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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Kim Lawrence

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A filha secreta, n.º 1681 - Junho 2016

Título original: Her Nine Month Confession

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin

Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8299-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Londres. Há três anos

 

Eram seis da manhã quando Lily acordou graças ao seu relógio interno, uma peculiaridade genética inconveniente que a acordava sempre àquela hora. Sabia que não conseguiria voltar a dormir, mas, durante uns segundos, resistiu a afastar o lençol fino que separava o sono da vigília.

Além disso, nunca se atrasava e conseguia avançar muito naquelas horas, antes de o resto do mundo ou, pelo menos, de o seu bairro ruidoso, acordar.

Sossegou a voz interior tediosa que insistia em ver sempre as coisas de maneira positiva e afastou um matagal de madeixas da cara. Ali deitada, com o braço por cima da cabeça, concentrou-se no ressentimento que sentia pelas pessoas capazes de se virar e voltar a dormir, como a irmã gémea, Lara, que conseguia continuar a dormir, mesmo que houvesse um terremoto. Ela, no entanto, não era capaz e acontecia o mesmo todas as manhãs…

Embora aquela fosse diferente.

Franziu o sobrolho, havia algo diferente naquela manhã, mas o quê?

Dormira mais do que o habitual?

Fechou os olhos e estendeu a mão para o telemóvel que tinha na mesa de cabeceira. Bateu em vários objetos antes de o encontrar e, então, abriu um olho, olhou para o ecrã e levou o aparelho ao peito nu. Nu! Era relevante? Não, o problema não era estar nua nem as horas.

Então, o que era?

Olhou à volta. Não estava no seu quarto.

Ao aperceber-se disso, começou a recordar. Sentia-se como se tivesse corrido uma maratona, coisa que não fizera e, provavelmente, nunca faria, mas na noite anterior… Na noite anterior!

Esbugalhou os olhos ao recordar o que acontecera na noite anterior.

Levou uma mão ao seio esquerdo porque tinha o coração acelerado e, depois, virou a cabeça devagar. E se estivesse a sonhar? Cerrou os dentes, preparando-se para uma deceção que não chegou.

Suspirou. Não era um sonho, era real. Ele era real.

Pestanejou para focar o rosto que havia ao seu lado e o seu corpo sentiu desejo ao assimilar as feições simétricas, gravando cada detalhe na sua memória. Embora nunca fosse capaz de o esquecer ou à noite anterior!

Tinha um rosto que inspirava um segundo olhar e até um terceiro. A estrutura óssea daquele homem parecia esculpida, tinha a testa larga, inteligente, as maçãs do rosto marcadas, o queixo quadrado e sensual, as sobrancelhas escuras e bem definidas, o nariz aquilino e uma boca ampla e expressiva. Se tivesse de escolher uma das características, escolheria os olhos.

Por baixo daquelas pálpebras e emoldurados por umas pestanas tão escuras como o seu cabelo havia uns olhos azuis, do azul mais elétrico que Lily alguma vez vira.

Ao olhar para o seu rosto naquele momento, pareceu-lhe diferente e, depois de pensar por uns segundos, apercebeu-se de que era por causa da falta de energia que havia nele, como um campo de força invisível que o rodeava quando estava acordado.

Dizer que parecia vulnerável teria sido muito, mas parecia mais jovem. As lembranças misturaram-se com uma nostalgia pintada de cor-de-rosa que não sentira da primeira vez que o vira.

Embora soubesse quem era, é óbvio. Na quinta em que o pai fora jardineiro e na vila, falara-se muito de Benedict, o menino nascido num berço de ouro, o menino mimado do seu avô orgulhoso. Enquanto todos tinham adorado a ideia de ele se mudar para a casa grande, Lily albergara um ressentimento silencioso e crescente.

Warren Court, uma das quintas privadas mais importantes do país era a menos de quinhentos metros da casa onde ela vivia. Embora já soubesse que, em todos os aspetos, estavam em universos diferentes. Portanto, Lily estivera completamente pronta e até decidida a não gostar do menino rico.

Então, o pai falecera e ela esquecera Benedict. Nem sequer o vira ao lado do avô no funeral. Lily pensara que ninguém a via e fora-se embora do cemitério para ir até ao lago para onde atirara pedras com o pai.

Algo que ele nunca mais voltaria a fazer.

Pegara numa pedra grande e sentira o seu peso na mão antes de a atirar. E sentira o seu coração como aquela pedra, a afundar-se na água. Depois, atirara mais algumas, até o braço lhe doer e o rosto ficar banhado pelas lágrimas. Então, ouvira alguém chegar atrás dela.

– Assim não, precisas de uma pedra plana e tudo depende do movimento do pulso. Olha…

E a pedra saltara pela água.

– Não sei fazê-lo.

– Claro que sabes. É fácil.

– Não sei! – exclamara ela, zangada. – O meu pai morreu e odeio-te!

Nesse momento, vira os seus olhos, tão azuis, tão cheios de compreensão.

– É terrível, eu sei – indicou, dando-lhe outra pedra. – Tenta com esta.

Antes de se ir embora, Lily conseguira fazer uma pedra saltar três vezes na água e decidira que estava apaixonada.

Na verdade, fora inevitável. Lily ansiara apaixonar-se e o rapaz, que era quase um homem, parecera-lhe uma mistura de todos os heróis que apareciam nos livros que devorava. Não só vivia num castelo, mas parecia a personificação do herói escuro e melancólico. Tinha mais cinco anos do que ela e era desportista e sofisticado. Lily sonhara muito com ele. Sonhara com tornar as suas fantasias realidade algum dia. Até à noite do baile…

 

Passara semanas à espera da festa de Natal que o avô de Benedict organizava todos os anos no enorme salão de estilo isabelino que havia no Warren Court, onde a mãe trabalhava como governanta. Sabia que Benedict, que se licenciara em Oxford naquele verão e que, segundo o avô, estava a fazer algo importante na cidade, assistiria.

Lily demorara horas a preparar-se. Convencera Lara, que tinha um maior sentido da moda e muito mais roupa graças aos conselhos que lhe davam no hotel onde trabalhava aos sábados, a emprestar-lhe um vestido. E quando Benedict chegara, a primeira coisa que Lily pensara fora que estava diferente e que não estava sozinho.

– Que aborrecimento – queixara-se a mulher alta e loira, com um vestido de marca, que o acompanhava, sem se incomodar em baixar o tom de voz. – Quando poderemos ir-nos embora? Não me disseste que a casa estaria cheia de tolos.

E Lara, que nunca deixava passar uma oportunidade para brincar com Lily a respeito do seu amor mal dissimulado, perguntara:

– Estás a babar-te, Lil? Se gostas, vai atrás dele.

– Não gosto dele! – defendera-se ela. – É aborrecido e rígido.

Depois, virara-se e encontrara-o atrás dela.

Depois daquele encontro vergonhoso, não o vira nem voltara a pensar nele durante anos. Evidentemente, vira o seu nome nas páginas de economia do jornal, mas poucas vezes porque eram notícias que não lhe interessavam e nem sequer sabia muito bem o que era um magnata dos investimentos.

O que não esperara fora encontrá-lo à porta de uma livraria. Lily não acreditava no destino, mas… Não havia outra explicação. Saíra no momento exato em que ele entrava e como o vento lhe despenteara o cabelo, chocara com ele.

Afastou os pensamentos e fez um esforço para não lhe acariciar o rosto. Estava a dormir profundamente, mas continuava com olheiras. O aspeto cansado ficava-lhe bem, era sensual, pensou Lily.

Suspirou. Era muito bonito. No dia anterior, tivera de morder a língua para não lho dizer, mas acabara por o fazer. Dissera-lho enquanto o beijava. Enquanto deslizava os lábios pelo peito dele.

Eram amantes.

O seu primeiro amante… Não lho contara. No dia anterior, mudara a sua vida e, naquele momento, sentia-se como outra pessoa…

 

 

– Lily!

Benedict fora das poucas pessoas que nunca a tinham confundido com a irmã gémea.

Dera-lhe o livro que lhe caíra quando chocara com ele e os seus dedos tocaram-se. Nenhuma fantasia sexual da adolescência a preparara para aquilo.

O choque fora tão forte que Lily ficara completamente em branco enquanto ambos se endireitavam ao mesmo tempo, lentamente, como se houvesse uma ligação entre eles que nenhum deles queria quebrar.

Então, alguém que passava pela rua chocara contra eles e fizera com que se separassem.

O livro voltara a cair e eles tinham-se rido.

Dessa vez, Lily deixara que Benedict o apanhasse. Vira-o a ler o título e a arquear uma sobrancelha e, dessa vez, certificara-se de que evitava o contacto ao pegar nele.

– Sempre foste um rato de biblioteca – comentara ele, sorrindo. – Ainda me lembro de quando te surpreendi na biblioteca do avô, tinhas escondido uma primeira edição de Dickens na saia.

– Lembras-te disso? – perguntara ela e, depois, acrescentara, horrorizada: – Era a primeira edição?

– Não te preocupes, o velho não se importava.

– Sabia?

Benedict rira-se novamente.

– Que usavas a sua biblioteca para levar livros? É óbvio que sabia, não lhe escapa quase nada… – murmurara, desviando o olhar do seu rosto corado para olhar para o relógio.

E ela sorrira e tentara fingir que também tinha pressa. E repreendera-se por acreditar nas ligações mágicas e na química sexual.

– Ia beber um café – indicara, sorrindo. – Bom, não é verdade, mas se quiseres beber um café…

E Lily quase perdera a força nas pernas.

«Não te precipites, Lily. Está a convidar-te para um café, não para uma noite de sexo selvagem», repreendera-se.

– Sim – afirmara, muito depressa. – Só tenho de me encontrar com Sam dentro de meia hora.

Ele arqueara as sobrancelhas.

– Sam é o teu namorado?

– Somos amigas – corrigira ela.

Samantha Jane era, na verdade, a primeira amiga que fizera na Escola de Arte Dramática. Sam não se importaria se chegasse atrasada, acharia bem. Costumava dar-lhe conselhos a respeito da sua vida amorosa ou da ausência dela.

– Não sejas tão exigente – dissera Sam. – Olha para mim, perdi a conta do número de sapos que beijei, mas quando chegar o meu príncipe encantado, reconhecê-lo-ei imediatamente e a verdade é que os sapos podem ser divertidos.

Uma hora depois, Lily e Benedict continuavam numa pequena cafetaria e ela nem sequer sabia do que tinham estado a falar, mas fizera Benedict rir-se e ele fizera-a sentir-se inteligente e sensual. E divertida. Depois dos cinco primeiros minutos, Lily relaxara e baixara a guarda. Tinham conversado sobre literatura, política, o seu gelado favorito e, é óbvio, a sua escola e a oportunidade recente que aparecera. Fora mais tarde que se apercebera de que Benedict quase não lhe contara nada sobre ele.

– Portanto, vou ver-te no grande ecrã? – perguntara, com os cotovelos apoiados na mesa, inclinado para diante, mostrando verdadeiro interesse.

Como se só tivesse olhos para ela.

– Vai ser um papel pequeno.

– Não sei se as atrizes têm de ser tão críticas consigo próprias.

– Só estou a ser realista. É um papel pequeno.

– Mas vais aparecer numa série de televisão, isso é o mais importante.

– Tive muita sorte.

– Precisas de umas aulas de publicidade.

– Estás a oferecer-te para me as dar?

Benedict sorrira lentamente e ela derretera-se por dentro. O coração acelerara ainda mais.

Durante a terceira chávena de café, Lily apercebera-se de que era viciante estar com um homem que a observava com desejo. Sobretudo, quando o homem em questão representara, durante grande parte da sua vida, o ideal perfeito.

Sempre comparara os outros homens com ele e, é óbvio, nenhum estivera à altura.

Seria por isso que nunca tivera uma relação séria?

Estava a fazer-se aquela pergunta quando Benedict lhe agarrara a mão e lhe acariciara a palma. Lily tremera. O que estava a sentir naquele momento não era um amor de adolescente. Não se parecia com nada que sentira ou imaginara sentir antes.

Nem sequer se apercebera de que fechara os olhos até o ouvir dizer, num tom rouco:

– Tenho um quarto.

E ela não respondera, não fora capaz.

Quando finalmente conseguira falar, a resposta rouca fora:

– Sim.

 

 

Se soubesse antes o que estava a perder, não teria esperado tanto tempo. A noite anterior fora muito melhor do que sonhara!

O seu corpo ainda vibrava de prazer e sentia-se feliz. E tinha muitos dias e noites pela frente… O coração acelerou ao pensar num futuro com Benedict, ao seu lado na cama. A noite anterior fora o começo de algo… Tinha de ser.

O sexo fora incrível e fora para além do físico. Nada tão especial podia ser transitivo. Não sabia como qualificá-lo, mas fora real.

A sua amiga Sam perguntara muitas vezes o que esperava e aconselhara-a a baixar as expectativas e a ser realista.

Lily já tinha a resposta para a sua pergunta. Benedict era o homem por quem esperara.

Ter-se-ia apercebido de que fora o seu primeiro amante? Na noite anterior, a experiência da sua irmã Lara fizera-a guardar o segredo. O homem por quem a irmã gémea se apaixonara dissera que não gostava de virgens.

Aconteceria o mesmo com outros homens?

E Benedict?

Podia arriscar-se a contar-lhe?

Considerar-se-ia uma mentira?

No fim, passara o momento de contar e também o medo de que a sua inexperiência fosse um problema, mas ainda não sabia se se apercebera.

Decidiu que lho perguntaria. Sorrindo, conteve a vontade de o acordar e voltou a deitar-se, suspirando. Leu as mensagens de correio eletrónico e várias notícias relacionadas com o mundo do teatro.

– Não! – exclamou, com lágrimas nos olhos.

A notícia estava escrita com efusividade e incluía comentários de amigos do casal. Havia fotografias da futura noiva, com o seu anel de noivado enorme, e do noivo… O noivo… Muito bonito, elegante e frio num tapete vermelho, dinâmico e sério numa conferência económica.

Lily suspirou e começou a respirar novamente.

A notícia não surpreendera ninguém, dizia o artigo.

Mas era um logro, surpreendera-a, ainda que não soubesse porquê. Vira nele o que quisera ver, não a realidade. Ele era um homem e ela fora uma presa fácil.

Zangada e magoada, conteve um soluço. Cravou as unhas nas palmas das mãos e olhou para ele.

Com dezasseis anos, vira-o vir. Fora mais sensata do que com vinte e dois! Embora Benedict tivesse presumido que gostaria de ter uma aventura de uma noite, estava noivo. Era incrível!

Lily quase o acordou para o enfrentar, mas conteve-se e respirou fundo para tentar acalmar-se. Não queria humilhar-se, admitindo que era uma tonta ingénua que acreditava nas almas gémeas e no amor verdadeiro.

Tremendo, afastou o lençol e, com cuidado para não o acordar, levantou-se.

Pegou na roupa e vestiu-se na casa de banho sem se atrever a acender a luz. Saiu da casa como um ladrão. Estava a amanhecer.

Já estava no metro quando se apercebeu de que perdera um brinco.

E algo mais. O que não sabia era que também levara algo com ela…