Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

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A ESCOLHA DO SULTÃO, N.º 1383 - Maio 2012

Título original: The Sultan’s Choice

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0286-5

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

CAPÍTULO 1

– Não vou casar-me com ela pelo seu aspeto, Adil. Vou casar-me pelas razões pelas quais será uma boa rainha para Al-Omar. Se só procurasse beleza, ter-me-ia casado com a minha última amante. Não necessito da distração de uma mulher.

A princesa Samia Binte Rashad al Abbas, que estava sentada fora do escritório do sultão de Al-Omar na sua casa de Londres, ficou rígida. Estava a falar ao telefone e ainda não o tinham informado da chegada dela. A secretária, que tinha saído, deixara a porta entreaberta. Por isso, Samia podia ouvir a voz grave do sultão e as suas palavras chocantes.

– Talvez o pareça, mas, certas pessoas especularam que, quando chegasse a altura de escolher uma esposa, seria conservador. Seria uma pena se perdessem as suas apostas – disse ele, com um tom profundamente cínico.

As faces de Samia ardiam. Supunha que do outro lado da linha tivessem comentado que era, no mínimo, aborrecida. Mesmo que não estivesse a ouvir a conversa, Samia já sabia que o sultão de Al-Omar queria pedir a sua mão. Não dormira toda a noite e fora até ali com a esperança de que fosse um engano. Era traumático ouvi-lo a dizer que era a favor do plano e que, além disso, o considerava já feito.

Só o vira uma vez, oito anos antes, numa das suas lendárias festas de aniversário em B’harani, a capital de Al-Omar. Kaden, o irmão dela, tinha-a levado com ele, antes de ir para Londres terminar os estudos, para tentar ajudá-la a superar a timidez crónica. Samia fora uma adolescente desajeitada de cabelo ingovernável, que ainda usava os óculos de lentes grossas prescritas quando era criança.

Depois de um momento embaraçoso, no qual entornara uma mesinha antiga carregada de bebidas e conseguira que os olhos de todos se cravassem nela, tinha fugido à procura de um santuário, que encontrara na biblioteca. Afastou aquela lembrança, ainda mais embaraçosa do que a anterior, para ouvir o sultão.

– Adil, entendo que, como meu advogado, queiras certificar-te de que faço a escolha certa. Garanto-te que cumpre todos os requisitos e conseguirei que o casamento resulte. A estabilidade e a reputação do meu país estão em primeiro lugar, necessito de uma esposa que me ajude nesse sentido – disse o sultão.

Samia sentia um aperto no peito. Ele referia-se a que não era como as mulheres com quem costumava estar, não tinha nenhuma dúvida disso. Samia não queria casar-se com aquele homem e não ia ficar ali sentada à espera da humilhação.

O sultão Sadiq Ibn Kamal Hussein desligou o telefone. A claustrofobia e uma sensação desagradável de impotência levaram-no a levantar-se e ir até à janela, da qual se via o centro buliçoso de Londres.

Adiando o momento inevitável, Sadiq voltou para a sua secretária e para as fotografias da princesa Samia de Burquat. Era de um pequeno emirato independente situado a norte, no golfo Pérsico. Tinha três meias-irmãs mais jovens e o irmão mais velho era o emir desde a morte do pai, há doze anos.

Sadiq franziu a testa. Ele também fora coroado jovem e sabia como pesava o jugo da responsabilidade. Não acreditava que o emir e ele fossem tornar-se amigos, mas, se a princesa acedesse ao casamento, seriam cunhados.

Suspirou. As fotografias mostravam uma mulher magra de estatura média. Em nenhuma delas a via claramente. As melhores eram do verão anterior, aquando do seu regresso de uma viagem de barco com duas amigas. Mas inclusive nas fotografias de imprensa estava entre duas raparigas muito mais bonitas e altas, e um boné de beisebol escondia o seu rosto.

O mais importante era que nenhuma fotografia procedia da imprensa cor-de-rosa. A princesa Samia não fazia parte da realeza árabe que andava de festa em festa. Era discreta e tinha um emprego respeitável como arquivista na Biblioteca Nacional de Londres. Por essa razão, e muitas outras, era perfeita. Não queria uma esposa de passado duvidoso, nem com esqueletos no armário. Fora por isso que mandara que investigassem Samia a fundo.

O seu casamento não seria como o dos seus pais. Não seria um campo de batalha regido pela raiva e pelos ciúmes. Ele não afundaria o país num vórtice de caos, como fizera o seu pai, por ser obcecado por uma mulher que odiava estar casada com ele. O seu pai tinha perseguido a sua mãe, que estava apaixonada por outro, e, para a conseguir, pagara um dote incomensurável à família dela. A tristeza contínua da sua mãe fizera com que Sadiq sentisse a necessidade de se afastar dela.

Necessitava de uma esposa tranquila e estável que o complementasse, que lhe desse herdeiros e que o deixasse concentrar-se em dirigir o país. E, sobretudo, de uma esposa que não o ocupasse emocionalmente. Pelo que vira da princesa Samia, era perfeita.

Com um sentimento de fatalismo, reuniu as fotografias e colocou-as debaixo de uma pasta. Não tinha outra opção senão seguir em frente. Os seus melhores amigos, um xeque e o seu irmão, acabavam de se casar. Se continuasse solteiro, começariam a considerá-lo instável.

Não podia evitar o seu destino. Estava na hora de conhecer a sua futura esposa. Chamou a sua secretária:

– Noor, manda entrar a princesa Samia.

Não houve resposta imediata e Sadiq sentiu uma pontada de irritação. Estava habituado a que as suas ordens fossem imediatamente obedecidas. Foi até à porta. A princesa já devia ter chegado e não podia adiar o inevitável por mais tempo.

CAPÍTULO 2

Samia apoiara a mão na maçaneta da porta quando ouviu ruído e uma voz atrás dela.

– Já se vai embora?

A voz era grave e profunda, com um leve tom sedutor, e ela recriminou-se por não ter saído um segundo antes. Mas tinha hesitado, porque a sua boa educação resistia a deixar o sultão plantado. Já era demasiado tarde.

Virou-se lentamente, preparando-se para o impacto de ver de perto um dos solteiros mais famosos do mundo. Ela trabalhava entre livros poeirentos, o seu estilo de vida não poderia ser mais diferente do dele.

Todos os pensamentos coerentes se dissiparam ao vê-lo. Alto e de costas largas, enchia a ombreira da porta do escritório. Tinha a tez escura típica de um nómada do deserto e uns olhos azuis penetrantes e inusuais, cujo olhar parecia estar a atravessar Samia. Um fato escuro cobria um metro e noventa de corpo musculado. Era um belo exemplar de homem, dirigente de um país de riqueza incalculável. Samia sentiu um leve enjoo.

– Peço desculpa pela espera – assinalou o escritório com a mão. – Por favor, pode entrar?

Samia não teve outro remédio senão ir naquela direção. O seu coração pulsava com força quando passou ao lado dele e sentiu um cheiro evocador e intensamente masculino. Foi direta à cadeira que havia junto da secretária. Virou-se e viu o sultão a fechar a porta, sem deixar de olhar para ela.

Cada molécula do seu corpo parecia vibrar de energia.

A elegância sensual dos seus movimentos adquiriu um matiz mais sexual quando se aproximou de Samia, que sentiu um formigueiro no baixo-ventre.

O seu rosto parecia severo, até que, de repente, um sorriso sensual curvou a sua boca. O coração de Samia acelerou.

– Foi por causa de alguma coisa que eu disse? – perguntou. Samia olhou para ele, sem entender. – Que se ia embora? – esclareceu.

– Não… Claro que não! – Samia ruborizou-se. «Mentirosa!» – Só…

Odiava admiti-lo, mas sentia-se intimidada. Embora tivesse escolhido uma vida tranquila e evitasse chamar a atenção, já não era tão tímida. No entanto, ali sentia-se como um ratinho.

Sadiq calou-a com um gesto da mão, lamentando o seu óbvio desconforto. Sentira uma descarga elétrica ao ouvir a sua voz. Grave e sedosa, não encaixava com a sua aparência. Olhou para ela de cima a baixo e verificou que era tão insignificante como nas fotografias. Usava um fato e uma blusa abotoada até cima que não faziam nada pela sua figura. De facto, era impossível saber se tinha figura.

No entanto, o instinto masculino de Sadiq advertiu-lhe, mediante um formigueiro nas costas, que não devia apressar-se no seu julgamento. Enfiou as mãos nos bolsos.

Samia, que sentiu que as suas faces coravam, desejou olhar-lhe para as calças esticadas entrepernas. Mas conseguiu conter-se.

Ele limitava-se a olhar para ela. Samia, consciente de que estava vermelha como um tomate, encheu-se de coragem e levantou o queixo. Disparou-lhe o coração quando lhe ofereceu a mão.

– Já nos vimos antes, não é verdade?

Era justo o que ela tinha receado.

– Sabia que já nos tinham apresentado, mas não recordava onde. E, depois, veio-me à memória…

Parou-lhe o coração. Rezou em silêncio para que não mencionasse o momento horrível que ela tinha gravado na sua memória.

– Teve um encontro desafortunado com uma mesa de bebidas numa das minhas festas.

Samia sentiu tanto alívio ao verificar que não recordava a cena da biblioteca, que deixou que a mão enorme de dedos compridos envolvesse a sua. O contacto foi forte, quente e inquietante, e teve de fazer um esforço para não retirar a mão como se a tivesse queimado.

– Sim, receio que fosse eu. Uma adolescente muito desajeitada – pareceu-lhe que soava ofegante.

– Não me tinha apercebido de que também tinha os olhos azuis – ele continuava a segurar a sua mão. – Não costumava usar óculos?

– Fui operada no ano passado.

– A sua tez é herdada da sua mãe inglesa?

Samia, pensando que a sua voz era tão espetacular como ele, assentiu com a cabeça.

– Era metade inglesa, metade árabe. Morreu ao dar-me à luz. Fui criada pela minha madrasta.

– A sua madrasta, que morreu há cinco anos?

Samia assentiu e apoiou a mão numa cadeira. Desviou o olhar para que ele não visse a amargura que os seus olhos refletiam quando pensava na sua madrasta. A mulher fora uma tirana, porque sempre se soubera uma segunda opção em relação à adorada primeira esposa do emir.

Samia olhou para o sultão e sentiu um aperto no coração. Era muito bonito. Sentia-se anódina e descolorida ao seu lado. Como era possível que pensasse sequer por um segundo que ela poderia ser a sua rainha? Recordou que ele dissera que queria uma esposa conservadora e sentiu pânico novamente.

– Por favor, sente-se – assinalou a cadeira à qual ela se agarrava como uma tábua de salvação. – O que quer beber? Chá ou café?

– Café, por favor – Samia teria preferido algo mais forte, como uísque.

Sadiq foi para a sua cadeira, do outro lado da secretária. Naquele momento, apareceu a sua secretária com uma bandeja de bebidas. Quando partiu, o sultão tentou não reparar em como a mão da princesa tremia ao colocar leite no café. A rapariga era puro rubor e nervos, mas olhava-o com um ar desafiante que lhe parecia extremamente atraente. Estava habituado a mulheres muito seguras de si mesmas e parecia-lhe uma mistura intrigante.

Quase sentia pena ao vê-la a levar a chávena delicada à boca. Como ela evitava o seu olhar, podia observá-la à vontade. Teve de admitir que, na realidade, não era anódina. O cabelo era loiro-avermelhado e o sol que entrava pelas janelas grandes arrancava-lhe brilhos rosados. Tinha-o apanhado numa trança que repousava sobre um dos ombros. Algumas madeixas tinham escapado e emolduravam-lhe o rosto em forma de coração.

Parecia ter dezoito anos, embora ele soubesse que, na realidade, tinha vinte e cinco. A sua tez era suficientemente pálida para ter justificado a pergunta sobre a sua ascendência.

Surpreendia-o ter recordado com tanta clareza como virara a mesa. Dera-lhe pena, ali de pé, vermelha como um tomate e a engolir em seco. Outra lembrança rondava a sua memória, mas não conseguia discerni-la.

Umas pestanas muito compridas escondiam os seus olhos. Tinha de admitir que não era absolutamente o que tinha esperado. Sentiu a urgência de inspecionar aqueles olhos cor de água-marinha com mais atenção.

– Princesa Samia, vai dizer-me porque estava prestes a partir?

O olhar de Samia enfrentou o do sultão. Estava tão acalorada que teve de conter o impulso de desabotoar o primeiro botão da blusa.

– Sultão… – calou-se quando ele levantou a mão.

– Sadiq, por favor. Insisto.

– Muito bem, Sadiq – respirou fundo. – A verdade é que não quero casar-me contigo – viu que ele apertava os dentes e que os seus olhos cintilavam.

– Pensava que era habitual esperar pelo pedido de casamento antes de o rejeitar.

– E eu creio que seja normal fazer o pedido antes de assumir que vai ser aceite – Samia fechou os punhos.

Os olhos dele cintilaram perigosamente e sentou-se na cadeira. Samia sentiu-se ameaçada.

– Ouviste a minha conversa?

– Não pude evitá-lo – Samia voltou a ruborizar-se. – A porta estava entreaberta.

– Bom, peço-te desculpa – disse Sadiq, com brutalidade. – Não era destinada aos teus ouvidos.

– Porquê? – Samia, rendendo-se ao pânico, levantou-se e colocou-se atrás da cadeira. – Ao fim e ao cabo, estavas a discutir os méritos do enlace. Porque não discuti-los aqui e agora comigo? Vamos decidir se sou suficientemente tradicional para ti.

Um leve rubor nas maçãs do rosto do sultão foi a única indicação de que o comentário o afetara. Excetuando isso, não parecia que a atitude de Samia o perturbasse. Ela fechou as mãos sobre as costas da cadeira. Ele voltou a sentar-se, observando-a.

– Tendo ouvido a conversa ou não, já sabias que um casamento entre nós teria de se basear em aspetos puramente práticos.

– Não te preocupes – a Samia surpreendeu-a o tom amargo da sua voz. – Não tenho ilusões.

– Esta união beneficiará os nossos países – nos seus olhos houve um brilho especulativo. Inclinou-se para a frente e apoiou os cotovelos na mesa. – É-me difícil acreditar que, sendo da nossa zona, onde primam os casamentos por conveniência, esperasses uma união por amor – disse, com desdém, como se fosse algo impensável.

– Não. É óbvio que não – Samia, sentindo-se mal, abanou a cabeça. Uma união por amor era a última coisa que teria esperado ou desejado. Vira como o amor devastara o seu pai depois de perder a esposa. Tinha suportado a dor silenciosa dele cada vez que a olhava, porque ela fora a causadora da morte da mãe.

Vira como influenciava tudo, amargurando a esposa seguinte. O amor também tinha causado danos ao seu adorado irmão, tornando-o duro e extremamente cínico. Há muitos anos que jurara a si mesma não se render a uma força tão destrutiva.

O sultão, satisfeito com a resposta, recostou-se e abriu as mãos num gesto interrogativo.

– Então, o que podes ter contra este casamento?

«Tudo! A atenção! O ridículo!», pensou Samia, apertando as mãos no colo.

– Simplesmente… Não o via como parte do meu futuro – acreditava ter-se apagado o suficiente para evitar aquele tipo de interesse.

– Mas, sendo a irmã mais velha do emir de Burquat, como esperavas poder evitar um compromisso estratégico? É surpreendente que tenhas conseguido evitar o casamento tanto tempo – disse Sadiq.

Apesar de lhe desagradar a afirmação indiscutivelmente masculina, Samia sentiu uma pontada de culpa. O seu irmão poderia ter sugerido vários pretendentes anteriormente, mas não o fizera. Sempre soubera que Kaden poderia pedir-lhe uma união estratégica um dia. A oferta de Sadiq devia ter sido irresistível, já que catapultaria Burquat para o século XXI e lhe proporcionaria a estabilidade económica e o desenvolvimento que tanto necessitava.

Embora odiasse admiti-lo, sim, pertenciam a um mundo que via o casamento de uma forma muito mais pragmática do que o Ocidente. Era inusual que um governante se casasse por uma coisa tão frívola como o amor. Os casamentos tinham de se basear em vínculos familiares sólidos, alianças estratégicas e política lógica. Especialmente, os casamentos reais.

Aquela visão prática que deixava de lado o amor deveria ter-lhe parecido atraente. Não corria o perigo de se apaixonar por alguém como Sadiq e ele nunca se apaixonaria por ela. Seria um casamento muito diferente do que vira enquanto crescia. Os seus filhos não seriam maltratados nem insultados por inveja e malícia.

O sultão levantou-se e Samia voltou a sentir pânico. Amaldiçoou a espécie de ratinho assustado em que se transformara na presença dele. Na biblioteca, tinha trinta empregados às suas ordens e estava habituada a enfrentar o seu irmão, um homem com o mesmo padrão autoritário que o sultão.

Ele passeou pelo escritório, como se não conseguisse ficar quieto, e Samia recordou que sentia paixão pelos desportos radicais. Tinha a honra de ter participado na prestigiada corrida mundial de Vendée, sendo o marinheiro mais jovem que o fizera em toda a sua história. Samia, uma aficionada da vela, admirava-o por isso.

Era um homem formidável em todos os sentidos. Seguindo a tradição da sua linhagem, tinha estudado no Reino Unido e nos Estados Unidos, e frequentara a exclusiva Academia Militar Real de Sandhurst. Tinha uma frota de helicópteros e aviões que pilotava com regularidade. Além disso, tinha a reputação de ser um dos playboys mais desumanos do mundo, que escolhia e descartava as mulheres mais belas como se fossem meros acessórios.

E, todos os anos, celebrava a maior e mais luxuosa festa de aniversário, na qual angariava uma quantia obscena de dinheiro para instituições de solidariedade. Sabia que era muito elogiado pela angariação de fundos, porque, para sua vergonha, na noite anterior tinha passado horas a procurar informação sobre ele na Internet.

– Vais insistir em rejeitar o meu pedido de casamento e obrigar-me a procurar uma esposa noutro lugar? – perguntou ele, arqueando um sobrolho.

Samia notou o tom incrédulo da voz dele. Era óbvio que não tinha esperado dificuldades. Aquilo devolveu-lhe parte da sua autoconfiança.

– E se dissesse que não?

Ele apoiou as mãos nas ancas e Samia contemplou como a camisa se esticava sobre os abdominais masculinos. Viu a sombra de uma fila de pelos através da seda e secou-lhe a boca. Espantou-a a sua reação, pois nunca nenhum homem tivera aquele efeito nela. Era como se tivesse passado toda a sua vida adormecida e começasse a recuperar os sentidos ali, naquela sala. Era desconcertante.

– O acordo entre mim e o teu irmão ficaria gravemente em perigo. Teria de avaliar se a tua irmã seguinte é adequada.

– Mas Sara só tem vinte e dois anos! – Samia ficou pálida. Sara, além disso, tinha medo até da sombra, mas não lho disse. Como irmã mais velha, armou-se em defensora. – Não é apropriada para ti.

– Pelos vistos, é regra na tua família – Sadiq lançou-lhe um olhar glacial. – Mesmo assim, tê-la-ia em conta. Mas não seria obrigado a manter a minha oferta de ajudar o emir na prospeção dos vossos poços petrolíferos. Ele teria de procurar ajuda estrangeira, o que causaria muitos problemas políticos que não penso que Burquat possa permitir-se neste momento.

Samia tentou ignorar o cenário que estava a pintar e sorrir com cinismo, mas sentiu um formigueiro nos lábios quando ele os observou.

– Estás a dizer que a tua participação neste enlace é altruísta? Por favor, não insultes a minha inteligência, ninguém faz nada sem receber algo em troca!

– Claro que não – ele inclinou a cabeça, com um brilho diferente nos olhos. – Em troca recebo uma esposa muito apropriada, tu ou a tua irmã, depende de ti. Uma aliança valiosa com um reino vizinho e uma percentagem dos lucros do petróleo, que depositarei num fundo para os nossos filhos.

«Os nossos filhos.» Samia sentiu um vazio estranho no ventre quando ouviu aquelas palavras.

– Burquat necessita de uma aliança com um país árabe vizinho, Samia. Sabe-lo tão bem como eu. Prestes a revelar ao mundo a mina de ouro que possui, encontra-se numa posição muito delicada. Casares-te comigo garantirá o meu apoio. O teu irmão e tu contarão com o meu amparo. Além disso, estamos prestes a assinar um tratado histórico de paz. O nosso casamento representaria uma garantia adicional.

Samia já tinha ouvido o seu irmão a dizer-lhe quase as mesmas palavras. Não sabia se o sultão falava a sério a respeito da sua irmã, mas preferia não ter de o descobrir. Tampouco queria ver como lhe seria fácil passar dela para a sua irmã. Não queria que a escolhesse a ela, nem a outra. Era patético.

Sentia que o controlo da sua vida começava a escapar-lhe das mãos. No entanto, já não podia encerrar-se na biblioteca para fugir de anos de maus-tratos psicológicos da parte da sua madrasta. Apesar de a sua madrasta já não ser viva, aterrorizava-a abandonar a segurança à sua volta.

– O que te faz acreditar que serei uma boa esposa, adequada para ti? – perguntou.

O sultão enfiou as mãos nos bolsos das calças. Pareceu-lhe muito alto, moreno e ameaçador.

– És inteligente e não viveste para o público, como outras. Acho que és séria e que as coisas te importam. Li o artigo que escreveste no Archivist no mês passado e pareceu-me brilhante.