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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Kristine Rolofson

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Doces encontros, n.º 587 - maio 2019

Título original: A Montana Christmas

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-042-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

De quem é esta menina?

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Voltarei a casa pelo Natal…

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Epílogo

Se gostou deste livro…

De quem é esta menina?

 

 

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Segunda-feira, 16 de Dezembro

Havre, Montana

 

«Cuida bem dela».

Aquelas haviam sido as últimas palavras de Will pelo telefone. Era óbvio que faria o que lhe pedira Will. Era o seu dever como irmão. E Jared Stone levava as suas obrigações familiares muito a sério. Alguns diziam que demasiado a sério. Enquanto avançava pela estação de comboio cheia de gente que estava a chegar ou a ir embora de férias, Jared dizia para os seus botões que isso não tinha mal nenhum. Um homem devia tomar conta dos seus.

Jared reparou na variada multidão. Havia muitos esquiadores. Em Montana havia sempre muitos esquiadores que se dirigiam para algum lugar do estado. Jared virou a cabeça para dar uma segunda olhada numa loira de pernas compridas com uns esquis na mão, mas continuou a avançar para o painel onde se anunciavam as partidas e chegadas dos comboios. O comboio chamado Empire Builder de Chicago acabava de chegar.

Chamava-se Melanie Briggs e era especial. Jared desejou que Will lhe tivesse dado mais pormenores, mas a tia Bitty pendurara-se ao telefone e começara a falar de bolachas e de presentes, e de quanto Fluffy gostava do Natal. Will não pôde acrescentar mais atributos à sua misteriosa convidada, mas todos no rancho assumiam que Will finalmente encontrara uma mulher. Uma mulher especial, segundo ele mesmo dissera.

Enquanto Jared olhava à sua volta no hall, desejou que o seu irmão mais novo lhe tivesse dado uma descrição melhor da sua convidada. Dissera qualquer coisa sobre um blusão vermelho, mas a mãe arrancara então o telefone a Bitty e perguntara a Will se preferia o verde musgo ou o verde água para as paredes do quarto de hóspedes. Então, o tio Joe atendera pela extensão da cozinha e perguntara-lhe se a futura convidada jogava bridge.

Naquele momento, o telemóvel de Will ficou sem rede e a ligação caiu uns segundos depois. Jared ter-lhe-ia perguntado porque a mulher escolhera fazer uma viagem de comboio de três dias em vez de apanhar um avião até Great Falls, que era o que Will faria no dia seguinte para passar o Natal em casa.

Também teria perguntado ao irmão como a tinha conhecido. E porque a convidara a passar o Natal no rancho, embora Will sempre convidasse as pessoas a visitar Graystone. O seu irmão, um aventureiro nato, fazia amigos lá por onde passava. Mas até então nunca convidara uma só mulher a aparecer em casa.

De modo que, na tarde seguinte, Jared fez os cento e oitenta quilómetros que os separavam de Havre, uma cidade a Sul da fronteira canadiana, para ir buscar uma estranha.

Quase tivera de atar a sua mãe à cadeira da cozinha para impedir que o acompanhasse.

– Então, vou ter o vosso jantar pronto – dissera Jenna Stone enquanto lançava um olhar de esguelha à tia Bitty, que estava a ligar o seu transístor sobre o balcão. – Embora não me importasse de sair um pouco de casa.

Jared continuou a procurar uma mulher especial que poderia não levar o blusão encarnado vestido. Devia ter levado um daqueles cartazes com o seu nome como os que usam os motoristas. A ideia fê-lo sorrir.

Rodeou um grupo grande e avistou um pedaço de casaco de cor vermelha e uma cabeleira preta ondulada, pelos ombros, e apressou-se na sua direcção. Se se virasse, pensava ele, ao menos poderia perguntar-lhe se estava à espera de Jared Stone.

Virou-se para ele, quase como se tivesse ouvido a sua súplica silenciosa. Tinha a cara em forma de coração, a tez pálida e os olhos muito grandes, e Jared achou que era quase perfeita. O blusão encarnado, a sua idade, a sua expressão, como se estivesse à espera da ajuda de alguém, deram-lhe a garantia de que acertara no alvo.

Quando aquela jovem tão bonita e de aspecto frágil o viu a uns metros dela, abriu os olhos como pratos. Jared sabia que ninguém podia negar as parecenças entre os membros da família Stone. Will e ele eram parecidos com o pai, embora Will fosse mais magro. Jared sorriu, mas ao ir falar à mulher foi interrompido por duas senhoras mais velhas que lhe bloquearam o caminho com as suas malas enquanto acenavam para a saída. Jared foi ajudar as irmãs Bailey, velhas amigas dos seus avós, que se haviam mudado para Havre há alguns anos.

– És igual que o teu avô – disse uma delas. – Seria capaz de reconhecer esse queixo dos Stone em qualquer sitio.

– Estão à procura de alguém? – perguntou-lhes Jared, desejoso de poder ver-se livre delas para ir receber a sua convidada como devia ser.

– Lá está o senhor Perkins – disse uma irmã à outra. – Veio buscar-nos, mas acho que ainda não nos viu.

– Acho que o porteiro vem levar as vossas malas – disse Jared, – portanto fiquem onde estão.

– Obrigado, querido – disse a mais alta. – Por favor, deseja uma feliz Natal à tua mãe da nossa parte.

– Sim, senhora – respondeu enquanto tocava no chapéu texano momentos antes de se virar para ver a beleza do cabelo negro.

Mas ao ver que a mulher do blusão vermelho havia desaparecido, Jared assustou-se logo. Ele não era um homem que se assustasse com facilidade, mas não queria perder aquela convidada tão especial para o seu irmão.

Jared abriu-se caminho entre a multidão, cada vez mais escassa, e viu a mulher do blusão vermelho sentada num banco junto à parede com um cobertor no regaço, como se se tivesse resignado a descansar ali durante muito tempo. Agarrava o cobertor que tinha nos braços como se fosse a sua posse mais valiosa.

Daquela vez começou por chamá-la pelo seu nome.

– Melanie Briggs? – como a mulher não se apercebeu, disse-o em voz alta. – Melanie! – repetiu, satisfeito ao ver que ela levantava a cabeça e o olhava nos olhos.

Sorriu, mesmo que nesse momento se sentisse como se lhe tivesse caído um raio encima, ali em plena estação. Quando ela lhe falou, voltou a apreciar a sua beleza. Jared acabou, então, de ultrapassar a distância que os separava.

– É a Melanie Briggs, espero – disse-lhe.

– Sim. E você é o Jared Stone?

– Isso mesmo.

– Fico contente por vê-lo.

– O mesmo digo.

Jared desejou ter levado alguma almofada. A mulher parecia o suficientemente cansada como para ir a dormir toda a viagem de regresso ao rancho.

– Vi-o há pouco – disse-lhe com a sua voz baixa e suave. – Mas como começou a falar com umas velhotas, pensei que me tinha enganado na pessoa.

– Sou demasiado parecido com o meu irmão para enganar alguém – disse Jared, perguntando-se porque teria ele aquela vontade de pegá-la nos braços e levá-la até ao carro.

– O Will disse-me que o reconheceria assim que o visse, mas eu não acreditei.

– Vamos – foi apanhar a mala grande que estava aos pés de Melanie. – Vamos sair daqui.

– Adorava – disse enquanto colocava melhor o cobertor que tinha nos braços.

Foi então que ele espreitou melhor e viu a carinha rosada de um bebé a dormir. O seu coração deixou de bater durante uns segundos, suficiente para se assustar, e ficou a olhar para o bebé que a convidada do seu irmão levava nos braços.

– Will não disse que tinha uma filha?

– Não – Jared levantou o olhar. – A ligação telefónica não era boa e, além disso, a chamada caiu de súbito.

– Disse-me que não fazia mal, que ninguém se sentiria importunado.

– Ninguém vai sentir-se importunado – respondeu, rogando pragas ao seu irmão em silêncio por não lhe ter avisado.

Melanie levantou-se, mas o bebé nem se mexeu.

– A cadeirinha de bebé também é minha – disse a mulher, pelo que Jared também se fez cargo disso.

Enquanto conduzia a mulher para a saída, pensava que aquele bebé não era de Will. Era impossível que o seu irmão tivesse escondido da família uma coisa tão importante durante tanto tempo. Além disso, se fosse filho de Will, Melanie Briggs já seria senhora Stone e estaria a viver no rancho Graystone.

– A mala tem rodas – disse Melanie. – Pode agarrá-la pela asa e…

– Assim é mais rápido – respondeu com a mala e a cadeirinha do bebé na mão. – Vá em direcção à porta. Eu vou atrás.

Estava suficientemente perto para lhe rodear o cabelo negro com os dedos; claro que não o fez. Will dissera-lhe que aquela mulher era especial. Aquela mulher era de Will e devia ser, antes de mais nada, protegida. Embora fosse uma estranha com um bebé.

A sua mãe ia ficar muito contente. Fazia anos que queria ter netos, desde que os seus filhos eram suficientemente grandes para casar e levar namoradas para o rancho. Mas até àquele momento não tivera muita sorte. Os homens Stone não pareciam inclinados a ganhar juízo.

Melanie parou frente à porta e tentou colocar melhor as mantinhas que cobriam o bebé, e Jared adiantou-se para lhe abrir a porta. Ao sair, o vento frio fez-se sentir com força, e Melanie inclinou-se sobre o bebé, completamente alheia ao facto de Jared lhe ter posto o braço nos ombros de caminho para o parque de estacionamento. Quando haviam contornado o edifício, o vento amainou um pouco e ele tirou o braço dos seus ombros.

– Então isto é Havre – disse, olhando para o outro lado dos carris em direcção a um restaurante conhecido por vender comida aos viajantes que seguem para Oeste, após uma paragem no Norte de Montana.

– Queres dar uma volta pela cidade?

Ela estremeceu.

– Outro dia.

– Então vamos lá embora – disse Jared enquanto atravessavam de novo a rua, colocando outra vez a mão nas suas costas.

Pareceu-lhe pequenina e delicada, como se o vento do Norte pudesse levantá-la e levá-la até Wyoming, não tivesse uma criança num cobertor nos braços. Porque teria Will convidado aquela mulher e o seu bebé a Graystone? O seu irmão teria de responder a muitas perguntas.

 

 

Melanie percebeu que qualquer pessoa que os visse perceberia logo que eram irmãos. Will e o seu irmão mais velho partilhavam os mesmos ombros largos e o mesmo cabelo negro, idêntico queixo forte e a cor da pele. Will tinha os olhos castanhos, e não aquele tom verde escuro tão fora do vulgar de Jared. Também tinha a cara mais fina e a sua expressão parecia mais tranquila, embora ambos irmãos caminhassem pela vida com a mesma segurança em si próprios.

Quando chegaram à carrinha de Jared, este ajudou-as a se acomodarem no amplo banco do passageiro, e depois foi para o outro lado para ver como podia instalar a cadeira do bebé no banco de trás.

– É uma viagem longa – foi tudo o que o homem disse. – Quer sentá-la antes de nos fazermos à estrada?

– Sim, muito obrigada.

No mesmo instante estava junto à sua porta para a ajudar a descer. Melanie ajustou os cintos ao corpo diminuto da sua filha, enquanto pensava com alívio na sorte que tinha por Beth sempre adormecer no carro.

– Prontas?

– Sim – respondeu Melanie.

No sábado à tarde, quando Will a ajudara a subir ao comboio, prometera-lhe que tudo se ia arranjar, que tinha de deixar de se preocupar, que tudo ia correr bem.

– Imagino que é a primeira vez que vem a Montana – disse em tom cortês enquanto punha o carro em andamento e saia do parque de estacionamento.

– Sim, é a primeira vez. O Will avisou que estava frio.

Também que lá teria discrição. Limpou a condensação da janela e viu alguma coisa de Havre antes que Jared entrasse na auto-estrada. Mas não havia muito para ver, além de campos cobertos de neve e alguma casa de vez em quando. Desapertou o cinto para ver se Beth respirava bem. Efectivamente, a menina dormia tranquila, com os lábios apertados como se estivesse a sonhar com o biberão.

– E que mais lhe disse ele?

– Que a vossa mãe gosta do Natal.

Dissera-lhe que se poderia esconder, sarar as suas feridas, e fingir que o buraco negro no que se transformara a sua vida era invisível.

Ele começou a rir.

– Gosta do Natal? Isso é dizer pouco. A nossa mãe é uma mistura de Santa Claus, Martha Stewart e Bing Crosby.

– Porque Bing Crosby?

– Porque põe o CD do Bing Crosby e canta enquanto cozinha. Neste momento está a decorar o quarto de hóspedes para si.

– Não quero dar trabalho.

Prometera a Wil que a sua visita não incomodaria a sua família.

– Não se preocupe. Desde que compramos a antena satélite que se diverte imenso. A minha mãe descobriu os canais de decoração e design, e desde então nunca mais parou de decorar a casa – disse em tom divertido e carinhoso.

– Lamento que Will não lhes tenha dito que vinha com um bebé. Eu assumi que ele diria alguma coisa antes de nos convidarem.

– A minha mãe está habituada às surpresas de Will – pressionou o botão para limpar o vidro de trás e pisou no acelerador para ultrapassar um camião.

Melanie apoiou a cabeça no vidro e fechou os olhos por um momento. Seria tão fácil adormecer. Mas para ser educada, decidiu que devia permanecer acordada. Olhou para o relógio. Quatro da tarde e já estava a escurecer. Há mais de vinte e quatro horas que Beth e ela haviam apanhado o comboio na estação de Chicago. A sua prima Dylan ia ter um ataque, mas teria de compreender que não estava preparada para passar um Natal em família. Ainda não.

– A viagem dura cerca de duas horas e meia – disse Jared depois de uns minutos de silêncio. Tal vez até mais, porque vamos seguir pela auto-estrada e depois vamos apanhar a Nacional 200 em Great Falls.

– Está bem – respondeu, sem saber de que estavam a falar.

– Vamos parar para tomar café e, bom, o que precisar para o bebé – virou-se um segundo para olhar para ela e Melanie surpreendeu-se por ver quão sério estava. – Acha que vai bem ali?

– Está a dormir – assegurou-lhe. – Ela gosta de viajar.

– Ainda bem – murmurou ele. – Está a ver o céu? Vai nevar, e em breve.

Melanie olhou pela janela e esticou o pescoço para ver umas grandes nuvens que se aproximavam.

– Não vamos ficar aqui encravados, pois não?

– Não, vamos chegar a casa pela hora do jantar. A não ser que queira parar para comer qualquer coisa no caminho. Devia ter-lhe perguntado se tem fome.

– Estou bem – respondeu, embora tivesse tomado o pequeno-almoço há horas.

Beth passara a tarde a choramingar, e ela nem teve tempo de comer a sandes que outro viajante lhe comprara na carruagem-bar.

– Se mudar de opinião, diga-me – ligou o rádio e ouviu-se a voz de uma mulher a interpretar uma canção de amor, Jared desligou-a imediatamente. – Peço desculpa. Esqueci-me que o bebé está a dormir. Como se chama?

– Beth. E a música não incomoda.

 

 

Jenna olhou para o seu relógio de pulso e depois para o relógio da cozinha sobre o frigorífico. Jared e a convidada já deviam ter chegado. Não tinha vontade de pôr mais cola em papel pintado quando se anunciava outra tempestade e nenhum dos seus filhos estava em casa a salvo.

– Não se passa nada. Não há ninguém neste mundo mais seguro do que Jared – disse o tio Joe, que nesse momento acedia à ampla cozinha para se servir de uma chávena de café, fez uma pausa antes de colocar a cafeteira no seu sítio. – Queres um pouco, querida?

– Não, obrigado. Já estou bastante nervosa.

Mas sorriu ao tio Joe. Era o último parente que lhe restava da sua parte da família. Aos seus oitenta e dois anos, o tio Joe estava orgulhoso da sua longevidade e da sua habilidade para os jogos de cartas. Chegara a semana antes do dia de Acção de Graças dizendo que se sentia sozinho, e mudara-se para a enorme casa do rancho «até o Ano Novo», segundo havia dito.

– Não há razão para estar nervosa, minha querida. O Natal no rancho é sempre uma ocasião muito especial, graças a ti – o tio Joe puxou uma cadeira e sentou-se na longa mesa da cozinha que estava há mais de quatro gerações em Graystone. – E o Will só está em Washington há seis semanas. É impossível que em tão pouco tempo tenha começado um namoro sério com uma jovem.

– Não sei – respondeu Jenna enquanto preparava uma infusão de ervas. – Os meus filhos têm o coração grande, embora Jared tente ocultá-lo mais do que Will. E claro que eu não me importava nada de ter uma nora. Estava quase a perder a esperança de ter a companhia de uma mulher no rancho.

– E a Bitty, não conta? – o velho fez um sorriso pícaro.

– A tia Bitty é diferente.

– Onde está a velha bruxa?

– Tio Joe… – começou a dizer em tom de desaprovação, desejosa de que fosse amável com a tia do seu marido.

– Eu sei, eu sei – levantou uma mão cheia de veias para se defender das suas palavras. – É uma parente política e uma pessoa não pode fazer nada. Não me importo que ouça rádio, mas aquele rato dela que não pára de ladrar é-me insuportável.

Jenna não pode conter um sorriso. O «rato» que não parava de ladrar era o velho cão de Bitty, um animal de dezoito quilos que sempre andava junto à sua dona.

– Fluffy não ladra assim tanto – comentou Jenna.

Olhou de novo para o relógio enquanto pensava que devia ter dito a Jared para telefonar desde Havre. O seu filho mais velho não era grande partidário dos telemóveis; contrariado, levava um no guarda-luvas da sua carrinha, mas raramente o usava.

– Estamos todos muito mimados, Jenn – declarou enquanto dava outro golo de café. – Assim como vais mimar a miúda de Will quando chegar. Já acabaste as pinturas?

– Ontem.

Esperava que Melanie Briggs gostasse do lilás.

– E o jantar cheira a glória.

– Sim – disse enquanto tirava a panela do lume. – Fiz um asado há umas horas para ter o jantar pronto quando chegarem.

– Pensas em tudo – declarou o velho sorrindo; então, tirou um baralho de cartas do bolso da sua camisa. Queres jogar uma partida para que o tempo passe mais depressa?

– Claro.

Entre as cartas de Joe, o rádio de Bitty e Fluffy a pedir-lhe caprichos constantemente, Jenna esperava não ter tempo para se preocupar tanto com os seus filhos.