Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2013 Lynn Raye Harris
© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.
Aroma de traição, n.º 1546 - Junho 2014
Título original: The Change in Di Navarra’s Plan
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-5162-7
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
– Eh, tu, levanta-te!
Holly Craig levantou o rosto e viu o homem alto e imponente. Sentiu um nó no estômago face à pura beleza viril dele. Tinha o cabelo escuro, olhos cinzentos e penetrantes e um queixo que parecia esculpido em mármore. Um nariz elegante e umas maçãs do rosto pronunciadas completavam a fisionomia.
– Vamos, rapariga, não tenho o dia todo – insistiu, num tom sofisticado e cortante.
Italiano, pensou Holly. O sotaque italiano não era marcado, mas refinado e suave como um bom vinho. Ou como um bom perfume.
Holly agarrou na mala, uma mala em segunda mão que nem sequer era de pele, e mudou de posição no sofá.
– Penso que houve um mal-entendido...
Ele estalou os dedos.
– Vieste para me ver, não foi?
Holly engoliu em seco.
– É o senhor Di Navarra?
– Naturalmente – confirmou, sem esconder a sua irritação.
Holly levantou-se, nervosa e corada. Não devia ter duvidado de que aquele homem era o poderoso presidente da Navarra Costmetics. Além disso, vira a fotografia da pessoa de que o seu futuro podia depender. Todos sabiam quem era Drago Di Navarra.
Segundo parecia, todos, exceto ela. A entrevista era muito importante e começara muito mal. «Calma, ma belle», teria dito a avó. «Não há nada que te impeça de fazer isto.»
Holly tentou apertar-lhe a mão.
– Sim, senhor Di Navarra, sou Holly...
Contudo, Di Navarra, com um ar desdenhoso, interrompeu-a:
– Não interessa quem és – Di Navarra semicerrou os olhos ao fixar-se nela. Apesar de usar o seu melhor vestido, era de há cinco anos. Porém, era preto e não era mau. Era o único que tinha.
Confusa com a situação estranha, Holly ergueu o queixo. No entanto, conteve-se para não o insultar pelo comportamento indelicado, pois não queria estragar tudo.
– Vira-te! – ordenou ele.
Com as faces coradas, Holly deu uma volta.
– Sim – indicou à assistente que tinha ao lado. – Penso que esta servirá. Diz-lhe que vamos agora.
– Sim, senhor – acedeu a mulher, antes de se virar e regressar ao escritório de onde ambos tinham saído.
– Vamos! – ordenou Drago.
Holly tinha duas alternativas. Podia dizer que não, que não ia a lado nenhum. Podia dizer-lhe que era um mal-educado, que ela estava ali porque tinha uma entrevista e não para aguentar que falassem com ela com desdém e lhe dessem ordens.
Ou também podia segui-lo, descobrir a que se devia o comportamento estranho dele e aproveitar a oportunidade para lhe apresentar as suas ideias. Estava contente com os seus sucessos. Faziam-na pensar na avó e nas muitas horas que tinham passado juntas a pensar em como melhorar os perfumes em vez de se limitar a vender os que tinham às pessoas da zona.
Custara-lhe muito obter uma entrevista com aquele homem. Gastara todas as poupanças para chegar até ali, só tinha dinheiro suficiente para voltar para casa. Se desperdiçasse aquela oportunidade, perderia muito mais do que o dinheiro. Perderia o seu sonho e o da avó. Teria de voltar para casa e começar do zero.
Porque a avó morrera e perderia a casa em breve. Não podia dar-se ao luxo de a conservar. A menos que convencesse Drago Di Navarra a investir no seu negócio.
– Sim, vamos – acedeu.
Drago sentiu os olhos dela fixos nele, o que não tinha nada de extraordinário. Gostava de mulheres e esse tipo de coisas não o incomodava. Não, pelo contrário, era uma vantagem, sobretudo, tendo em conta a natureza do seu negócio.
O seu trabalho consistia em melhorar o aspeto das pessoas.
Usava produtos Navarra: sabonete, água-de-colónia, cremes e champô. E independentemente da pessoa com que falasse, insistia nos benefícios de usar esses produtos.
Agora, sentado no banco traseiro da limusina com uns papéis nas mãos, examinava a informação da pesquisa de mercado sobre a nova gama de produtos NC que ia ser lançada naquele outono. Gostou do que viu. Sim, gostou muito.
O que não gostava era da rapariga que a agência lhe enviara. Era a quarta modelo que via naquela manhã e, embora tivessem acertado finalmente, irritava-o que, em vez da primeira, fosse a quarta que apresentasse a mistura de inocência e sensualidade que requeria para a modelo da campanha de promoção.
Ia vender frescura e beleza, não o estereótipo de mulher das últimas modelos que vira, cuja dureza, especialmente visível no olhar, traía a imagem de inocência que queriam projetar.
Aquela rapariga, no entanto...
Olhou para ela com descaramento, satisfeito com o que via. Ela baixou imediatamente o olhar e corou. Uma sensação dolorosa apoderou-se dele. Teve uma reação visceral àquela doçura e o corpo endureceu como não acontecia há muito tempo. Não, não lhe faltavam mulheres para ir para a cama, mas tornara-se algo mecânico, não uma forma de escape ou uma maneira de relaxar.
A sua reação era interessante.
Voltou a passear o olhar pela rapariga e, novamente, pensou que gostava muito dela. Ela usava um fato barato, embora lhe assentasse bem. Calçava sapatos cor-de-rosa de salto alto e eram novos, a julgar pela sola em que ainda se via a etiqueta com o preço, visível quando a rapariga cruzara uma perna sobre a outra.
Inclinou a cabeça. Quarenta e nove dólares e noventa cêntimos.
Não eram sapatos Jimmy Choo nem Manolo Blahnik, certamente. Não imaginara que usaria uns sapatos de mil dólares, mas pensara que seria mais sofisticada.
Algo estranho, tendo em conta que o que realmente não queria era sofisticação. Porém, aquela rapariga era modelo de uma das melhores agências de Nova Iorque. Não devia estar mais bem arranjada? Por outro lado, talvez tivesse acabado de sair da aldeia e a agência a tivesse enviado numa atitude desesperada.
– Há quanto tempo trabalhas nisto? – perguntou ele.
Olhou para ele. Pestanejou. Tinha olhos azuis, cabelos loiros e umas sardas que salpicavam a pele pálida. Teria de avisar o fotógrafo de que não queria que eliminasse as sardas, pois enfatizavam a imagem de frescura.
– Nisto?
Drago conteve a sua impaciência.
– Sim, cara, há quanto tempo trabalhas como modelo?
Ela voltou a pestanejar.
– Ah, bom, eu...
– Não vou enviar-te de volta para casa, mesmo que este seja o teu primeiro trabalho – tranquilizou-a. – A única coisa que importa é que a máquina fotográfica goste de ti. Portanto, por mim, é-me indiferente se acabaste de sair da quinta dos teus pais.
Ela voltou a corar. Daquela vez, ergueu o queixo. Os olhos mostravam fúria.
– Não vejo porque tem de ser tão indelicado – queixou-se ela. – Mesmo que seja rico, ter um pouco educação e boas maneiras é sempre bom.
Drago teve vontade de se rir. Era como se um cachorrinho lhe tivesse rosnado. A tensão começou a desaparecer.
– Peço desculpas pelas minhas más maneiras – desculpou-se.
Ela cruzou os braços e adotou uma expressão séria.
– Nesse caso, obrigada.
Drago pousou os papéis no banco.
– É a primeira vez que vens a Nova Iorque?
Viu-a a humedecer os lábios com a língua. Sentiu-se excitado.
– Sim – respondeu ela.
– De onde és?
– Do Luisiana.
Drago inclinou-se para a frente, consciente de que tinha de a fazer sentir-se confortável se quisesse tirar proveito da sessão de fotografias.
– Não te preocupes, farás um bom trabalho – tranquilizou-a ele. – A única coisa que tens de fazer é mostrar-te tal como és à frente da máquina fotográfica, não tentes parecer sofisticada.
Ela baixou o olhar e passou as pontas dos dedos pelo seu casaco.
– Senhor Di Navarra...
– Drago. E trata-me por tu, por favor – interrompeu-a ele.
Ela voltou a levantar o olhar. Os olhos azuis mostravam preocupação. Subitamente, desejou beijá-la e erradicar aquela expressão. Era uma coisa estranha nele. Não era que não saísse com algumas modelos, mas aquela rapariga não era o tipo de modelo com que costumava sair. Gostava de mulheres altas, elegantes e de aspeto gélido.
Saía com mulheres que não eram idealistas a perseguir um sonho, como aquela parecia ser. Aquilo despertou o seu instinto protetor e sentiu vontade de a mandar de volta para o Luisiana.
Queria que aquela rapariga voltasse para casa, que deixasse de sonhar com conseguir fama e fortuna em Nova Iorque. Aquela cidade destrui-la-ia. Numa questão de meses, acabaria drogada, alcoólica e vomitaria todo o dia com o fim de perder alguns quilos que a indústria da moda, estupidamente, afirmava que tinha a mais.
Contudo, antes de conseguir dizer-lhe o que pensava, o carro deteve-se e a porta, quase imediatamente, abriu-se.
– Ainda bem, senhor Di Navarra – declarou o diretor de cenários. – A rapariga não veio e...
– Está comigo – interrompeu-o Drago.
O outro homem virou a cabeça e viu-a.
– Excelente! – o homem estalou os dedos e olhou para ela. – Vamos. Temos de te maquilhar.
Drago sorriu com a intenção de a animar ao ver a expressão de horror dela.
– Vamos, Holly, vais ver que correrá tudo bem. Vejo-te no fim da sessão.
Ela pareceu aliviada.
– A... Sério?
Parecia sentir-se muito sozinha naquele momento. Então, sem saber porquê, perguntou à rapariga:
– Tens alguma coisa para fazer esta noite?
Ela abanou a cabeça.
Drago sorriu. Sabia que não devia, mas ia fazê-lo na mesma.
– Nesse caso, jantaremos juntos.
Holly nunca comera num restaurante elegante, mas ali estava e, além disso, num salão privado e acompanhada pelo homem mais bonito que vira na sua vida. E o seu fascínio por ele aumentava com cada segundo que passava.
Não tinham começado bem, mas a relação entre os dois estava a melhorar. Na verdade, Drago era um homem muito... Agradável.
Só havia um problema, pensou Holly, com o sobrolho franzido, enquanto lhe falava da sessão fotográfica daquele dia. Ela não era uma modelo, mas estivera no meio de Central Park e deixara-se maquilhar, vestir e pentear. Depois, ao encontrar-se à frente do fotógrafo, ficara imóvel enquanto se interrogava como pudera permitir que as coisas chegassem tão longe.
Quisera falar com Drago Di Navarra sobre os seus perfumes, mas os acontecimentos tinham-na arrastado e, finalmente, fora demasiado tarde. Calara-se, em vez de se explicar como devia ter feito. No entanto, temera que, se explicasse quem era e o motivo da sua presença ali, ele se zangasse com ela.
E isso não lhe convinha.
Depois, Drago levara-a a jantar e ela continuara calada como uma menina assustada. Ainda usava o último vestido que usara durante a sessão fotográfica, um vestido de seda e uns sapatos de Christian Louboutin. De certo modo, a experiência estava a ser como um sonho. Encontrava-se em Nova Iorque, a jantar e a beber vinho com um dos homens mais atraentes do mundo e queria gravar tudo até ao último detalhe na sua memória.
No entanto, de certo modo, era um dia infeliz. Fora lá para apresentar os seus perfumes, não como modelo da Navarra Cosmetics. Como ia explicá-lo? Em que momento?
No entanto, tinha de o fazer. E depressa. Contudo, cada vez que abria a boca com a intenção de lhe dizer, alguma coisa a impedia. Interrupções, distrações. E quando Drago estendeu o braço e lhe agarrou a mão, ficou com a mente em branco.
– Foste fabulosa, Holly – elogiou ele.
Então, levantou-lhe a mão e beijou-a. Uma corrente elétrica percorreu-lhe o corpo e parou no centro da sua feminilidade, fazendo-a sentir coisas que nunca sentira.
Na sua terra natal, tivera um namorado. Beijara-a. Não tinham feito mais nada porque ela não quisera. No fim, ele acabara com ela e ficara com a amiga, Lisa Tate. Ainda a magoava.
– És muito egoísta, Holly – acusara-a o namorado. – Só te preocupas com os teus perfumes.
Holly voltou ao presente e tentou ignorar os batimentos do coração. Sabia o que significavam. Embora nunca tivesse feito amor, não era tola. Desejara Colin, mas não o suficiente para sucumbir a ele.
No entanto, com aquele homem, conseguia imaginar-se a sucumbir. Sentiu um aperto no coração ao fixar os olhos nas profundidades cinzentas dos dele.
«Diz-lhe Holly. Diz-lhe agora.»
– Obrigada – agradeceu ela, baixando o olhar.
– És muito natural. Não tenho dúvida de que chegarás muito longe como modelo se não permitires que a indústria te corrompa.
Holly abriu a boca para falar, mas o telemóvel dele tocou. Drago, ao ver quem era, disse algo em italiano que, a julgar pelo tom, devia ser uma blasfémia.
– Desculpa-me – indicou ele. – Tenho de atender a chamada, é importante.
– Sim, claro – acedeu ela.
Enquanto esperava que Drago acabasse, Holly reparou no papel de seda das paredes e nas decorações douradas e teve a sensação de estar noutro mundo. O que fazia ali? Como estava a jantar com um multimilionário?
Aquela viagem a Nova Iorque estava a ser extremamente estranha.
Porque não se atrevia a dizer o que tinha de dizer? Tudo seria mais fácil se tivesse as amostras dos seus perfumes, mas, infelizmente estavam numa caixa e a caixa estava dentro do carro. O que a preocupara, mas Drago convencera-a de que os seus pertences estariam a salvo.
Contudo, desejou ter a caixa consigo para poder abri-la e mostrar-lhe as amostras.
Drago desligou e voltou a desculpar-se pela interrupção.
– Desculpa-me, bella mia. Como vês, a indústria da beleza nunca descansa.
– Não há problema – tranquilizou-o, sorrindo.
Tinha o coração acelerado, pois escolhera um plano de ação. Assim que tivesse a caixa com as amostras, explicaria àquele homem porque estava ali. Estava certa de que Drago não conseguiria dizer que não, depois de cheirar o perfume Colette.
Trouxeram-lhes o jantar e, pouco a pouco, Holly foi relaxando. Drago era encantador e mostrou interesse por tudo o que lhe dizia.
Holly falou-lhe do Luisiana, da avó, sem mencionar o perfume, e da sua viagem de autocarro para Nova Iorque.
Drago pestanejou.
– Vieste de autocarro?
Corando, Holly baixou a cabeça.
– Não tinha dinheiro para um bilhete de avião – explicou ela. Gastara quase tudo o que tinha naquela viagem para falar com aquele homem.
Que era o que estava a fazer, embora não assim.
Bebeu outro gole do vinho branco delicioso.
– Ena, vens mesmo de uma aldeia – observou ele, não a modo de insulto, mas quase com admiração.
– Sim, suponho que sim – confirmou ela.
– E sonhas com novos horizontes e com as oportunidades que Nova Iorque pode oferecer – daquela vez, o tom de Drago foi mais sombrio.
No entanto, ela não permitiu que isso a incomodasse. Talvez se devesse ao efeito do vinho.
– Todos têm sonhos, não têm?
De repente, Drago acariciou-lhe um braço.
– Eu também tenho um sonho – afirmou, num tom melodioso. Estava muito perto dela e aproximava a boca da dela.
Drago acariciou-lhe a face e passou os dedos pelos seus cabelos... E ela pensou que ia derreter-se. Desejava-o e não se importava com o dia seguinte, a única coisa que queria era que aquele homem a beijasse.
Drago cobriu-lhe os lábios com os dele e ela fechou os olhos. O coração parecia querer sair-lhe do peito. Nada importava. Estava imersa na beleza e na perfeição daquela noite. Era como um conto de fadas: ela era a princesa que, finalmente, encontrara o seu príncipe.
A gargalhada de Drago era suave e profunda. Reverberante. Sentiu-a a vibrar no seu corpo e tremeu de desejo.
O beijo de Drago deixou-a com falta de ar. Foi um beijo doce, perfeito.
Porém, queria mais. Inclinou-se para ele e Drago voltou a rir-se, antes de lhe separar os lábios e de lhe introduzir a língua na boca.
Holly não pôde evitar um gemido de prazer.
De repente, o beijo tornou-se mais exigente, mais ardente e possessivo. Nunca sentira algo assim. Sentiu a força do beijo nos mamilos. Sentia-se cada vez mais excitada.
Queria estar mais perto dele. Precisava dele. Rodeou-lhe o pescoço com os braços e agarrou-se a Drago.
Finalmente, Drago afastou-se dela.
– O meu sonho é que venhas comigo para casa esta noite – sussurrou-lhe Drago ao ouvido.
Holly ficou a olhar para Drago, enquanto se levantava e lhe oferecia a mão. Queria estar com ele. Não queria que aquela noite acabasse.
Queria tudo o que Drago pudesse oferecer-lhe.
Holly deu-lhe a mão e sentiu a pele a arder.
– Sim – acedeu, timidamente. – Eu também gostaria.