas não aguentam viagens de carro.

Matt não pôde evitar um sorriso.

– Tens razão. Há uma epidemia de modelos demasiado magras.

Kitty sorriu maliciosamente.

– Deviam organizar uma angariação de fundos para alimentá-las.

– Eu próprio organizaria uma se isso quisesse dizer que me livrava desta.

Nesse momento, Ford aproximou-se com as bebidas e deu uma cerveja a Matt.

– Aposto o que quiseres em como está a tentar engatar-te com uma das suas histórias tristes sobre como os pais dele o tratavam mal – disse a Kitty.

Matt sorriu e guardou a placa da licitação no bolso.

– Achas mesmo que eu era capaz de tentar seduzir a tua mulher?

– Claro que sim!

A mãe de Matt interrompeu a conversa.

– Finalmente encontrei-te, querido! O presidente da Sociedade está desejoso de que vos apresente – disse com um entusiasmo artificial ao mesmo tempo que beijava o ar próximo da face de Matt.

– Olá, mamã – disse ele.

A mãe dele franziu o sobrolho mas não disse nada até que Ford e Kitty, depois de a cumprimentar, os deixaram discretamente sozinhos.

– Já te disse mil vezes para não me chamares isso – sussurrou ao seu filho.

– É um nome carinhoso – disse ele com frieza, bebendo um trago de cerveja e arrependendo-se de não ter pedido uma bebida mais forte.

– Isso não é verdade, é um insulto. Sabes que eu não gosto – disse ela, cujo rosto podia ter ficado com um permanente gesto de contrariedade, se não tivesse ficado paralisado pelo botox.

– E tu sabes que eu não gosto que me apresentes aos teus amigos como se eu fosse um troféu.

– Está bem – disse ela, após uma pausa. – Não te apresentarei a ninguém – deu-lhe o braço para percorrer a sala. Não apresentá-lo não significava que não se quisesse exibir ao lado dele. – Espero que tenhas licitado generosamente.

– Com certeza.

A mãe dele abanou a cabeça.

– E como é que a Chloe te vai levar um queque todos os dias se tu vives a três horas de distância daqui?

– Ela descobrirá alguma maneira – Matt olhou à sua volta com a esperança encontrar Ford e Kitty e voltar para junto deles. Ao não os encontrar, apercebeu-se do que a mãe dele acabava de dizer. – O que é que disseste? Doris Ann já não está à frente da Cutie Pies?

Embora não estivesse interessado nas coscuvilhices da vila, tinha pensado ir na manhã seguinte passar um tempo com a radiante mulher que tinha sempre representado para ele a mãe que teria gostado de ter: generosa e amável, apesar da sua aparência brusca.

– Não. Reformou-se há anos. Foi a sobrinha dela que a substituiu: Chloe ou Clarissa… ou qualquer coisa do estilo.

Ao aperceber-se de que Matt parava, Estelle virou-se para ele.

– Passa-se alguma coisa, querido?

Matt abandonou a cabeça.

– Claire. O nome dela é Claire Caldiera – obrigando-se a suportar o olhar inquisitório da sua mãe, Matt encolheu os ombros e acrescentou: – Andava dois anos atrás de mim na escola.

A mãe aceitou a explicação e voltou a dar-lhe o braço.

– Sempre tiveste uma memória incrível para os pormenores.

Matt tentou dissimular a curiosidade que sentia ao dizer:

– Não sabia que tinha voltado.

A última vez que tinha visto Claire ela estava de partida para Nova Iorque para começar uma nova vida cheia de expectativas com Mitch, o namorado. Tinha conhecido Mitch exactamente nas setenta e duas horas antes de o deixar plantado e montar-se na mota de Mitch para procurar novas aventuras. Não era preciso ter uma memória especialmente boa para recordar um episódio desses.

– Voltou há anos.

Matt tinha estado tão ensimesmado nas suas recordações que não se tinha apercebido de que a mãe dele o levava em direcção à cantina onde se celebrava o leilão de solteiras. Enquanto lhe abria a porta, voltou a prestar novamente atenção ao que estava a dizer.

– … mas já conheces o teu irmão: quando mete uma coisa na cabeça não há maneira de o convencer do contrário.

– Sim. É mais teimoso do que uma mula – disse Matt, com aspereza.

O apresentador estava já no palco, agradecendo a todos os participantes a sua colaboração.

– Não sejas desagradável – disse a sua mãe com desaprovação.

– O que é que ele meteu agora na cabeça? – perguntou Matt, ignorando o comentário.

– Aquela rapariga.

Matt olhou para o palco onde seis mulheres elegantemente vestidas esperavam atrás do apresentador como se fossem seis candidatas de um concurso de beleza. Cinco delas eram muito giras, mas não tinham nada de especial. A última era Claire Caldiera. Vê-la teve um efeito duplo, ficou sem ar e ficou com todos os sentidos em alerta mesmo a tempo de ouvir as últimas palavras do sermão da sua mãe.

– E por isso não entendo porque é que quer licitar por essa tal Chloe.

– Claire – Matt corrigiu-a ao mesmo tempo que uma dor silenciosa se alojava no peito dele.

– Ou como raio se chame. O caso é que…

Mas Matt já não estava a ouvir a mãe. Claire não só estava na vila, como estava em frente a ele pronta para ir a leilão.

Então o seu irmão irritante estava decidido a conseguir uma saída com a Claire? O que não sabia é que não ia ser tão fácil.

Afinal, ele e Claire tinham assuntos pendentes.

As luzes do palco cegavam-na e Claire não podia ver a sala. Sentia-se constrangida e teria preferido ser das primeiras a ir a leilão e não a última. Mas quando chegou a sua vez, o público começava a estar impaciente e aumentava o burburinho e o ruído dos talheres nas mesas.

Finalmente, chamaram-na e ela colocou-se ao lado de Rudy Wilson, o apresentador.

– Estás linda! – sussurrou ele, tapando o microfone. Depois, levantou a voz e dirigiu-se ao público: – Em seguida, cavalheiros, temos a beleza local: Claire Caldiera – fez uma pausa para os aplausos e continuou: – Toda a gente sabe que a Claire tinha jurado nunca mais voltar a sair com alguém – o público riu-se. – Poderias dizer-nos porque é que nunca quiseste dar uma oportunidade a nenhum dos homens de Palo Verde?

Claire ficou paralisada à medida que lhe passavam pela cabeça várias respostas: «fiquei farta de que me acusassem de ser uma provocadora por não querer ir para a cama no primeiro encontro». Ou: «as mulheres da minha família têm muito azar com os homens e são muito férteis, pelo que não quis correr riscos.» Ou também: «um imbecil partiu-me o coração há muito tempo e ainda não me recuperei».

Finalmente, encolheu os ombros e disse:

– Acordo às quatro da manhã para fazer os donuts de que tu tanto gostas, Rudy. Nenhum homem gosta de deixar a sua acompanhante em casa antes das seis.

Rudy riu.

– Como vêem, rapazes, esta é vossa única oportunidade de sair com a Claire até tarde – piscou um olho a Claire no meio dos risos do público e ela conseguiu relaxar-se parcialmente. – Está bem, vamos iniciar a licitação em quinhentos dólares.

Claire sentiu que o chão tremia debaixo dos seus pés. Quem é que iria apostar essa quantia por ela?

Quando já estava prestes a sair a correr, alguém da audiência levantou a paleta.

– Quinhentos – disse Rudy. – Alguém dá mais?

Claire sentiu-se ao mesmo tempo aliviada e curiosa. Quem é que teria licitado? Tentou focar o olhar na penumbra da sala e, tal como suspeitava, reconheceu Vic Ballard.

– Quinhentos uma, quinhentos duas…

Claire suspirou, assumindo que teria de se resignar a passar uma noite a tentar escapulir-se dos tentáculos de Vic.

– Quinhentos trê… quinhentos e cinquenta oferece o cavalheiro lá atrás.

O homem em questão tinha levantado a sua placa tão depressa que Claire só viu um clarão branco e os focos impediram-na de ver a parte detrás da sala. Fosse quem fosse, as pessoas reconheceram-no e um burburinho percorreu a sala.

– Alguém oferece seiscentos? Seiscentos?

Vic estava tão à frente que Claire podia ver a cara dele. Deu a volta e olhou por cima do homem. Quando voltou o olhar para a frente, o seu rosto transmitiu-lhe uma pura determinação. Levantou a placa.

– Seiscentos! – anunciou Rudy. – Alguém dá sete…? – antes que pudesse acabar a pergunta, viu a placa ao fundo. – Setecentos! Oitocentos? Oitocentos!

A partir desse momento, a licitação acelerou-se até conseguir que Claire tivesse a cabeça às voltas: mil, mil e quinhentos, dois mil, cinco mil.

Um pesado silêncio caiu sobre a sala. As cabeças dos presentes giravam de um lado para o outro e Claire intuiu que aquela guerra de apostas não tinha nada a ver com ela, mas sim com a rivalidade entre aqueles dois homens. Estavam a dirimir um conflito do passado diante de toda a vila e ela era o prémio.

Ter consciência desse facto fez com que a sua pulsação se acelerasse e cortou-lhe a respiração. Só havia uma pessoa que Vic considerava o seu adversário.

Mas não podia ser Matt que estivesse ali. Nunca pagaria para sair com ela nem dez nem muito menos dez mil dólares que era justamente o montante que Vic acabava de licitar.

Sentiu uma pressão no peito. Era uma quantia disparatada! O outro licitador deve ter pensado a mesma coisa pois a placa não se moveu. Passou um segundo, para Claire pareceu uma eternidade. E depois outro, e outro.

Ao lado dela, Rudy não deixava de aclamar as suas virtudes, tentando animar o leilão. Mas a placa permaneceu imóvel.

– Vais perder esta oportunidade, rapaz? – insistiu Rudy.

Claire não viu se o homem em questão fez algum gesto.

Rudy continuou.

– Vic Ballard conseguiu-a por dez mil dólares uma, dez mil dólares duas.

– Vinte mil – disse o homem que estava atrás, pronunciando um montante que ninguém seria capaz de superar.

E, ao fazê-lo, pôs-se de pé e avançou em frente, saindo da penumbra.

Usava um smoking que parecia feito à medida para o seu corpo alto e robusto. Embora usasse o cabelo curto e não despenteado, Claire reconheceu-o imediatamente e não apenas porque a sua imagem aparecia frequentemente nas revistas cor-de-rosa, mas sim porque fizesse o que fizesse com o seu cabelo ou com a sua forma de vestir, podia reconhecer Matt Ballard quando e onde quer que fosse.

Capítulo Dois

 

Na manhã seguinte, depois da gala de beneficência, Claire acordou com a memória da sua fuga do palco depois de Rudy ter batido com o martelo e dado o leilão por terminado. Não tinha podido suportar a ideia de enfrentar o atónito silêncio e a curiosidade do público.

Ao chegar a casa, tinha fechado a porta à chave, desligado o telemóvel e tinha-se metido na cama. Não obstante, mal tinha pregado olho e pela primeira vez desde que tinha comprado a Cutie Pies à sua tia-avó Doris Ann, ficou feliz por ter de se levantar às quatro da manhã para preparar a massa para fazer os donuts.

Depois da batalha da noite anterior entre os Ballards, toda a vila estaria a perguntar-se o que é que Claire Caldiera teria de especial para atiçar a antiga rivalidade entre Vic e Matt e suspeitava que alguns deles passariam pela cafetaria para tentar averiguar pessoalmente. Ao menos, podia tentar vender-lhes uns donuts.

Cutie Pies era uma cafetaria clássica dos anos cinquenta, com mesas de formica vermelha com vista para a rua e bancos de aço inoxidável com assentos de couro no balcão. Podia ver-se a cozinha desde o balcão através de um grande vão por onde Claire controlava também a sala enquanto cozinhava.

Assim que chegou, acendeu o rádio e, se não fosse pelas luzes de algum carro que passava ocasionalmente, parecia ser a única habitante do planeta. Enquanto mexia a massa e cantarolava uma canção, tentou convencer-se de que a sua vida não tinha sido minimamente afectada nas últimas vinte e quatro horas.

De facto, chegou a pensar que o que aconteceu no leilão também não era tão importante e que só a obrigava a sair uma noite com um homem. Um homem que ela odiava! Embora, na realidade, também não o odiasse. A única coisa que acontecia era que preferia não voltar a vê-lo nunca mais na vida.

Era o primeiro homem a quem tinha confiado o seu coração e ele tinha-o partido em cacos. Representava cada uma das decisões erradas que tinha tomado na sua vida. Cada erro, cada sacrifício. Só de o ver, vinha-lhe à mente todos os caminhos que devia ter evitado. E, naquele momento, a última coisa que necessitava era de se recriminar pelo seu passado.

Remexeu com força a massa dos donuts usando uma espátula, meteu o dedo e provou enquanto analisava as opções de que dispunha: a primeira era apertar os dentes e aguentar-se; a segunda era contratar um gorila para acabar com Matt Ballard, a terceira era fazer as malas e fugir de Palo Verde.

A terceira era a mais tentadora.