Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2013 Lynn Raye Harris. Todos os direitos reservados.
JOGO DE VONTADES, N.º 1501 - Novembro 2013
Título original: A Game with One Winner
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-687-3751-5
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
Milionário russo tenciona adquirir uma cadeia de lojas com problemas financeiros
Sim, ela estava ali. Roman Kazarov tinha a certeza, apesar de ainda não a ter visto.
A mulher que estava ao seu lado tentou chamar a atenção com um sussurro leve. Virou-se para ela por um instante e depois desviou o olhar. Era muito bonita, mas estava farto dela. Aborrecia-o. Uma noite na sua cama fora suficiente.
Percebendo o seu desdém, ela agarrou-lhe no braço com ar possessivo. Esteve tentado a afastar-lhe a mão. Levara-a naquela noite, movido por um impulso, imaginando que Caroline Sullivan-Wells estaria lá. Não é que se importasse de o ver com outra mulher. Deixara isso bem claro, há cinco anos.
Em tempos, essa indiferença tê-lo-ia magoado, mas agora já não. O homem que regressara a Nova Iorque era muito diferente daquele que saíra daquela mesma cidade há cinco anos. Agora, era um homem rico e implacável, com um único objetivo: ser dono da Sullivan’s, a prestigiosa cadeia de lojas, fundada pela família de Caroline. Seria o culminar de todos os seus esforços, a cereja simbólica no topo do bolo. Realmente, não tinha necessidade de adquirir a Sullivan’s, mas desejava fazê-lo. Fora um lacaio de Frank Sullivan, que o despedira sem pensar duas vezes. Sem trabalho e sem dinheiro, vira destruídos todos os seus sonhos de proporcionar uma vida melhor aos membros da família que deixara na Rússia.
E ousara apaixonar-se por Caroline. Algo tão desatinado, como atrever-se a voar com asas de cera, perto do sol. A queda fora muito dura.
Porém, agora estava de volta. E, nem Caroline, nem o pai dela, poderiam fazer nada para impedir aquilo que projetara. As pessoas da sala, como que obedecendo a uma ordem invisível, desviaram-se, deixando um corredor livre. Ao fundo do corredor, pôde ver uma mulher a conversar animadamente. Os lustres luxuosos Waterford, que pendiam do teto, pareciam projetar toda a sua luz sobre ela, como se quisessem realçar o brilho do cabelo loiro e a suavidade da pele num tom madrepérola.
Roman sentiu um nó no estômago. Estava maravilhosa e etérea, como antes. Continuava a sentir a mesma atração e isso incomodava-o. Tentou afastar as imagens agridoces que surgiam na sua mente. Tinha de estar frio e distante, quando se aproximasse para falar com ela.
Ela levantou a cabeça e semicerrou os olhos verdes, como se pressentisse que algo ia perturbar o ambiente aprazível do seu círculo de amizades.
Ficou boquiaberta e com os olhos esbugalhados, ao vê-lo. Os seus olhares encontraram-se durante breves segundos. Ela foi a primeira a desviar o olhar. Disse alguma coisa à pessoa com que estava a conversar, virou-se e saiu pela porta que tinha atrás dela.
Roman ficou impávido e sereno. Devia sentir-se vitorioso, contudo, teve a estranha sensação de ter sido rejeitado novamente, como há cinco anos. A diferença era que agora sabia que isso não era possível. Agora, era ele que tinha a faca e o queijo na mão.
– Querido – replicou a mulher que o acompanhava, tentando fazê-lo desviar a atenção da porta por onde Caroline desaparecera. – Podes dar-me alguma coisa para beber?
Roman olhou para ela com ar displicente. Era uma mulher bonita. Uma atriz, com um rosto e um corpo por que qualquer homem enlouqueceria. Estava habituada a ser sempre o centro das atenções e a ter sempre todos os seus desejos satisfeitos.
No entanto, vendo a expressão fria e displicente de Roman, percebeu que as suas palavras eram inadequadas. Deslizou suavemente os dedos pelo smoking luxuoso de Roman, tentando corrigir o seu erro. Mas já era demasiado tarde.
– Eu não sou teu empregado – declarou, secamente. E acrescentou, dando-lhe cinco notas de cem dólares que tirou da carteira que tinha no bolso: – Desfruta da festa. Quando te cansares, apanha um táxi e vai para casa.
– Isso significa que vais deixar-me aqui? – perguntou, perturbada, agarrando-o pelo braço.
Observou-a e sentiu pena dela por um instante, mas depois, pensou que teria uma legião de homens à sua volta, dispostos a agradar-lhe em tudo, assim que se fosse embora.
– Não te preocupes, maya krasavitsa. Encontrarás outro que esteja à tua altura – declarou, virando-se e procurando a herdeira dos Sullivan.
Caroline desceu no elevador até ao andar de baixo e saiu para a rua. Tinha o coração acelerado, a cabeça doía e sentia um nó na garganta. Pôs o xaile por cima dos ombros e tentou recuperar o fôlego, reprimindo as lágrimas que lutavam para sair dos seus olhos.
Sorriu levemente para o porteiro, quando lhe perguntou se queria um táxi.
– Sim, por favor – respondeu, num tom trémulo.
Sabia que teria de acabar por se encontrar com ele. Os jornais tinham publicado a notícia do regresso dele à cidade e o objetivo que o levara a fazê-lo.
Apertou o xaile entre os dedos. Não esperara que tivesse de o enfrentar tão cedo. Imaginara que a oportunidade teria lugar na mesa de um conselho de direção.
Não sabia como enfrentar aquele encontro. Bastara olhar para ele, para reviver todas as emoções do passado que julgava ter enterrado há muitos anos.
– Caroline...
Pensou que ia derreter, ao ouvir o seu nome como uma carícia naqueles lábios que tanto amara. Mas não, isso acabara. Era uma mulher sensata, que tomara uma decisão numa situação muito crítica e voltaria a fazer o mesmo, se se repetissem as mesmas circunstâncias. Conseguira salvar o negócio da sua família e agora voltaria a fazê-lo, mesmo que Roman Kazarov e a sua empresa multinacional tivessem outras pretensões.
– Senhor Kazarov – cumprimentou, esboçando um sorriso não isento de um certo tremor nos lábios.
Viu como olhava para ela com aqueles olhos azuis, tão brilhantes e frios como o gelo, e sentiu um nó no estômago. Continuava a ser incrivelmente atraente, como antes. Alto, atlético, com cabelo escuro e ombros largos. E com aquelas feições tão viris e perfeitas, que teriam feito as delícias de qualquer pintor ou escultor.
Ou de um repórter fotográfico.
Vira as fotografias que as revistas tinham publicado dele, quando começara a irromper no mundo dos negócios há alguns anos. Ainda recordava a ocasião em que Jon lhe oferecera o jornal, para que visse as fotografias enquanto estavam a tomar o pequeno-almoço. Quase deixara cair a chávena do café, se o marido não lhe tivesse segurado na mão. Jon era o único que sabia o efeito que aquelas notícias podiam causar nela. Ao longo dos anos, seguira com inquietação a imparável ascensão de Roman, convencida de que regressaria um dia e iria procurá-la.
– Caroline, é assim que cumprimentas um velho amigo, depois do que fomos um para o outro?
– Não sabia que éramos amigos – indicou, recordando a forma como olhara para ela naquela noite desgraçada, em que ela lhe dissera que não voltariam a ver-se.
Ainda conseguia ouvi-lo a dizer que a amava. Ela teria desejado poder dizer o mesmo, mas mentira. Magoara-o. Vira a cara dele, de deceção e dor. E depois, de raiva e ódio.
Agora, parecia que nada importava. Era frio e sereno, enquanto ela estava nervosa.
«Mas porquê?», interrogava-se. Fizera o que tinha de fazer. Não se arrependia de nada. Fizera o mais correto. Não podia antepor a sua felicidade ao bem-estar de todas as pessoas cuja subsistência dependia do negócio da cadeia Sullivan’s.
Roman fixou o olhar no xaile que lhe cobria os seios. Usava um vestido preto sem alças e sentiu-se como se estivesse nua, diante do olhar sombrio e penetrante dele.
– Deixemo-lo em velhos conhecidos – replicou ele. – Ou velhos amantes.
Ela desviou o olhar com ar trémulo, para a Quinta Avenida. O trânsito era muito intenso àquela hora. Os carros mal se mexiam. Talvez um veículo avariado estivesse a piorar o trânsito. O táxi demoraria a chegar. Como poderia suportar a espera?
– Não queres recordar? – perguntou Roman. – Preferes fingir que não houve nada entre nós?
– Sei muito bem o que houve entre nós, mas foi há muito tempo.
– Lamento o que se passou com o teu marido.
Ela sentiu uma pontada no coração. Pobre Jon! Se alguém merecera ser feliz em toda aquela história, fora ele.
– Obrigada – agradeceu, num tom emocionado.
Jon falecera há um ano, mas continuava a recordar com dor aqueles últimos meses em que a leucemia fizera estragos no corpo dele. Fora uma morte injusta.
Baixou a cabeça, tentando esconder as lágrimas. Jon fora o seu melhor amigo, o seu companheiro, e ainda sentia a falta dele. Recordou-se de que lhe dissera que tinha de ser forte, tal como ele fora, ao lutar contra a doença até ao último momento.
– Não funcionará! – exclamou ela, num tom firme.
– O que não funcionará, querida? – perguntou Roman, arqueando uma sobrancelha.
Ela sentiu um calafrio. Noutros tempos, aquelas palavras, com aquele sotaque russo, peculiar, tinham sido como uma carícia para ela. Agora, no entanto, sentia-as como uma ameaça.
Levantou a cabeça e olhou para ele fixamente. Roman tinha um sorriso irónico nos lábios.
Um demónio, um canalha desumano. Transformara-se nisso. Era assim que o via naquele momento. Sabia que não voltara para lhe fazer um favor. Não ia ter piedade dela. Sobretudo, se chegasse a descobrir o seu segredo.
– Não conseguirás acalmar-me com as tuas palavras. Sei o que queres e estou disposta a lutar.
– Parece-me bem mas, desta vez, não ganharás – afirmou, esboçando um sorriso. Depois, acrescentou, olhando para ela com os olhos semicerrados: – É curioso, nunca teria imaginado que o teu pai podia deixar-te a gerir a empresa. Sempre pensei que aguentaria no escritório, até ao fim.
– As pessoas mudam – indicou, com frieza, sem conseguir esconder a sensação de temor que sentia ultimamente, cada vez que alguém lhe falava do pai.
Sim, as pessoas mudavam mas, por vezes, essas mudanças eram completamente inesperadas.
Sentiu-se invadida por uma onda de amor e tristeza, ao pensar no pai, sentado na sua poltrona confortável, a olhar para o lago através da janela. Havia dias em que a reconhecia, ao vê-la, mas a maioria das vezes não.
– A minha experiência diz-me o contrário. Ninguém muda realmente – contradisse, voltando a olhar para ela de cima a baixo. – As pessoas gostam que os outros pensem que mudaram, mas só o fazem para se proteger. Eu penso que não é verdade. Ninguém muda.
– Suponho que deves ter conhecido muito poucas pessoas. Todos mudamos. Ninguém é sempre igual.
– É verdade, mas só nas coisas sem importância, não no essencial. Uma pessoa cruel e desumana, não se torna compassiva e bondosa da noite para o dia.
Caroline sabia que estava a falar dela, referindo-se à noite em que ela desprezara o seu amor. Gostaria de se desdizer, de dizer a verdade, mas... De que serviria?
– Por vezes, as coisas não são aquilo que parecem – indicou ela. – As aparências podem ser enganadoras.
– Ninguém melhor do que tu para dizer uma coisa assim – troçou, dirigindo-lhe um olhar frio como o gelo.
Ela compreendeu a acusação irónica, mas fingiu não perceber.
– Em todo o caso, o meu pai mudou a sua vida e está a desfrutar da sua quinta, no campo. É um descanso merecido. Trabalhou muitos anos.
Cerrou os dentes e olhou para a rua, com a esperança de ver chegar um táxi e que ele não a visse a chorar. Normalmente, sabia controlar as suas emoções, mas pensar na doença do pai, na presença do homem que amara, era superior às suas forças.
– Não sabia que estavas interessada em tomar conta dos negócios, um dia – indicou Roman, em tom de brincadeira. – Pensei que estavas mais interessada noutro tipo de coisas.
– Como ir às compras e à manicura, não é? – perguntou, desviando o olhar. – Enganas-te, essas nunca foram as minhas prioridades.
Certo, mas tinham sido as dos pais. As mulheres Sullivan não sujavam as mãos a trabalhar. Casavam com homens que tinham uma boa posição e dedicavam-se a obras de beneficência. Ela expressara o seu desejo de aprender os meandros do negócio e o pai, Frank Sullivan, num ato de condescendência, acedera a ensinar-lhe algumas coisas, mas sempre estivera no pensamento de todos, que seria Jon a gerir a empresa quando Frank se reformasse.
No entanto, agora, depois da morte de Jon e da doença inesperada de Frank Sullivan, ela era a única opção viável. E era muito boa em tudo o que fazia. Era obrigada a ser.
– Tiveste um mau ano – afirmou Roman, suavemente.
Assustou-se ao ouvir as palavras dele. Tinha razão. Fora um mau ano para ela, mas ainda conservava a cadeia Sullivan’s. E o que era ainda mais importante, tinha o filho e estava disposta a fazer qualquer coisa, para que um dia herdasse o império Sullivan’s.
– Podia ter sido pior – replicou, sem olhar para ele nos olhos.
Era algo que se repetira constantemente nas últimas semanas, embora não conseguisse ver que coisas piores poderiam ter acontecido, depois de ter perdido o marido por causa de um cancro e de agora ter o pai com demência senil.
– E é, Caroline – observou ele. – É por isso que estou aqui. Não costumo entrar em cena, até uma empresa estar em apuros e não conseguir pagar aos seus credores.
Caroline compreendeu tudo, de repente. Estava a falar das suas lojas. Da Sullivan’s. Por um instante, pensara que tentaria ajudá-la. Contudo, por que motivo o faria? Ela era a última pessoa por quem ele sentiria algum tipo de compaixão.
– Roman, colheste muitos êxitos nestes últimos anos, mas tenho de te dizer que, desta vez, não estás bem informado. Não conseguirás apropriar-te da Sullivan’s, por muito que tentes – afirmou, muito séria. Depois, acrescentou, apontando para os carros que enchiam a Quinta Avenida e as carruagens de cavalos que passeavam os turistas junto do Central Park: – Foi um ano muito mau para todos, mas olha à tua volta. A cidade está viva. Toda esta gente que vês está a trabalhar e precisa dos produtos da Sullivan’s. Querem aquilo que nós temos. As nossas vendas subiram vinte por cento neste trimestre e a tendência é continuarem a subir.
– É verdade, Caroline – replicou Roman, esboçando um sorriso de troça. – Uma das tuas lojas aumentou as vendas em vinte por cento, mas a maioria teve perdas. Devias ter vendido as menos rentáveis, para não te veres na situação em que estás.
– Obrigada pela tua opinião, mas ninguém a pediu – declarou, secamente.
– Fiz a minha própria pesquisa de mercado e sei que a Sullivan’s tem os dias contados – esclareceu Roman. – Se queres conservar as tuas lojas, terás de cooperar comigo.
Caroline ergueu o queixo. Era um gesto habitual nela, desde que assumira a direção da Sullivan’s. Já não era aquela jovem e ingénua que, há cinco anos, se apaixonara por aquele homem, contrariando a razão e o bom senso.
– Por que razão haveria de confiar em ti? Pensas que vou dar-te o controlo da Sullivan’s, com a esperança de que a salves? Essas lojas estão na minha família há cinco gerações. Estaria louca, se tomasse uma decisão como essa. Acredita, não sou nenhuma estúpida.
Felizmente, um táxi abriu caminho por entre o trânsito e parou na calçada.
– Senhora, o seu táxi! – exclamou o porteiro uniformizado, abrindo-lhe a porta com muita solenidade.
Caroline entrou no veículo. Ia dar a morada ao condutor, quando viu Roman à porta, a tentar entrar.
– Este é o meu táxi! – protestou.
– Vou na mesma direção – indicou ele, sentando-se ao lado dela e dando ao condutor uma morada do distrito financeiro.
Estava furiosa, mas tentou manter a calma. O coração estava acelerado. Não podia permitir que Roman a acompanhasse a casa e descobrisse onde vivia. Se Ryan decidisse sair por alguma razão...
Deu uma morada de Greenwich Village ao taxista, mas não a de casa. Deu-lhe outra que ficava a dois quarteirões da dela. Poderia sair e ir a pé.
– Como sabias que íamos na mesma direção? – perguntou ela, quando o táxi arrancou.
– Não sabia, mas não tenho pressa – respondeu ele, encolhendo os ombros. – Ter-te-ia acompanhado na mesma, mesmo que fosses na direção contrária. Depois, teria dado a volta.
– Parece ser uma perda de tempo – indicou, ajustando o xaile nos ombros.
– Exatamente o contrário. Assim, poderei estar a sós contigo.
Caroline sentiu um aperto no coração. Um rubor intenso subiu pelas suas faces, ao recordar os beijos clandestinos que tinham dado no passado, enquanto partilhavam um táxi como aquele.
Tentou não pensar nisso. Deslocou-se no banco, para ficar o mais longe possível dele e ficou a olhar pela janela, para as pessoas que passavam na rua. Viu um casal na calçada, a rir-se e a beijar-se. Sentiu inveja.
Quando virou a cabeça, sentiu os olhos de Roman a observá-la atentamente.
– Ah, o amor! – exclamou ele, num tom de cinismo.
Caroline fechou os olhos e engoliu em seco. Esteve tentada a pedir perdão pelo que fizera no passado, mas mordeu o lábio inferior para não o fazer. Já tinham dito tudo, há cinco anos. Era demasiado tarde e ele também já não era o mesmo homem.
– O que queres de mim? – perguntou ela, num tom de voz que lhe pareceu estranho.
– Sabes perfeitamente o que quero e porque vim.
– Penso que estás a perder tempo. A Sullivan’s não está à venda.
Houve um longo silêncio. Depois, ele deu uma gargalhada.
– Venderás, Caroline – replicou Roman, num tom profundo e sensual. – Vais fazê-lo, porque não suportarás ver como a empresa da tua família se afunda. Continua a insistir e verás como os fornecedores começarão a cortar-te as linhas de crédito. Deixarão de te servir os pedidos e as tuas lojas ficarão sem artigos. A reputação da Sullivan’s reside na qualidade e no seu caráter exclusivo. Estarias disposta a renunciar às boas marcas e conformar-te com produtos de segunda categoria, tendo de dizer aos teus clientes que já não podes dar-te ao luxo de lhes oferecer o melhor caviar russo, o melhor salmão fumado, os bolos mais seletos de Josette, as malas dos melhores estilistas italianos ou os fatos mais exclusivos?
Caroline tremeu ao ouvir aquelas perguntas, pois eram inquietantes. Já analisara a lista dos seus fornecedores e estudara a forma de fazer cortes, sem afetar a qualidade da marca Sullivan’s. As lojas do tipo delicatessen, tinham um custo muito elevado para a empresa e pensara em reduzi-las ou até suprimi-las.
Gostaria de poder falar com o pai e com Jon mas, infelizmente, nenhum deles podia assessorá-la. Tinha de ser ela a tomar essas decisões tão difíceis. E estava disposta a tomá-las. Por Ryan. A família era tudo para ela.
– Não tenciono discutir isto contigo – declarou, no tom mais firme que pôde. – Ainda não és o dono da Sullivan’s. Enquanto eu estiver a gerir a empresa, as tuas opiniões carecem de valor para mim.
– Penso que não entendes a gravidade da situação, solnyshko. É inútil aquilo que dizes. A bancarrota da tua empresa é tão inevitável como o pôr do sol ao entardecer.
– Nada é inevitável. Tenciono lutar contra ti, com todos os meios ao meu alcance. Não ganharás.
– Enganas-te – contradisse, exibindo um sorriso tão letal como atraente. – Desta vez, vou levar a minha avante.
– Isso é uma ameaça? Não podes comprar a Sullivan’s, impulsionado por um desejo de vingança.
– É isso que pensas, querida? Estive a dar mil voltas ao que aconteceu naquela noite... Aos meus... Sentimentos. E cheguei à conclusão de que não eram realmente o que tinha imaginado. Estive apaixonado por ti, é verdade, mas sentir amor? Não, isso não.
Ela não devia ter sentido dor ao ouvir aquelas palavras, mas magoaram-na no mais fundo da sua alma. Amara-o tanto, que estivera convencida de que a correspondia. E agora, acabava de dizer que nunca a amara. Fora tudo uma ilusão.
– Então, porque vieste? – perguntou, muito séria. – Porque te preocupas com a Sullivan’s? Já tens uma das cadeias comerciais mais importantes do mundo. Não precisas das minhas lojas.
Roman esboçou um sorriso irónico e inclinou-se para ela. Os olhos dele brilhavam como pirilampos, sob o reflexo das luzes do trânsito. Sentiu um calafrio, ao pensar no que ele queria fazer e na forma como poderia reagir.
– Tens razão, não preciso das lojas, mas desejo-as. Tal como te desejo a ti.