Editado por Harlequin Ibérica.
Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
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28001 Madrid
© 2000 Janice Davis Smith
© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Com muito amor, n.º 424 - agosto 2018
Título original: A Whole Lot of Love
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-9188-784-3
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Créditos
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
Capítulo Quinze
Epílogo
Se gostou deste livro…
– Não rejeita a ideia de vender o seu corpo por uma boa causa, pois não?
O primeiro pensamento de Ethan Winslow foi que aquela mulher tinha a voz mais sensual que alguma vez ouvira. O segundo, foi que se não tomasse atenção, acabaria por seguir aquela voz rouca e erótica até sabe-se lá onde.
– Oiça, menina...
– Laraway.
– Menina Laraway, aprecio o seu esforço, mas preferia passar-lhe um cheque.
Ela riu. Maldição, o riso era ainda mais sensual e profundo.
– Teremos muito prazer em aceitá-lo também, mas realmente gostaria de uma coisa mais corpórea, para assim dizer.
– Leiloar o meu traseiro? – inquiriu, com ironia.
– Segundo tenho ouvido, é um excelente traseiro.
Disse-o com tanto júbilo que ele sorriu sem querer. Estava sentado a discutir sobre o seu traseiro e o leilão, ao mesmo tempo, com uma mulher que nunca tinha visto e que tinha uma voz que provocava sonhos eróticos nos homens.
– E quem é que lhe disse isso?
– Oh, tem muitas fãs nesta cidade, senhor Winslow. Não vai querer desiludi-las, pois não? Pelo que me disseram, o senhor poderá conseguir o preço mais elevado da noite.
– Estou a ver que lhe disseram muitas coisas.
– É um defeito – suspirou, com exagerado dramatismo. – As pessoas falam comigo.
Ethan riu. O seu riso soou-lhe estranho e perguntou-se se a sua irmã mais nova teria razão e ele tornara-se demasiado sério.
– Estou a ver porquê.
– Também é muito difícil dizer-me que não. Eu sou muito persistente.
– Os funcionários dos impostos também o são.
– Algumas pessoas vêem-no dessa maneira, eu sei – voltou a emitir aquele riso maravilhoso. – Mas eu prefiro considerá-lo mais como um cachorrinho que suplica à mesa, com os olhos grandes e tristes e que é impossível de ignorar. Então, a pessoa acaba por se sentir culpada e dá-lhe o que quer.
– Então, reconhece que utiliza a culpabilidade? – riu, entredentes.
– Decididamente. É uma das minhas melhores armas. E, quanto mais uma pessoa dá, melhor se sente.
– Então, acaba por ser pelo seu próprio bem, não é?
– Claro, e o nosso também, mas essa é a melhor parte. Todos ficam felizes. Então, posso acrescentá-lo à lista?
Esteve quase para responder que sim, mas no último segundo, lembrou-se do que é que ia aceitar. Nunca tinha assistido a um daqueles leilões de caridade.
– Oiça, menina Laraway, tenho uma reunião programada para dentro de dez minutos. Vou pensar no seu pedido, mas agora tenho que desligar.
– Claro. O meu objectivo é de o convencer a que se apresente voluntariamente e não de interferir no seu trabalho, mas, por favor, pense bem. Voltarei a entrar em contacto consigo.
Ele pensou. De facto, quando a sua secretária espreitou a cabeça pela porta e lhe lembrou que a reunião iria começar dentro de quarenta e cinco segundos, ele reparou que estava há dez minutos a pensar naquilo.
Ou melhor, na divertida e sensual menina Laraway. Não ia participar no leilão, desfilar não era a sua ideia de diversão, mas era tentador, embora só o fosse para voltar a falar com ela.
Recolheu os documentos e dirigiu-se à sala de reuniões, mas parou quando a sua secretária se virou para voltar para a sua mesa.
– Karen?
Tinha herdado Karen Yamato e aquele gabinete quando Pete Collins lhe entregara as rédeas e se reformara. O seu velho mentor dissera-lhe que Karen era a cola que unia as coisas e o óleo que mantinha as engrenagens a trabalhar, e ele não demorara muito em perceber que Pete tinha razão. A pequena e, ao que parecia, sem idade mulher euro-asiática, que mantinha o mesmo aspecto desde quando ele era criança, era a única pessoa na West Coast Technologies que se poderia considerar indispensável. Incluindo ele.
– A mulher que acabou de telefonar deixou-lhe o seu número de telefone?
– Layla? Claro que sim.
– Chamava-se Layla?
Uma voz assim com o nome de Layla Laraway? A sua mente invocou todo o tipo de imagens eróticas.
– Mudou de ideias e quer assistir ao leilão?
– Eu... não. Só queria saber quando era. Esqueci-me de lhe perguntar – então, franziu o sobrolho. – Como sabia que não aceitaria?
Karen arqueou uma sobrancelha, lembrando-lhe de que, apesar de estarem só há cinco anos juntos, conhecia-o tão bem como conhecera Pete depois de vinte anos a trabalhar com ele.
– Se quiser, posso telefonar a Layla enquanto o senhor está na reunião – ofereceu ela.
– Conhece-a? – inquiriu, por curiosidade.
– Só pela sua fama.
– E qual é?
– Inteligente, dinâmica, trabalhadora – três coisas que garantiam a aprovação de Karen. – Admiro o que tenho ouvido dizer dela – acrescentou.
Sabia muito bem que ninguém conseguia a admiração de Karen Yamato com ligeireza. Se Layla Laraway a obtivera sem sequer a conhecer pessoalmente, deveria ser extraordinária.
– Acha que deveria ir?
– Acho – apontou para a porta – que deveria ir para a reunião.
Voltara a esquecer-se da reunião.
Ainda abanava a cabeça ao entrar na sala. Não queria pensar que um simples telefonema de uma mulher desconhecida fosse a causa, porque isso significaria que as suas duas irmãs tinham razão e que começava a perder o que elas tinham chamado: «as suas mínimas habilidades sociais».
– Compreendemos que precisasses de um ano depois de romperes com Gwen – dissera-lhe Margaret, no dia anterior. – Estiveram juntos muito tempo, mas já passaram três anos e está na hora.
– O que é que vocês as mulheres têm? – perguntara ele, pensando que a melhor defesa era a distracção. – Põem sempre limites de tempo nessas coisas?
– Só quando o nosso irmão se torna num ermita adicto ao trabalho – replicara a sua irmã mais velha.
– És demasiado atraente para seres celibatário – acrescentara Sarah.
Aquele comentário escandalizara-o. Por amor de Deus! Era a sua irmã mais nova, não deveria pensar em coisas daquelas e muito menos comentá-las em voz alta.
Claro que já não era nenhuma criança e já tinha vinte e oito anos. No entanto, às vezes, custava-lhe a não pensar nela como naquela menina assustada de dez anos.
– Ethan? Estás pronto para começar?
Olhou para o chefe de Investigação e Desenvolvimento, Mark Ayala, cujo relatório sobre o projecto Collins era o motivo da reunião. Só o iniciara há dez meses atrás e esperava que demorasse anos a finalizar, mas considerava que merecia o tempo e o dinheiro que se investiria nele.
– Desculpa, Mark – declarou, enquanto se sentava à cabeceira da longa mesa. – Vamos começar.
Mark começou, com o tom monocórdio que sempre lhe fazia lembrar as aulas de Teoria Económica do professor Kosell. Não gostava daquele tipo de reuniões. Tinha descoberto que o ambiente formal intimidava a maioria das pessoas e impedia qualquer pensamento original. Preferia manter-se a par dos projectos, visitando as pessoas no seu próprio ambiente e onde trabalhavam. E, para conseguir pensamentos originais, era melhor convidar o grupo para um almoço de pizzas e cervejas e deixar que as ideias fluíssem.
Gostava do facto da West Coast Technologies ser ainda suficientemente pequena para o poder fazer e pensava mantê-la assim. Sabia que não podia concorrer com as grandes companhias, por isso, trabalhava com a especialização, em coisas que tinham o potencial de serem multifuncionais ou altamente úteis para um grupo reduzido de pessoas.
E também tinha os seus projectos preferidos, como aquele. Obrigou-se a voltar a concentrar-se na reunião, dado que o tom de Mark lhe indicou que estava quase a acabar.
– ...em conjunto, a situação parece muito prometedora. A diferença entre o grupo de controlo e os que têm o implante é grande.
– Quanto tempo mais vão durar as tuas experiências? – inquiriu Ethan.
– Outros dois meses antes de passarmos à seguinte fase – reclinou-se na cadeira e coçou a barba. – Sobre isso, seria muito mais proveitoso se pudéssemos...
Ethan levantou a mão, sabendo o que ia dizer.
– Desculpa, tem que haver uma maneira melhor de experimentarmos do que realizar lobotomias numa dúzia de ratos. Isso é em último recurso. Não gosto da ideia de destruir propositadamente as suas memórias só para verificar se poderemos devolvê-las.
– São ratos – explicou Mark – e muito mimados. Recebem a melhor comida em gaiolas impecáveis... o meu cão não vive tão bem quanto eles.
– Então, talvez devesses tomar melhor conta do teu cão – comentou, em tom de brincadeira. – Pensa noutra coisa, Mark, sei que consegues. Talvez algo temporário?
Mark olhou para ele e suspirou.
– Vou tentar. Estou a verificar um produto químico que parece que afecta temporariamente aquela parte do cérebro, mas desconheço como poderá influenciar os resultados para os nossos objectivos – encolheu os ombros. Talvez devesse embebedá-los.
– Mais vale ratos com ressaca do que ratos psicóticos – Ethan sorriu. Olhou para Moira O’Donnel, a directora da produção. – Estás a par de tudo, Moira?
A ruiva anuiu. Apontou para um bloco de notas com uma unha vermelha e comprida.
– Segui as mudanças necessárias à medida que avançámos. Podemos começar a produção dentro de sete dias e fazer projecções de mercado para que nos proporcionem uma boa vantagem sobre qualquer imitador.
Ethan compreendeu a sua preocupação. Com qualquer produto semelhante, sem importar a sua complexidade, assim que um concorrente lhe pusesse as mãos em cima, legal ou ilegalmente, desmontá-lo-ia para estudar a sua composição e depois fabricaria um próprio. Os produtos que pudesse introduzir no mercado antes de que isso acontecesse apontavam a sua posição. Embora faltassem anos, deveria estar preparado.
– Obrigada, Moira, mas concentra-te na velocidade e não em frustrar a espionagem industrial. Se tivermos sucesso, não pretendo ganhar uma fortuna. Só quero que esteja disponível para a maior quantidade de pessoas no menor tempo possível.
Moira anuiu, embora não com uma expressão feliz. Ethan pensou que se devia à sua natureza competitiva.
Passou a sua atenção para o representante do departamento legal.
– Como é que vai a guerra no teu departamento, David?
– O Ministério da Saúde é o maior obstáculo – anunciou David Grayfox.
– Sim, eu sei – voltou a levantar uma mão. Podemos esperar pela sua aprovação para o experimentar em seres humanos dentro de dois mil anos, não é?
– Mais ou menos – murmurou David.
– Continua a insistir. Temos que determinar se o que funciona nos nossos ratos também funcionará no cérebro humano – sabia que expunha o óbvio, afinal de contas, aquela era a meta do projecto Collins.
– Sim – acrescentou Mark, enquanto recolhia os seus papéis – pode ser que algum dia todos nós venhamos a precisar disso.
– Reza para que isso não aconteça – apesar de saber que Mark comentara-o na brincadeira, não conseguiu evitar o tom duro da sua voz.
Sobressaltado, o outro homem olhou para ele e pareceu-lhe que naquele momento percebeu o que tinha dito.
– Sim, patrão – concordou.
Ethan soube que, na boca daquele anárquico, o título de «patrão» representava uma desculpa.
Levantou-se para indicar que a reunião tinha acabado. Os outros abandonaram a sala e ele regressou ao seu gabinete. Karen chamou a sua atenção, tinha o auscultador no ouvido, mas apontou para o telefone da sua mesa. Ethan viu que havia duas linhas acesas. Ela pronunciou um nome em voz baixa:
– Layla.
Para sua surpresa, hesitou. Só quando percebeu que Karen olhava para ele intrigada é que anuiu e foi para o seu gabinete e olhou para o telefone.
Era estranho como em questões de negócios não lhe custava dizer que não, mas quando se tratava de funções de beneficência, era-lhe muito mais difícil. Dispunha de pouco tempo e habituara-se a responder negativamente a qualquer coisa que fosse mais do que um donativo económico.
Não afastou a vista do telefone.
Não a deveria fazer esperar. Afinal de contas, tinha sido ele que lhe voltara a telefonar.
Simplesmente, dir-lhe-ia que não. Não podia nem queria leiloar o seu tempo.
Aclarou a garganta quando levantou o auscultador.
– Como correu a reunião? – foram as primeiras palavras dela depois de o cumprimentar. – Construtiva?
– Não muito progresso, mas sem más notícias.
– Às vezes isso é uma boa notícia.
– Sim, é verdade – sentiu que sorria.
– É positivo quando não se avança, quando isso também não quer dizer que se retrocede até ao pé da montanha.
– Exactamente – parecia-se tanto ao que ele acreditava que lhe custou não soltar uma risada.
– Por casualidade, tratava-se do chip da memória?
O sorriso desapareceu do seu rosto. O projecto Collins não era um segredo, mas também não era do conhecimento geral. Certamente, não fora da indústria.
Ela pareceu compreender o seu súbito silêncio.
– É o motivo pelo qual foi colocado na minha lista no ano passado, senhor Winslow. Mantemos contacto com a Associação Nacional Contra a Doença de Alzheimer, que segue as pessoas que fazem investigação nesse campo, mesmo no âmbito privado.
– Oh! – descontraiu-se. – Desculpe.
– Imagino que alguém que tenha tido que desenvolver um projecto e investido muito tempo e dinheiro, ficaria muito frustrado se outros se adiantassem a ele.
– Sim, mas neste caso não me importaria, desde que funcionasse.
– É... uma atitude admirável.
De repente, Ethan sentiu-se incómodo. Não gostava que o considerassem um candidato à santidade.
– Se o seu chip funcionar, poderá ser vital para o tratamento da Doença de Alzheimer.
– «Se» é uma palavra muito ampla – replicou. – Especialmente neste caso. Oiça, sobre o leilão...
– Quando lhe pedi que pensasse – interveio, divertida – referia-me a mais de uma hora.
– Eu... só queria saber quando era.
– Ah, para verificar quanto tempo tem disponível para se apresentar como voluntário?
– Não – replicou, envergonhado de que tivesse adivinhado os seus motivos.
– Oh?
– Para verificar de quanto tempo dispunha para me desculpar com elegância.
Ela riu. Não se enganara, aquela voz sensual emitiu um som maravilhoso, pleno e rico.
– É muito mais fácil ceder com elegância, senhor Winslow. E não tem que planear agora mesmo o seu «Serão para Recordar», só preciso de saber com uma semana de antecedência, por isso, ainda tem alguns dias.
– Então, é daqui a dois fins-de-semana?
– Sim, no sábado à noite. Não existem regras para o que quiser preparar, pode ser um serão divertido, elegante ou criativo, por isso, dispõe de uma amplitude de situações que até o podem tornar impessoal. Se quiser ajuda, telefone-me. Tenho sempre sugestões.
Depois dela prometer que voltaria a telefonar-lhe, Ethan desligou e olhou para o telefone. Na sua mente vibrava o tom da voz de Layla e do seu riso.
Em nenhum momento lhe dera uma negativa.
Teve a estranha impressão de ter sido vencido por uma voz de veludo.