Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2000 Margaret Wilkins
© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.
Ódio e sedução, n.º 22 - Outubro 2014
Título original: A Warrior’s Kiss
Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), acontecimentos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-5837-4
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
Para Tanya Hughes, Margaret Turner, Gail Brodeur e todas as leitoras que tomaram um pouco do seu tempo para me escrever. Não sabem o muito que as vossas cartas significam para mim e agradeço-vos do fundo do meu coração por iluminarem os meus dias.
Aliviado por ter um momento de descanso, ao afastar-se das ruidosas celebrações que tinham lugar no salão, sir Trystan DeLanyea caminhava junto da paliçada do castelo do pai.
A colheita fora boa e todos os que viviam em Craig Fawr e arredores estavam a celebrar e a dançar no salão. Àquela hora da noite, o ar estava impregnado com o cheiro a fumo e corpos suados, misturado com perfumes caros e especiarias.
Trystan encheu os pulmões de ar, suspirou e apoiou-se numa das ameias. O pai tinha passado anos a construir aquela fortaleza, depois de regressar das Cruzadas. Agora, era tão forte e confortável como qualquer lorde poderia desejar, sendo também um tributo imponente à determinação e perspicácia comercial do pai.
Quando Trystan contemplou o pátio interior, divisou o lugar onde há três anos tinha acertado no centro do alvo com a sua lança, algo que nem sequer Griffydd, o seu irmão mais velho, jamais tinha conseguido. Fora um dia fantástico, até que a impertinente Mair tinha passado por ali com um carregamento de cerveja e tinha arruinado a sua alegria ao dizer que os alvos lhe pareciam maiores, cada vez que ia ao castelo.
Embora fosse o filho do barão DeLanyea, ela nunca o tinha respeitado e nem sequer simpatizava com ele. Mair troçava e ria-se dele desde que eram crianças.
Para Trystan não havia dúvida de que tudo teria sido diferente se fosse o mais velho, como Griffydd, ou um barão por direito, como Dylan, seu primo e irmão de leite.
Mas não era. Para todos os habitantes de Craig Fawr, Trystan continuava a ser um «rapaz», como Dylan insistia em dizer ao dirigir-se a ele, apesar de ter sido nomeado cavaleiro.
«Um dia, tudo isso vai mudar», pensou Trystan. Ele, sir Trystan DeLanyea, iria converter-se no DeLanyea mais famoso, rico e respeitado de todos, mais do que o pai, que tinha perdido um olho ao lutar ao lado do rei Ricardo, na Terra Santa.
Trystan sorriu, ao pensar como se tinha dado conta de que podia iniciar o seu caminho para a fama e o êxito. Iria casar com a mulher adequada e quem poderia ser melhor do que a bonita e desejável nobre normanda que conhecera, lady Rosamunde D’Heureux, que estava de visita ali, com o pai?
Sir Edward D’Heureux não tinha um grande título, mas a sua família tinha muito mais poder e influência na corte do que muitas outras, incluindo a de Trystan. Qualquer homem que se aliasse a ele teria grandes oportunidades para avançar. De facto, o homem que ficasse com lady Rosamunde, poderia esperar obter até o reconhecimento do rei. E um homem que tivesse o reconhecimento do rei poderia chegar muito longe, certamente, muito mais do que qualquer irmão mais velho, casado com uma mulher do norte, ou um primo instalado num castelo galês.
A ideia de contrair um casamento assim não parecia impossível, ao recordar como lady Rosamunde lhe tinha sorrido e tinha dançado com ele nessa noite, antes de se retirar.
«Também devia retirar-me», pensou, enquanto bocejava. Deveria acompanhar lady Rosamunde à missa, pela manhã.
Virou-se e dirigiu-se para as escadas que conduziam ao pátio interior. Passou em frente da sentinela de guarda, junto da primeira torre de vigia, e sem reparar na sua rápida saudação prosseguiu o seu caminho e entrou na parte mais afastada da paliçada. A luz da lua não chegava ali.
De repente, duas mãos surgiram na escuridão, agarraram-no pela túnica e puxaram-no para as sombras. Antes de Trystan conseguir gritar, a pessoa que o atacava pressionou o corpo voluptuoso contra ele e beijou-o apaixonadamente.
Era o beijo com que qualquer homem sonharia. Um beijo perfeito, firme, embora suave. Uns lábios que transmitiam desejo e lhe tiravam a respiração. A boca sabia a mel e especiarias, e as madeixas de cabelo faziam-lhe cócegas no rosto.
Um homem podia embebedar-se com um beijo assim.
À medida que o seu próprio desejo aumentava e rodeava a mulher com os braços, Trystan interrogou-se sobre quem seria.
Lady Rosamunde? Era muito tímida e delicada para uma paixão assim e, além disso, saberia a vinho.
Uma das empregadas? Sim, talvez, se houvesse uma tão descarada.
Por acaso, isso importava?
O forte aroma a hidromel parecia misturar-se com o ar da noite e fazer parte dela e de Trystan, enquanto se entregava ao prazer daquele momento inesperadamente apaixonado.
Depois, com a mesma rapidez com que o beijo começara, a mulher afastou-se.
– Não és Ivor! – exclamou, furiosa e com uma voz que lhe era muito familiar.
Trystan praguejou em voz baixa, pois deveria ter adivinhado quem poderia saber e cheirar a hidromel.
– Santo Deus, Mair! – reclamou, tão furioso como ela, enquanto a agarrava pelos ombros. – O que estás a fazer?
Não conseguia ver a jovem que fabricava cerveja e hidromel para ganhar a vida, mas sabia que estivera no banquete. Como podia passar despercebida, com aquele vestido de seda escarlate, adornado a verde e dourado, tão elegante como qualquer dama? Era um vestido justo, sem dúvida, desenhado para realçar a sua figura e atrair a atenção dos homens. Na cabeça, usava um diadema escarlate que caía pelo pescoço e se agitava enquanto dançava.
Sim, Mair estivera no banquete, a dançar, a sorrir e a fazer esvoaçar o cabelo castanho como se fosse uma espécie de espírito das festividades, namoriscando com todos os homens, exceto com ele, porque sabia que não devia.
– Como deves imaginar, estou à espera de Ivor – respondeu, descarada e trocista, como sempre.
– O capitão da guarda? – perguntou Trystan, pensando no homem musculado, de cabelo escuro, que o pai tinha promovido recentemente a esse posto.
– Não é um assunto teu – respondeu Mair. Soprou e avançou para passar à frente dele.
Ao ouvir passos a aproximar-se, Trystan puxou-a para o canto e aprisionou-a com o seu corpo.
– O que estás a...? – protestou ela.
– Cala-te! A última coisa que quero é que nos vejam juntos – reclamou.
Ela riu-se e, em voz baixa, para que só ele pudesse ouvir, disse:
– Oh, não podemos permitir isso, claro. Caso contrário, Angharad pensará que a sua profecia estará prestes a cumprir-se.
O guarda deu a volta e começou a regressar ao seu posto, algo que Trystan mal percebeu pois parte da sua atenção estava centrada no comentário que fizera sobre Angharad, a suposta vidente que tinha profetizado que, um dia, aquela mulher impertinente e ele se casariam.
No entanto, parte da sua mente estava a tentar ignorar o toque do seu corpo contra o de Mair e a lembrança daquele beijo.
– Ambos sabemos que Angharad está enganada no que diz respeito a isso – murmurou ele. – Nunca casaria contigo.
– Qual é o problema, sir Trystan? – perguntou Mair, num tom zombador. – Parece ter ficado sem respiração.
– Não tenho nenhum problema – respondeu ele. E, para demonstrá-lo, aproximou-se mais. – Onde está Arthur? – perguntou, referindo-se ao filho ilegítimo que ela tivera há dez anos. – Não pode estar com o pai, porque Dylan não está aqui, esta noite.
– Não. E a esposa de Dylan também não. Uma pena, para ti.
Trystan cerrou os dentes imediatamente.
– Fosse o que fosse que sentia por Genevieve, desapareceu. Podes dizer o mesmo de Dylan?
Mair riu-se. Era a mesma reação que obtinha sempre que tentava falar com ela, como se os assuntos sérios não tivessem importância, se era ele que falava deles.
– Estás com ciúmes?
– De ti e dele? Nunca.
– Ah, bem. Tendo em conta que Dylan não estava comigo, antes do nascimento de Arthur, suponho que devo elogiar a tua sabedoria.
– Eu disse nunca – reclamou ele.
– Muito bem. Acredito em ti – respondeu Mair. – E, visto que és suficientemente amável para perguntar, o meu filho está com Trefor e Angharad, esta noite – respondeu, fazendo referência ao outro filho bastardo de Dylan e à mãe dele.
– Pelo menos, Angharad sabe como deve comportar-se.
– Angharad não terá outro amante porque é muito arrogante. Depois de ter o filho de um barão, não amará outro homem que não seja nobre.
– Foi ela que te disse isso?
– Conheces Angharad. Duvidas?
– Talvez lamente o facto de ter tido um filho com Dylan.
Mair desatou a rir.
– Não sejas tonto. Não lamenta e eu também não. Ou é a tua influência normanda que se manifesta? Sabes que aos galeses nada disso importa. Somos muito sensatos.
– Não é essa a palavra que eu usaria.
– E que palavra usarias? Não, espera, deixa-me adivinhar – respondeu, pondo-lhe um dedo nos lábios. – Pecadores – deslizou o dedo lentamente até ao queixo. – Luxuriosos. Lascivos.
Excitado, apesar da sua determinação em não estar, Trystan afastou-lhe a mão.
– Não te envergonhas minimamente por teres tido um filho fora do casamento?
– Anwyl, agora sei que estiveste muito tempo com os normandos. Não, claro que não me envergonho.
– E não te incomoda que Dylan se tenha casado com outra?
– Porque iria incomodar-me? Nunca falámos em casamento. Além disso, separámo-nos muito antes de ele conhecer Genevieve.
– Nunca te entenderei.
– Talvez não queira que me entendas.
– Não me importa o que fazes, nem com quem – respondeu, quase aflito com o desejo de saborear de novo aqueles lábios doces, com um toque a especiarias, de abraçar aquele corpo vibrante contra o seu.
– Fico feliz.
– Então, fica aqui e encontra-te com o teu amante.
– Penso que será melhor ir procurá-lo, porque está atrasado. Agora, deixa-me passar.
– Não penso deter-te.
– Estás no meu caminho.
Trystan ouvia o som dos batimentos do coração nos ouvidos.
– Estou?
– Sim.
Não se afastou. Em vez disso, rendeu-se à tentação a que não podia resistir mais e tomou-a nos seus braços.
E beijou-a com toda a força e paixão desencadeadas pelo primeiro toque dos seus lábios.
Ela pareceu ceder, mas só por um instante, antes de o afastar.
– Nem sequer gosto de ti! – protestou. E falava a sério, apesar do incrível desejo que o beijo de Trystan DeLanyea lhe tinha despertado.
Não, não gostava de Trystan, com aqueles olhos cinzentos e frios que pareciam censurá-la, como se a condenasse por desfrutar de tudo aquilo que a vida tinha para lhe oferecer, assim como aquilo que os homens lhe ofereciam.
Era bonito, como todos os DeLanyea, com o cabelo escuro do primo e uns lábios sensuais. Além disso, vestia bem. A túnica preta e as calças realçavam os músculos que só muitas horas de treino podiam desenvolver.
Mas havia outros homens tão bonitos como ele e com muito mais sentido de humor. De facto, se tinha os melhores traços de Dylan, também possuía os olhos cinzentos e severos do irmão mais velho, o rígido e sério Griffydd DeLanyea, que zelava pela sua honra como uma armadura.
– Também não me agradas – respondeu ele.
– Então, sai do meu caminho.
Afastou-se e fez um gesto de convite para ela passar. Ela deu um passo.
Não, ele não era Ivor. Não era Dylan, nem Ianto, nem nenhum dos homens com quem fizera amor.
Mas os beijos dele eram os melhores e desejava ter mais.
Portanto, puxou-o e beijou-o de novo. Desfrutou da surpresa e da paixão que sabia que despertava nele.
Mostraria a Trystan porque gostava de quase todos os homens.
Ele afastou-se, ofegante.
– Deverias comportar-te como uma mulher decente e ir para casa, dormir.
Pôs-lhe as mãos no peito e sentiu os músculos e os batimentos do coração acelerado através da túnica.
– Posso fazer aquilo que desejar. Sou uma mulher adulta.
Desatou-lhe o laço do colarinho e deslizou a mão sob a camisa para lhe acariciar a pele nua.
– Bom, estou a ver – respondeu, com a voz entrecortada, enquanto lhe acariciava descaradamente o seio através da seda do vestido.
Mair afastou a mão, mas só para a deslizar para cima e voltar a colocá-la sob a túnica e a camisa. Desejava sentir o corpo dele.
A respiração de Trystan estava cada vez mais entrecortada, enquanto lhe dava outro beijo apaixonado nos lábios. Ela abriu a boca e permitiu-lhe tocar na sua língua.
Depois, colocou-a com as costas contra a parede e Mair apercebeu-se de que estava a desatar o cordão do vestido, enquanto continuava a beijá-la.
Não, não era como os outros homens. Sempre tinha imaginado que seria assim.
Porque não descobrir tudo?
Enquanto continuava a acariciá-la, os laços do sutiã desataram-se. Com uma impaciência apaixonada, puxou-o para baixo e Mair ofereceu-lhe os seios. Quando Trystan prendeu um dos mamilos entre os lábios, esteve prestes a gritar de prazer devido às sensações que despertava. Mas manteve-se calada, com medo que o guarda pudesse ouvi-los.
Necessitava ter mais, estava desesperada e começou a mexer as ancas contra as dele.
Para lhe dar permissão. Para lhe perguntar. Desejava-o.
Procurou sob a túnica, até encontrar o cordão das calças.
Ofegante, Trystan aprisionou-a contra a parede e levantou-a antes de colocar as mãos nas nádegas nuas.
– Sim. Oh, sim – sussurrou, enquanto lhe agarrava nos ombros e lhe rodeava a cintura com as pernas.
Depois, com uma urgência premente e frenética, penetrou-a.
Mair mordeu o lábio, para evitar gritar de êxtase e recebeu cada investida poderosa. A tensão ia crescendo dentro dela e parecia retesar-se como a corda de um alaúde ao ser tocado.
E ele era como o jogral, que sabia perfeitamente como tocar no seu corpo, como se fosse um instrumento com que estava intimamente familiarizado até que, por fim, a tensão aumentou e Mair viu-se envolta num êxtase de sacudidelas de prazer.
Com o hálito quente contra o seu rosto, Trystan não soltou um único som, nem sequer quando ficou rígido e se deixou cair sobre ela, esgotado.
Mair apoiou a cabeça no ombro dele, exausta e satisfeita, enquanto a sua respiração regressava lentamente à normalidade.
Acabava de fazer amor com Trystan DeLanyea, de quem nem sequer gostava.
O remorso ocupou então o lugar que tinha ocupado a paixão, há momentos.
Trystan nunca tinha gostado dela, desde que eram crianças e ia à cervejaria do pai com o barão, o pai dele. Simplesmente, ficava ali, olhando-a com aqueles olhos sérios, como se houvesse algo terrível nela. Desesperada, troçava dele até obter uma resposta, embora aquilo que lhe dizia nem sempre fosse agradável de ouvir.
Mair deslizou as pernas até tocar no chão e afastou-se para deixar que a saia caísse e cobrisse a sua nudez, e a evidência daquele ato precipitado.
Quase ao mesmo tempo, Trystan virou-se, puxou as calças e atou a túnica.
– Lamento – murmurou. – Não queria fazer isto.
– Sim, sim, querias – respondeu, com o orgulho ferido por aquela atitude envergonhada, enquanto tentava atar o sutiã. – Se não tivesses querido, não o terias feito, portanto, não tentes negar.
Trystan olhou para ela e, quando falou, o seu tom era cortante.
– Arrependo-me disto e preferiria que esquecêssemos tudo o que aconteceu.
Mair disse a si mesma que não devia estar surpreendida, mas sentiu lágrimas nos olhos.
Mas, morreria mil vezes, antes de demonstrar que lhe fizera mal.
– O quê? – perguntou. – O que aconteceu? Nada, absolutamente nada!
– Alegra-me que estejas de acordo.
– Oh, estou de acordo, como é óbvio. Dylan tinha algo, tu não – respondeu.
E então, antes que pudesse fazer-lhe mais mal com as suas palavras, passou diante dele e desapareceu, descendo as escadas a correr.
Trystan ficou quieto, suspirou e passou a mão pelo cabelo. O que tinha acontecido? Como podia ter-se mostrado tão luxurioso, tão estúpido?
E com Mair, entre todas as mulheres!
Mair, que parecia estar sempre a rir-se dele, como se tudo o que fizesse fosse um tipo de brincadeira para seu divertimento e que, aparentemente, se deitava com qualquer homem que lhe pedisse.
Que tivera um filho com o seu próprio primo, fora do casamento.
Tinha de casar com a doce e inocente lady Rosamunde que, sem dúvida, reagiria com horror se se inteirasse do seu comportamento libidinoso e desonroso.
Deveria ter-se controlado, mas quem poderia resistir ao beijo de Mair? Que outro mortal poderia ter-se ido embora, quando uma mulher apaixonada e voluptuosa se aproximava dele com um desejo tão desinibido?
Nenhum homem que conhecesse, nem sequer Griffydd.
Pelo menos, sentia remorsos pelo seu comportamento lascivo, não era como Mair. Se tivesse sido qualquer outra mulher, teria fugido ao dar-se conta do seu erro, depois de o beijar.
Mas Mair não e entregara-se à tentação que ela representava.
Sim, era culpa dela, por o ter beijado de novo e por ser o tipo de mulher que esperava por um homem num lugar assim, por uma razão como aquela. Portanto, não se castigaria a si mesmo. Fora tudo por culpa de Mair.
Em qualquer caso, teria problemas, se lady Rosamunde viesse a saber do ocorrido. Devia assegurar-se de que isso não acontecia, mesmo que isso significasse ter de falar em privado com Mair. Tendo em conta a raiva dela, suspeitava que estaria tão ansiosa como ele por manter o encontro em segredo.
Iria vê-la no dia seguinte. Não correria para a procurar ao amanhecer pois, se saísse do castelo muito cedo, poderiam comentar e teria de dar explicações.
Não queria mentir.
Mair acelerou o passo, enquanto atravessava o pátio. Desejava chegar a casa depressa, ficar longe de Trystan e do resto dos DeLanyea.
Devia estar louca, para ter feito amor com ele!
E ele... Tinha muito descaramento, ao tentar fazer com que se sentisse envergonhada por algo que era natural. Sentia-se orgulhosa por ser a mãe do filho de Dylan e todos sabiam que Trystan fora apaixonado pela esposa de Dylan, Genevieve.
Sorriu sarcasticamente. Parecia que Trystan já tinha superado esse amor de adolescente.
– Mair!
Uma sombra masculina apareceu junto da porta e dirigiu-se para ela, armada e usando uma cota de malha. O cabelo escuro tocava nos ombros e o homem era alto.
Ivor.
– Onde estavas? – perguntou ela, com frieza, contemplando o rosto anguloso à luz da lua.
– Estava a dar a palavra-chave aos guardas, para esta noite – respondeu, enquanto esticava os braços para lhe agarrar nas mãos. – Estás linda com esse vestido, Mair.
Ela afastou-se.
– Pensaste que esperaria para sempre?
– Mair – sussurrou Ivor, com aquela voz profunda e aveludada, que era a coisa mais atraente que tinha. – Cumpri o meu dever, nada mais. Só isso me manteria afastado de ti. Isso e o teu período menstrual... Já acabou, certo?
– Sim.
– Não estás zangada porque cheguei um pouco tarde. Outras mulheres poderiam zangar-se, mas tu não. És muito bondosa para te desgostares por algo parecido.
Suspirou. Fizera o que fizera, não podia culpar outra pessoa.
– Não, não estou zangada contigo – respondeu.
– Alegra-me saber isso – disse Ivor, enquanto lhe apertava a mão. Começou a guiá-la para os armazéns. – O quartel está a abarrotar com soldados bêbados, esta noite.
Ela afastou a mão.
– Estou cansada, Ivor. Vou para a cama.
– Posso ir contigo. Acabei o trabalho por esta noite. O teu filho está com Angharad, não é verdade?
– Já disse que estou cansada, Ivor. Boa noite.
Mair seguiu o seu caminho e deixou o amante desconcertado e só, sob a luz da lua.
Na manhã seguinte, o barão Emryss DeLanyea suspirou, enquanto coxeava sobre o soalho do grande salão de Craig Fawr, para se reunir com o filho mais novo e tomar o pequeno-almoço. Tinham colocado mais mesas à volta, para dar de comer aos empregados e convidados, e um grupo de empregadas apressou-se a servir a primeira refeição do dia.
– Meu Deus! – exclamou o barão, ao sentar-se na cadeira. – Deve soprar vento do este, porque me dói muito a perna.
Virou-se para Trystan e olhou para ele inquisitivamente.
– Não dormiste, pois não? Foi pelo excesso de vinho ou por uma mulher?
– Papá! – exclamou Trystan. E olhou à sua volta.
Por sorte, a tímida lady Rosamunde ainda não tinha regressado da missa, onde Trystan não deixara de a admirar. Era como um anjo, com um vestido azul claro e o cabelo loiro, médio, escondido por um véu branco de seda. Teria ficado e teria esperado para a acompanhar de volta ao salão, mas temia parecer um homem desesperado. Por muito que a desejasse, queria manter a sua dignidade.
Também pensou que poderia falar melhor com ela, depois de ter falado com Mair.
– Muito bem – respondeu o barão DeLanyea. – Não me contes. Mas preferiria que fosse uma mulher acostumada ao vinho. Não tenho paciência para os bêbados.
– Sim, eu sei – respondeu. E olhou para o rosto sorridente do pai.
E viu o escrutínio agudo que havia no olhar do barão. O pai era meio cego, mas via sempre tudo. E se lhe passava algo ao lado, à esposa não.
«É quase impossível guardar um segredo dos meus pais», pensou Trystan, enquanto tentava não franzir o sobrolho.
– Então, trata-se de uma mulher. Bom... És jovem, portanto, imagino que é normal. Griffydd tinha as suas...
– Amantes – concluiu Trystan por ele. – E Dylan, claro. Desde que trate as mulheres com respeito, não é vergonhoso para elas, nem para mim.
Quando viu a cara do pai, desejou não ter dito nada.
– Sim, isso é verdade. E, aconteça o que acontecer, fica entre ela e tu.
Nessa ocasião, Trystan manteve a boca fechada.
– Só espero que estejas a namoriscar uma galesa e não uma normanda – salientou o pai, enquanto se inclinava para tirar um pedaço de pão da cesta que tinha à sua frente.
Mott, o cão de caça favorito do pai, um animal preto, enorme, cheirou e aproximou-se, obviamente, com a esperança de receber algumas migalhas.
– Gwen gosta de ti – continuou o barão. E apontou na direção da empregada, que era ligeiramente mais jovem do que Trystan.
Gwen era bonita, com curvas muito marcadas. Era simpática e amável, algo que qualquer homem desejaria. Trystan já lhe tinha roubado um beijo ou dois, na cozinha, mas era o mais longe que tinham chegado.
– Não vai casar com Ianto?
– Oh, sim, quase me esqueci.
– Eu não. E não estou a namoriscar com ninguém.
– Não? – o pai fez com que soasse como um pecado.
– Não! – exclamou Trystan. – O que têm de mal as mulheres normandas? Tu casaste com uma.
A resposta do pai foi uma gargalhada.
– A tua mãe é excecional.
Trystan tentou não fazer uma careta, por ter ouvido aquilo mil vezes. Não era nenhum segredo que o pai amava a sua mãe excecional, de uma maneira excecional.
Depois, o barão ficou sério.
– Quase todas as normandas são severas e ambiciosas – referiu. – E levam muito a sério a sua honra. Não é sábio prometer mais a uma normanda do que estás disposto a dar.
Trystan pegou num pedaço de pão. Em seguida, começou a esmigalhá-lo e a atirá-lo para o chão, onde esperava um Mott ansioso.
– Eu não prometi nada, a ninguém.
– Não é mais do que uma advertência, meu filho – disse o pai. – Não quero passar, de novo, pelos problemas que o casamento de Dylan causou.
Tendo perdido o apetite, Trystan puxou a cadeira para trás e ficou de pé.
– Eu também não. Asseguro-te, papá, que tentarei comportar-me com sabedoria e honra, em todos os aspetos.
O barão pareceu ficar surpreendido.
– Claro que sim, Trystan. Jamais pensei o contrário.
Trystan não respondeu. Simplesmente, virou-se e afastou-se.
O barão acariciou a cabeça a Mott.
– Penso que deveria ter uma conversa com a mãe – murmurou.
A sua opinião não mudou, ao ver o filho a parar junto da porta e a corar com prazer quando lady Rosamunde D’Heureux e o pai chegaram, para tomar o pequeno-almoço.