Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2014 Victoria Parker
© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.
Além da culpa, n.º 1595 - Março 2015
Título original: The Woman Sent to Tame Him
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-6422-1
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Se gostou deste livro…
Maio, Monte Carlo
Preparem-se, senhoras, porque o piloto Lothario Finn St George volta a entrar na lista dos mais ricos e famosos.
Depois de chegar ao porto do Mónaco na noite passada, rodeado de belezas, o homem que é considerado como sendo o mais bonito do mundo dirigiu-se para o Grande Casino, tal como James Bond, envergando um smoking e mostrando o seu sorriso característico. Armado com o seu encanto carismático, o hexacampeão do mundo cativou a multidão, apesar de o dono da Scott Lansing sugerir ao playboy que esqueça as festas loucas e tente mudar a sua má fama.
Segundo parece, os patrocinadores continuam a ameaçar retirar os quarenta milhões de libras que investiram para apoiar a equipa.
É verdade que Finn St George sempre provocou mas, ultimamente, parece estar a pôr os patrocinadores de produtos mais familiares à prova. De facto, na semana passada, foi fotografado a divertir-se, não com uma, mas com quatro mulheres, em Barcelona. Segundo parece, é dos que pensa que a variedade garante a qualidade.
No entanto, a dois dias da corrida anual Príncipe do Mónaco, suspeitamos que a agitada vida social de Finn é a última das preocupações de Scott Lansing, porque é evidente que o nosso piloto favorito está fora de jogo.
O terceiro lugar na Austrália foi um fracasso e as vitórias difíceis de St George, na Malásia e em Barém, deixaram Scott Lansing ao mesmo nível do seu rival, Nemesis Hart. Contudo, depois do acidente espetacular no mês passado, em Espanha, que o impediu de acabar a corrida, os fãs começaram a chamar-lhe o Desafiador da Morte e também perdeu vários pontos na classificação, deixando Nemesis Hart à frente, pela primeira vez, em vários anos.
St George está a perder a sua acuidade? Ou ficou afetado com o acidente trágico no passado mês de setembro, com o seu amigo Tom Scott?
Normalmente à frente dos outros, parece que o nosso querido playboy vai ter de se reformar, se não quiser que a Scott Lansing tenha sérios problemas económicos. Uma coisa é certa, enquanto o Mónaco espera pela grande corrida de amanhã, Michael Scott andará a passear de um lado para o outro, nervoso, à espera de um milagre.
Um milagre…
Com um gesto do pulso, Serena Scott atirou o jornal para o outro lado da secretária do pai.
– Têm razão em tudo, menos numa coisa. Não andas a passear de um lado para o outro.
Ele ficou em silêncio por uns instantes e a única coisa que se ouviu no escritório do iate foi a respiração de Serena e os batimentos acelerados do seu coração.
– Não, ainda não – respondeu, fixando os olhos escuros nela.
Serena tinha a sensação de que, finalmente, depois de várias horas a perguntar, ia descobrir por que motivo o pai a fizera levantar às três da manhã e viajar de Londres para a Costa Azul. Se o motivo era o que suspeitava, não achava graça nenhuma.
– Não sei o que te preocupa – começou por dizer, num tom amável, cruzando os braços. – Finn está a agir como sempre. Gosta de fazer amigos, sair à noite, beber, jogar, estar na cama com mulheres famosas e destruir carros. Nada fora do normal. Já sabias disso há dois anos, quando o contrataste.
– Na altura, ele não era assim – contrariou o pai. – E não é apenas isso. Finn…
Michael Scott franziu o sobrolho antes de continuar.
– O quê?
– Não sei como explicar. Age como se não tivesse acontecido nada, é como se quisesse matar-se.
Serena riu-se com incredulidade.
– Não me parece. O problema é que é tão arrogante, que pensa que é indestrutível.
– Há mais. Há algo… Escuro nele.
Escuro? Serena pensou no seu passado e tremeu. Até se aperceber de quem estavam a falar.
– Talvez tenha apanhado demasiado sol.
– Estás a ser deliberadamente obtusa! – protestou o pai.
Sim, era verdade, Finn St George retirava o pior dela, fizera-o desde que o vira pela primeira vez, há quatro anos…
Serena tentou ser neutra e não pensar numa das experiências mais humilhantes da sua vida. Preferiu pensar que era uma lição aprendida. Depois daquilo, começara a trabalhar como engenheira, com o famoso designer de carros da equipa, em Londres. E Finn continuara com a sua sede de brilhar para os meios de comunicação social, de que ela fugia como da peste. Portanto, por sorte, quase não tinham voltado a ver-se.
Infelizmente, até os terem apresentado, por pertencerem à mesma equipa, Serena tivera de fazer um grande esforço para não se deixar levar e Finn desafiara-a, e gozara com ela com o olhar. Era um homem odioso. Serena sabia que não era uma mulher fatal, em especial, com um Casanova tão superficial como aquele.
A sua falta de moralidade já a deixara doente, antes de lhe ter roubado o seu bem mais prezado.
Sentiu tamanha dor que cambaleou.
– Olha – acrescentou o pai, puxando o punho da camisa branca. – Sei que não se dão bem…
Que eufemismo…
– Mas preciso da tua ajuda, Serena – concluiu.
Soprou com incredulidade e olhou para o pai com o sobrolho franzido. Tinha quase cinquenta anos e parecia um ícone do cinema. Era um homem bonito e, embora não fosse precisamente uma figura paterna, eram bons amigos.
– É uma brincadeira, certo? – replicou, apesar de ter um nó na garganta. – Porque posso dizer-te que é mais fácil transformar-me no pior pesadelo de Finn St George, do que na sua suposta… Salvadora.
A ideia era ridícula!
O pai abanou a cabeça, revelando cansaço.
– Eu sei, mas questiono-me se não serás capaz de chegar a ele melhor do que eu. Porque, sinceramente, estou a ficar sem ideias. E os pilotos. E os carros… – afirmou o pai, exasperado. – Viste o acidente do mês passado? Vai acabar por morrer.
– Deixa-o morrer – declarou, como era habitual, sem pensar.
– Sei que não estás a falar a sério – repreendeu o pai.
Serena fechou os olhos, respirou fundo para tentar acalmar-se e pensou que era verdade. Não falava a sério. Talvez não gostasse dele, mas não queria que morresse.
– E recuso-me a perder outro rapaz, nesta vida.
Respirou fundo e, pela segunda vez, nos vinte minutos que passara ali, voltou a estudar o pai com o olhar. Talvez também fosse um playboy, mas tivera muitas saudades.
Quase lhe perguntou se continuava a sofrer com a perda do filho. Quase lhe perguntou se sentira saudades dela, mas nunca tinha conversas profundas com o pai. Nunca. Portanto, conteve-se.
Sim, era uma rapariga durona. Não chorava por tolices, nem se queixava por o mundo ser injusto. Que sentido teria? Era filha daquele homem, fora criada como sendo mais uma. Deixar-se levar pelas emoções não fazia sentido.
Portanto, apesar de ter um buraco enorme no coração, soube que teria de ser capaz de lidar com aquele homem e manter-se ocupada, continuar com a sua vida.
Era uma pena que o plano não estivesse a correr tão bem como planeara. Certos dias, doía-lhe tanto o coração que era quase insuportável. «Não sejas tonta, Serena. Consegues fazer tudo», pensou.
– De todos os modos, não podes ficar toda a temporada em Londres, a brincar com o protótipo. Pensei que, nesta altura, já estaria acabado.
– E está. Vamos fazer os últimos testes, ainda esta semana.
– Ainda bem, porque preciso de ti aqui. A equipa de design pode concluir os testes sem ti.
O pai dissera-lhe que precisava dela. Sabia sempre o que tinha de dizer e quando.
– Não, o que precisas é que controle o teu «mau rapaz». O problema é que não me apetece nada voltar a vê-lo.
– Não foi culpa dele, Serena – defendeu o pai.
– Dizes sempre isso.
Contudo, Finn levara Tom a uma festa, em Singapura, e voltara no seu jato privado enquanto o irmão regressara num caixão. E não era culpa dele? Não era culpa dele que o tivesse posto num barco, quando Tom não sabia nadar, e se tivesse afogado? E nem sequer tivera a decência de ir ao funeral!
Porém, não se incomodou em contrariar o pai, porque sabia que isso não levaria a nada.
– Então… O que queres que faça? Que lhe perdoe? Nem pensar. Que o faça sentir melhor? Não. Porque haveria de o fazer?
– Porque esta equipa está a afundar-se e duvido que queiras isso.
Suspirou.
– Sabes que não.
A equipa Scott Lansing era a sua família. A sua vida. Um grupo maravilhoso de amigos e tios adotivos, de que teria muitas saudades. Mas aquela conversa estava a trazer tantas lembranças que estava a ser difícil pensar com clareza.
– Tens de aceitar que não foi culpa de Finn – repetiu o pai. – Foi um acidente. Discutir sobre o assunto não beneficia ninguém, muito menos a mim.
Michael Scott apertou a ponte do nariz, como se quisesse travar uma das suas enxaquecas horríveis e Serena sentiu-se culpada.
O pai estava a sofrer. Todos estavam a sofrer. Em silêncio…
Mas, não sabia porquê. Cada vez que falavam do dia trágico, tinha a sensação de que estavam a esconder-lhe alguma coisa. E odiava isso.
Pedira ao pai para lhe dar mais detalhes, mas ele mudava sempre de assunto.
– Tom não ia gostar de te ver assim – acrescentou, incomodado. – Não gostaria que culpasses Finn, que tivesses uma vida rotineira, que não saísses de Londres e te dedicasses apenas ao trabalho. Chegou o momento de voltares a viver. De parares de fugir, de te esconderes.
– Não estou escondida!
O pai soprou com incredulidade.
Mas ela reconheceu, em silêncio, que talvez fosse verdade.
Fechou os olhos por um instante, pois estava muito cansada.
Perdera o irmão, o seu melhor amigo, e não queria continuar com a sua vida como se não tivesse acontecido nada. Fora criada para ser dura, era necessário, tendo em conta que viajava dez meses por ano, sempre rodeada de homens. Não era a melhor maneira de criar duas crianças, mas Serena adorava a sua vida.
Embora se tivesse questionado muitas vezes como teria sido ter uma mãe, viver numa casa normal e ir à escola todas as manhãs, sempre pensara que a sua vida era muito mais emocionante. E compensara a falta da mãe, com Tom. Sempre pudera contar com ele.
Mas ele já não estava presente. Já nada era emocionante e ninguém lhe dava a mão, à noite. «Não precisas que te deem a mão. És forte», disse a si mesma.
Engoliu o nó que tinha na garganta e acrescentou:
– Se o que dizes é verdade e realmente há um problema, como posso ajudar-te?
– Quero que Finn se interesse pelo protótipo ou que trabalhe nos teus últimos desenhos… Não sei, que se concentre em algo que não seja mulheres e álcool.
Impossível.
– Eu sou uma mulher.
– Só sob o ponto de vista técnico.
– Ena, obrigada…
Embora não quisesse parecer-se com as mulheres com quem Finn costumava sair. Serena usava sempre calças de ganga, em vez de saias, tinha poucas curvas e usava botas em vez de sandálias. E o cabelo ruivo, suave, era impossível de domar.
E adorava.
– A última coisa de que precisa é de outra amante – murmurou o pai. – Precisa de um pontapé no traseiro. De um desafio. E, sinceramente, quando estão juntos saltam faíscas. Portanto, estou a pedir-te. Ou melhor, estou a dizer-te que tens de me ajudar. Já estás na lista de pagamentos, portanto, só tens de vir para aqui e intervir.
Ela ficou em silêncio.
– Ou fazes isso ou terás de dizer adeus ao teu protótipo.
Serena soltou um grito abafado.
– Não te atreverias…
– Não?
Atrever-se-ia, sim. O pai pensava que o carro que Serena desenhara não tinha nada de especial e ela estava disposta a fazer qualquer coisa para lhe demonstrar o contrário.
Aquele protótipo era «o seu bebé». Três anos de trabalho árduo. Significava a sua inspiração e a de Tom. Tinham sonhado estreá-lo no circuito de Silverstone. E era a única coisa tangível que restava do irmão.
– Que golpe tão baixo, papá.
Evitou olhar para ela nos olhos.
– Estou desesperado.
Serena suspirou.
– Está bem. Tentarei… Alguma coisa.
Começou a sentir-se incomodada. Não sabia como lidar com aquele homem. Não fazia a mínima ideia.
– Tenho a certeza de que Finn conseguirá. No ano passado, também não começou bem. Os patrocinadores vão perdoar-lhe e esquecer tudo, assim que começar a ganhar. Temos o Mónaco no bolso. Aqui, ganha sempre. O que aconteceu hoje na classificação? Está em primeiro lugar, não é?
– Teve problemas com o motor – anunciou o pai, com um ar compungido.
– Então, amanhã, sairá em último? Num dos circuitos mais lentos e difíceis do mundo?
– Sim.
De repente, recordou a imagem que vira ao passar com a moto pelo porto e ficou furiosa. Levantou o braço e apontou na direção do bordel flutuante de Finn.
– E está ali, no… Iate? A celebrar o seu último fracasso com sexo e álcool?
O pai encolheu os ombros e isso enervou-a ainda mais.
– Nada o preocupa? É melhor não responderes a essa pergunta. Já sei a resposta.
Aquele homem só pensava nele! E aquilo era notícia? Era evidente que não tinha vergonha.
– Estou farta.
Atravessou a porta como um raio, batendo no chão com força, com as botas.
– Vou matá-lo. Com as minhas próprias mãos.
– Serena! Controla-te. Preciso dele.
Sim e ela precisava do irmão, mas recuperá-lo era tão impossível como conseguir controlar-se com Finn St George. Estava farta de ver aquele homem a causar problemas à sua família. À sua equipa. A ela. O irmão estava morto e o pai estava cada vez mais velho.
Como era possível que aquele tipo fosse tão egoísta?
Ia acabar com aquilo. Ia tomar as rédeas da situação.
Naquele preciso momento.