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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

UM JOGO MUITO EXCITANTE, Nº 1469 - junho 2013

Título original: The Heartless Rebel

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2993-0

Editor responsável: Luis Pugni

Imagens de capa:

Casal: BRANISLAV OSTOJIC/DREAMSTIME.COM

Cidade: MTILGHMA/DREAMSTIME.COM

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Os Wolfe

 

Uma dinastia poderosa em que os segredos e o escândalo nunca dormem.

 

A dinastia

Oito irmãos muito ricos, mas que não têm a única coisa que desejam: o amor do pai. Uma família destruída pela sede de poder de um homem.

 

O segredo

Perseguidos pelo passado e obrigados a triunfar, os Wolfe espalharam-se por todos os cantos do planeta, mas os segredos acabam sempre por ser descobertos e o escândalo está prestes a rebentar.

 

O poder

Os irmãos Wolfe tornaram-se mais fortes do que nunca, mas escondem uns corações duros como o granito. Diz-se que inclusive a mais negra das almas pode sarar com o amor puro. No entanto, ainda ninguém sabe se a dinastia conseguirá ressurgir.

Agradecimientos

 

Agradeço a Sarah, Caitlin, Abby, Robyn, Janette, Jennie e Kate por fazerem com que este projeto fosse tão divertido. A única coisa que o teria melhorado seria um retiro para escritoras num lugar tropical enquanto trabalhávamos. Talvez da próxima vez.

Capítulo 1

 

Cara Taylor limpou as mãos suadas na saia de seda, esperando que não deixasse marcas. Aquela era a noite mais importante da sua carreira como crupiê. Acabara de acontecer uma coisa e não sabia se conseguiria recuperar.

Bobby queria que perdesse de propósito. Cara respirou fundo para se acalmar. Conseguia fazê-lo. Tinha de o fazer.

Os homens que se aproximariam da sua mesa numa questão de minutos eram os mais ricos e atrevidos do mundo. Em muitos sentidos, embora pudesse fazer o seu trabalho graças a eles, desprezava-os. Costumavam ganhar milhões de dólares numa jogada de cartas, mas também podiam perdê-los da mesma forma. Para eles, tratava-se de um jogo de crianças.

Importava que fosse o instrumento das suas perdas? Nenhum deles voltaria pobre para casa. Nenhum deles entenderia o que era perder tudo o que tinham ou lutar para sobreviver todos os dias.

Cara sabia. Lutava para salvar a família, desde que o furacão Katrina arrasara Nova Orleães há mais de cinco anos e destroçara a sua casa. E não só a casa. O Katrina também destruíra o véu que protegia os segredos do pai. Depois da traição do pai e da depressão subsequente da mãe, a responsabilidade dela, que era a mais velha, era assegurar-se de que a família tinha o essencial. Precisara de muito tempo e de muito trabalho, já para não mencionar que tivera de esquecer os seus próprios sonhos. Mas conseguira voltar a conquistá-los.

Naquela noite, tinha a oportunidade de deixar para trás as preocupações económicas. Deixaria a mãe com dinheiro suficiente para se assegurar de que pagava a casa e os preços exorbitantes das apólices de seguro. Desde o furacão, as seguradoras tinham aumentado os preços. E a mãe não queria mudar-se para outro lugar.

Embora fosse frustrante para Cara, também entendia. Nova Orleães era o seu lar. A mãe nascera e crescera lá e não queria ir-se embora. Segundo parecia, Evie, a irmã, também não queria fazê-lo. Mordeu o lábio inferior. Se Evie não tivesse ficado em casa a ajudar a mãe e o irmão mais novo, Remy, Cara não estaria ali. E já que estava, devia assegurar-se de que fazia o possível para lhes garantir o futuro.

Depois daquela noite, Remy continuaria com o tratamento especial de que precisava e isso era o mais importante de tudo. A bonificação que Bobby lhe prometera, por estar ali para a inauguração do seu novo casino, ia permitir-lhe atingir os objetivos que traçara.

Contudo, primeiro, tinha de levar a cabo a jogada trapaceira.

– Já sabes o que tens de fazer – disse alguém atrás dela.

Cara virou-se suavemente, esperando que não notasse a angústia no seu rosto.

– É óbvio.

Bobby piscou-lhe o olho e deu-lhe uma palmadinha no traseiro. Cara fez o possível para não dar um salto. Nunca gostara de Bobby, mas era o rei dos casinos, em Las Vegas e no estrangeiro, como demonstrava aquele novo local multimilionário, situado num antigo palácio no centro de Nice.

Quando começara a trabalhar como crupiê, fizera-o para um dos rivais de Bobby. Ele não demorara muito a encontrá-la e a oferecer-lhe um emprego. Ao princípio, recusara, mas a sua necessidade desesperada de dinheiro acabara por vencer. E, para além de um olhar lascivo por parte do patrão, nunca tivera motivos para lamentar a decisão.

Até àquele momento.

Quando Bobby sorriu, a luz refletiu-se no dente de ouro.

– Mantém os clientes contentes, Cara. Usa esses bonitos seios para os distraíres o máximo possível. E vigia o homem que te vou indicar. Depois de as apostas subirem o suficiente, ele vai fazer o sinal.

Cara corou, sem saber se era por causa da sugestão de Bobby de usar os seios para distrair os jogadores, ou por causa da ideia de fazer batota, algo que ia completamente contra o seu código moral. E era parecido com aquilo que o pai fizera. O adultério era um tipo de batota diferente, mas o resultado era o mesmo. Simplesmente, não estava bem.

E não era uma trapaceira. Ponto final.

Deslizou outra vez a mão para a saia, nervosamente. Queria fechar um pouco a camisa, mas não o faria enquanto Bobby continuasse a olhar para ela daquela forma. Normalmente, o seu uniforme consistia numa saia comprida, camisa e gravata, mas, naquela noite, Bobby dera-lhe um novo uniforme, que era composto por uma minissaia justa, de seda, e uma camisa de cetim com um decote generoso.

– Farei o que puder, chefe – murmurou.

O rosto de Bobby tornou-se mais duro e o olhar mais cruel. Já vira aquela expressão. Sentiu um calafrio ao pensar no que Bobby era capaz de fazer.

– Assegura-te de que é assim, Cara. Eu não gostaria de ter de te castigar.

Antes de conseguir responder, Bobby virou-se e dirigiu-se para o bar. Cara suspirou e virou-se novamente para a mesa, enquanto abriam a cortina que levava à zona privada. Um homem alto e loiro entrou na sala e dirigiu-se para o bar. Pediu uma bebida e Cara apercebeu-se, pelo sotaque, de que era alemão. Tratava-se do conde von Hofstein.

À medida que os minutos passavam, entraram mais homens na sala luxuosa que Bobby tinha reservado para aquele evento tão especial. Um xeque obeso, com kufiyya e um rubi enorme no dedo indicador da mão esquerda; um africano, alto e bonito com uma pele luminosa de ébano... Um a um, foram ocupando todas as cadeiras. Os homens ficaram em silêncio.

Quando ficou apenas um lugar livre, voltaram a abrir a cortina e entrou outro homem. O coração de Cara acelerou. Era alto e magro, e estava impecavelmente vestido com um smoking. Tinha cabelo escuro e olhos prateados, os mais penetrantes que vira na vida. Tudo nele indicava que nadava em opulência.

E a sua atitude dava a entender que não se importava com nada, nem com ninguém.

Um calafrio percorreu as costas de Cara. Nunca reagira assim ao ver um homem. Fora viver para Las Vegas com o ex, mas não o fizera porque o coração acelerava quando James entrava numa divisão.

A expressão fria e distante daquele homem foi ainda mais gélida quando olhou para ela. Cara desviou imediatamente o olhar e amaldiçoou-se por ter olhado para ele fixamente.

Fantástico! Certamente, ele pensaria que era uma daquelas mulheres que trabalhavam num casino para caçar um marido rico. Já lidara com vários que presumiam que queria passar um bom bocado, mas ela deixava sempre e imediatamente bem claro que não estava incluída no preço das fichas de póquer.

Alguém lhe tocou no braço e Cara deu um salto. Bobby afastou-a da mesa. Ela cruzou os braços, pois odiava o modo como olhava para o seu decote.

– Não penses em ser nobre, Cara – relembrou. – O bónus que te prometi será de grande ajuda para a tua doce mamã, portanto, não te esqueças – inclinou-se e passou-lhe a mão gordinha pelo braço. – O homem da gravata vermelha é Brubaker. Quando chegar o momento, passa-lhe a jogada. Ele fará o resto.

– Sim, chefe – respondeu Cara, voltando para a mesa e pegando no baralho.

Depois de anunciar as regras do jogo, baralhou as cartas. Depois, passou o baralho ao jogador que tinha à sua direita, que também as baralhou. Depois de cortar, Cara deu cartas.

O homem dos olhos prateados estava à frente dela. Pegou nas cartas. Quando voltou a baixá-las, não houve nenhum brilho de emoção e não percebeu se estava contente ou irritado. Quando trabalhava em Las Vegas, vira muitos jogadores amadores. Era sempre capaz de perceber o que um jogador pensava das suas cartas, pelos sinais que observara em mesas incontáveis.

Mas aquele homem era indecifrável.

Até levantar o olhar e os seus olhares se encontrarem. O coração de Cara acelerou. Pela primeira vez naquela noite, alegrou-se por não estar mais tapada, porque teria começado a suar perante o olhar daquele homem.

Ele não parecia ter a mente fixa nas cartas. Deslizou o olhar lentamente por ela, parando nos seios antes de voltar a subir. A forma de a observar não a repugnou, como acontecia com Bobby, antes pelo contrário.

Cara baixou o olhar para a mesa. Tinha de se concentrar no jogo, tinha de estar pronta para cumprir a sua tarefa, chegado o momento. Não tinha tempo para ficar boquiaberta, a olhar para homens bonitos.

Homens bonitos e inúteis.

 

 

Jack Wolfe segurou as cartas e esperou que alguém falasse. Há muito tempo que não estava numa mesa de jogo, mas quando soubera que Bobby Gold ia abrir um casino em Nice, onde passava ultimamente muito tempo, em negócios, não fora capaz de resistir.

Bobby e ele não se conheciam bem, mas conheciam-se há muito tempo. Bobby nunca desperdiçava a oportunidade de fazer um discurso sobre os aristocratas britânicos e a sua incapacidade para gerir o dinheiro. Jack sabia que se referia ao seu falecido pai e, embora não se sentisse afetado com aquilo que qualquer humano tão desprezível pudesse dizer, não queria desperdiçar a oportunidade de ganhar a Bobby, no seu próprio terreno.

Jack não costumava frequentar casinos, pois a bolsa de valores era muito mais interessante, mas aquela noite era uma ocasião especial. Certa vez, enfrentara Bobby num jogo de azar. Não se tratava de nada sério, apenas um evento organizado por um amigo comum, que dissera a Bobby que Jack era um génio com as cartas. Bobby, acabara de abrir o seu primeiro casino, e não fora capaz de resistir. E à medida que perdia, começara a zangar-se cada vez mais.

Sim, Bobby Gold era um bruto. Jack não precisava de dinheiro, mas desfrutaria ao ver como a sua cara rechonchuda ficava roxa, quando ele ganhasse o jogo. Pensara que tentaria mantê-lo afastado do jogo, mas o homem limitara-se a assentir. Não conseguia evitar pensar no que guardaria na manga.

As cartas já não eram um desafio para ele. Há anos que perdera o interesse pelo jogo, mas não a habilidade para decifrar as pessoas que tinha à volta. E nunca a perderia. Decifrar as pessoas era a sua segunda natureza. Quando era criança, tinha de ser capaz de identificar aquilo que o pai iria fazer, baseando-se no movimento de um músculo, na queda de uma pálpebra ou no franzir dos lábios. Naquele momento, precisava disso para sobreviver. O facto de essa habilidade poder ser usada numa mesa de jogo foi algo que aprendeu muito mais tarde.

Atualmente, preferia as apostas no mercado de valores, pois as somas que se arriscavam eram muito mais altas e a emoção era mais intensa.

Jack olhou outra vez para a crupiê e elevou uma sobrancelha quando ela desviou o olhar. Assim que entrara na sala e a vira ali, de pé, com a blusa apertada e a saia curta, tivera a sensação de que a noite ia ser muito mais interessante do que pensara.

Observara-a com interesse, quando Gold falara com ela à parte. A sua linguagem corporal indicava que estava à defesa. Quando Bobby se inclinara e lhe passara a mão pelo braço, Jack tivera de conter o desejo de saltar por cima da mesa e dar um murro na cara daquele homem.

Quando acabou a jogada e a crupiê sensual indicou a primeira pausa do jogo, os homens levantaram-se da mesa e dirigiram-se para os cantos da sala luxuosa. Alguns pegaram nos telemóveis, enquanto outros conversavam em voz baixa. Jack não se mexeu. Esticou as longas pernas por baixo da mesa e bebeu um gole da sua bebida. Água mineral com um pouco de lima, pois não bebia álcool quando precisava de ter os sentidos em alerta.

A crupiê deu as fichas com movimentos rápidos. Jack ficou hipnotizado com a elegância das mãos dela, de dedos largos, e o modo como parecia acariciar as fichas antes de as soltar. Imaginou aquelas mãos a deslizar pelo seu corpo e alegrou-se imediatamente por ter ficado sentado.

Um empregado parou ao lado da mesa.

– Gostaria de beber alguma coisa, senhor?

– Não, obrigado – respondeu Jack. – E tu? – perguntou à crupiê.

A rapariga levantou o olhar e esbugalhou os olhos verdes. Era realmente extraordinária, com aquele cabelo preto e longo a cair-lhe sobre as costas, os seios altos e redondos que apareciam sob a blusa sugestiva, e as pernas mais longas que vira na vida.

– Não, obrigada – respondeu, num tom doce e surpreendentemente tímido.

– Não mordo – assegurou Jack, num tom alegre.

Ela voltou a baixar o olhar, antes de fixar outra vez os seus olhos, como um tigre.

– O que faz ou deixa de fazer não é a questão, monsieur. Não posso aceitar convites de clientes, quando estou a trabalhar.

– Então, talvez aceites quando acabar o teu turno.

– Duvido. Não o conheço – replicou ela, – mas tenho a certeza, dada a sua presença nesta mesa, de que não temos nada em comum.

– Como podes dizer isso? Eu jogo às cartas, tu estás a dá-las. Eu diria que temos muito em comum.

Ela engoliu em seco. Quando falou, o seu tom era gelado.

– Não me referia a isso, como sabe. Apesar do dinheiro que há nesta mesa, não estou disponível.

Jack riu-se. Aquela mulher tinha caráter. Agradava-lhe. Estendeu-lhe a mão.

– Sou Jack Wolfe.

– Cara Taylor – respondeu, apertando-a e afastando a dela imediatamente.

– É um prazer conhecer-te, Cara Taylor.

Ela não respondeu, mas um rubor cobriu-lhe a pele branca do pescoço. Antes de conseguir dizer mais alguma coisa, os jogadores voltaram para a mesa e ocuparam os seus lugares.

Cara deu outra mão. Jack adorava a forma como mexia as mãos, como parecia controlar o jogo. Contrastava com a vulnerabilidade tímida que mostrara quando namoriscara com ela. Aquela mulher era um enigma e tencionava explorá-lo com detalhe, mais tarde. Não tinha dúvidas de que sucumbiria aos seus encantos. Faziam-no sempre.

Essa era a sorte de ser um Wolfe, apesar de desprezar o apelido e o homem que lho dera. Jack sabia como ser encantador quando era necessário e como ser frio nas restantes ocasiões.

O jogo desenvolveu-se rapidamente e as apostas foram subindo à medida que os jogadores se tornavam mais ousados. O africano tamborilou com os dedos na mesa, quase sem fazer barulho. Era um hábito nervoso e Jack interpretou que tinha boas cartas, mas não suficientemente boas.

Naquele momento, o lábio superior do conde von Hofstein franziu-se ligeiramente num sorriso, quando voltou a olhar para as cartas. Jack sentiu uma pontada de desprezo por aquele homem. Era muito fácil de interpretar, arrogante e seguro de si próprio.

– Cem mil euros – disse o conde, num tom entusiasmado.

Os outros jogadores encolheram-se e ouviu-se um gemido coletivo. O africano hesitou durante mais um instante que os outros, mas também pousou as cartas. Jack mexeu nas suas fichas.

– Cubro isso e subo mais cem mil.

O conde semicerrou os olhos, mas pôs as fichas no centro.

– Cubro.

Jack sentiu uma onda de adrenalina nas veias. Adorava aquele momento, adorava mostrar as cartas e revelar a mão vencedora. Não havia forma de perder. Ao contrário do conde, não era um arrogante. A mão do conde não era suficientemente boa, algo que teria sabido se tivesse prestado atenção ao jogo.

Jack olhou para Cara, viu o sorriso no seu rosto e interrogou-se como soubera. Talvez houvesse uma mente matemática por detrás de tanta beleza.

Pôs as cartas na mesa. O conde ficou vermelho. Os olhos de Cara brilharam.

– Sequência de cor – afirmou. – Ganha o cavalheiro.

 

 

Passara uma hora desde o começo do jogo. Cara continuava a mexer nas cartas, continuava a manter os homens na mesa. O africano decidiu que já tivera suficiente e foi-se embora, mas o resto não parecia disposto a afastar-se. Brubaker, o amigo de Bobby, bebia um coquetel com uma palhinha e sorria cada vez que olhava para Cara.

O jogo tinha alcançado uma soma astronómica. Cada mão tornava os jogadores mais audazes e as apostas eram insultantes. Jack Wolfe atirava fichas para o centro, como se fossem um brinquedo, com ar despreocupado. Apesar disso, tinha uma boa pilha ao seu lado. Era muito bom.

Cara conhecera grandes jogadores em Las Vegas, mas seria possível que um homem apostasse tanto dinheiro sem ser um profissional no jogo? A ideia repugnou-a, mas sabia que era possível. Talvez estivesse a apostar em nome do seu chefe, a jogar por uma margem de lucro.

Durante um momento, pensou que estava a contar as cartas, mas não, era muito bom a adivinhar as cartas que restavam. Saía de jogo quando não tinha uma mão boa, embora também fingisse de vez em quando.

Olhou para ela e piscou-lhe o olho. Cara sentiu um arrepio, mas repreendeu-se por reagir assim com ele. Tinha um íman para atrair homens que não lhe convinham. Quando James se fora embora com o dinheiro da renda e todas as suas poupanças, jurara que nunca mais se deixaria enganar por uma cara bonita e um sorriso encantador. Jack Wolfe tinha ambas as coisas e também uma dose extra de magnetismo.

Alguém pigarreou e Cara apercebeu-se de que a mão acabara.

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– Queres companhia?

Cara susteve a respiração quando o viu ao seu lado. Meu Deus, era um homem muito bonito! Alto, moreno, com aspeto de estrela de cinema. De facto, fazia-a pensar num ator, embora não soubesse qual.

– Não é permitida a entrada de clientes na zona do pessoal – referiu.

– Então, não iremos para a zona do pessoal – replicou ele, sorrindo.

O seu sotaque britânico fazia com que Cara se derretesse. Afastou uma madeixa de cabelo do ombro.

– Não deveria estar a falar comigo, senhor Wolfe. Estou a trabalhar e é um cliente.

– Mas eu gosto de falar contigo, Cara.

– Porque acha que pode ganhar – afirmou, tentando ser ácida.

Mas não funcionou, porque o sorriso dele não desapareceu.

– Ah, portanto, aparece a verdade – e deixou a bebida de lado. – Chama-me Jack.

– Preferia não o fazer – mas era mentira. Adoraria fazê-lo, repeti-lo muitas vezes.

– Penso que queres fazê-lo – a voz dele era um sussurro profundo e sensual. – Tu também sentes o que há entre nós e queres saber mais.

Cara engoliu em seco.

– Enganas-te, «Jack». O que quero é acabar este jogo, ir para casa e tirar este uniforme que... – deixou a frase por acabar, ao ver a expressão intensa de Jack.

– E eu quero tirar-te esse uniforme delicioso.

O coração de Cara acelerou. Sentia-se maldisposta.

– Pelo menos, és sincero.

– Mas tu não – respondeu ele, esboçando um sorriso de troça.

– Admito que te acho atraente – defendeu-se, sentindo uma onda de calor. – Mas não te conheço e não tenho o costume de ir para casa com homens que não conheço.

Era verdade, embora estivesse a começar a pensar que talvez precisasse de enlouquecer um pouco. Andava muito tensa desde que chegara a Nice. E, nesse instante, com a tarefa que tinha de levar a cabo antes do fim da noite, estava muito nervosa. Uma noite com Jack Wolfe, talvez, lhe aliviasse tensão.

Desde que não descobrisse que era a responsável por ele perder.

– Então, talvez devêssemos conhecer-nos um pouco melhor – sugeriu ele.

– Talvez – respondeu Cara, para sua própria surpresa.

Estaria mesmo a considerar essa possibilidade ou dissera a primeira coisa que lhe passara pela cabeça?

Não importava. Em qualquer caso, não se iria embora dali com Jack Wolfe. Assim que acabasse aquele jogo, pegaria no dinheiro e voltaria para casa, para Nova Orleães. Tinha dor de consciência, mas que outra opção lhe restava? Fazia-o pela mãe, por Evie e por Remy.

Jack deu um passo para ela. O seu corpo enorme irradiava calor e sexualidade. Queria fundir-se nele, queria deixar que aquele homem forte a resgatasse, mas ninguém cuidava de Cara Taylor, ela cuidava de si própria.

– Eu adoraria – afirmou Jack, deslizando os olhos prateados pelo corpo dela.

Era um olhar descaradamente sexual... E Cara adorou. Ainda que não soubesse a razão.

– Tem de voltar para a mesa – referiu, rapidamente, afastando-se antes de conseguir tocar nela.

Porque temia que, se lhe tocasse, não tivesse forças para fazer o que tinha de fazer.

Viu o olhar de Bobby, quando regressou para a mesa. Tinha o sobrolho franzido e uma careta cruel no rosto. Cara sentiu um aperto no coração, mas por uma razão diferente. Se não fizesse o que Bobby lhe ordenava, não sabia o que o patrão seria capaz de fazer. O dinheiro seria a última das suas preocupações.