
Editado por Harlequin Ibérica.
Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2001 Vivienne Wallington
© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Troca de noivo, n.º 575 - setembro 2019
Título original: Claiming His Bride
Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.
Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-1328-534-4
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Créditos
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Epílogo
Se gostou deste livro…
– Ena, olha só para todos aqueles fotógrafos! – Ruth Ashton arregalou os olhos diante do que via do camarim da noiva na Boungainvillea Receptions. – E vieram todos para te ver, Suzie!
A sua filha gritava diante do espelho, apreciando a saia rodada do vestido de renda branca bordado, uma das suas criações. A única dama de honor de Suzie, Lucy, ostentava um vestido em seda azul e procurava certificar-se de que tudo estava como devia ser.
– Eles vieram para ver o meu vestido de noiva. Querem saber que criação fabulosa produzi desta vez – a voz de Suzie tremia. Tinha planeado um casamento simples e informal no jardim, mas a ocasião assumia rapidamente a proporção de um circo criado pelos meios de comunicação social.
– Bem, não é todos os dias que uma jovem estilista sem marca conquista o prestigiado prémio Vestido Australiano do Ano – o rosto da mãe expressava orgulho. – A publicidade pode contribuir para o sucesso da tua carreira, querida. Estão aqui os editores de moda de todas as revistas especializadas.
– Só permiti a entrada de toda essa gente para salvar a Jolie Fashions. Eles foram tão bons para mim! Não quero vê-los a afundar – a casa de moda com sede em Sidney estava endividada e lutava pela sobrevivência, tudo graças a um contabilista desonesto. – A exposição nos meios de comunicação social será excelente para a Jolie, especialmente porque a minha dama de honor, a mãe da noiva e do noivo e boa parte dos convidados, usam criações da casa.
– Querida, os fotógrafos de moda vão ver o teu vestido e vão ficar fascinados. A Jolie Fashions será invadida por pedidos de compras. O teu casamento será exibido nas páginas de todas as revistas, e isso servirá para promover o nome Jolie. E o teu também, minha querida – afirmou Ruth com a voz embargada. – Nunca vi uma noiva mais linda! O Tristan vai ficar orgulhoso.
Tristan. Suzie engoliu em seco. O seu príncipe encantado. Gentil, íntegro, de confiança, responsável, encantador, bem sucedido... o marido perfeito. Não era um homem capaz de inspirar paixões avassaladoras, mas esse era um sentimento perigoso que, quase sempre, levava ao sofrimento, cegando as pessoas para a realidade. Com Tristan, saberia sempre onde estava. Ele era um homem em quem uma mulher podia confiar e com quem podia contar, diferente de...
Não pensaria em Mack Chaney no dia do seu casamento. Nem noutro dia da sua vida. Nunca mais. Ele fazia parte do passado. Era história. E que ficasse enterrado juntamente com todas as recordações tristes.
– Vocês formam um casal perfeito – comentou Lucy com um suspiro. Tristan era lindo e rico, e Suzie transformara-se, quase por magia, numa jovem princesa de cabelos perfeitos. – Perfeito.
Sim, tudo era perfeito... quase perfeito demais. Suzie sentiu um desconforto momentâneo. Era como se vivesse um sonho, uma situação irreal. Um conto de fadas. Nunca esperou encontrar o homem perfeito. Nunca acreditou que ele existisse. Os únicos homens de quem se aproximara na sua vida tinham sido tudo menos perfeitos.
E ela também estava longe da perfeição.
Suzie aproximou-se da janela. Não podia encarar a mãe ou Lucy, pois temia que elas identificassem o pânico nos seus olhos, o medo de acabar por ser desmascarada como uma fraude.
Tristan não a conhecia. Não sabia quem era a verdadeira Suzie... a impulsiva, intempestiva e inconsequente Suzie. Só conhecia a mulher elegante, composta e bem penteada, a imaculada Suzanne, como ele preferia chamá-la. Lutava para manter a imagem da dama contida há três meses, sempre com o incentivo da mãe.
Desde que vira o jovem empresário do ramo de utensílios de couro na entrega do prémio de moda há três meses, Ruth decidira que ele e Suzie teriam de se casar. Até mesmo a mãe de Tristan, a snob Felícia Guthrie, acabou por aceitar a futura nora, apesar da sua origem modesta e da formação desprovida de brilho ou grandes tradições.
Conquistar o prémio tinha sido um grande passo. De repente passara a ser alguém. Uma jovem estilista talentosa com um futuro brilhante.
O nervosismo aumentou quando Suzie viu a multidão reunida no jardim. Além das fileiras de cadeiras preparadas para os convidados, lugares que já tinham sido totalmente ocupados, havia uma plateia de repórteres e fotógrafos ao fundo do quadrilátero reservado para a cerimónia, gente munida de máquinas modernas com poderosas lentes de aumento esperando para ver e registar a sua espectacular criação.
Tensa, tocou as mangas longas do elegante vestido de noiva e os pequenos botões de pérolas que adornavam o corpete justo. A cintura baixa precedia a saia ampla que dava graça e leveza ao vestido.
Os caracóis naturais dos cabelos tinham sido penteados de forma quase artística, repetindo o estilo liso e comportado que adoptara há três meses. Na cabeça Suzie usava uma delicada tiara de pérolas e um véu de renda muito fina. Nada poderia tirar a atenção do vestido de noiva.
– Onde está Tristan? – perguntou ela enquanto se virava. – É a noiva quem se deve atrasar, não o noivo.
Como não tinha pai para a conduzir ao altar, Suzie decidiu apresentar-se de braço dado com o futuro marido.
– Ele não está atrasado – Ruth tentou acalmá-la. – A qualquer instante estará aqui.
Lucy abriu a porta.
– Ele vem a caminho! – disse, entusiasmada. – Estás pronta?
– Tanto quanto é possível – assim que o visse, assim que ele sorrisse, tudo estaria bem.
Tristan entrou no camarim alguns segundos mais tarde, a imagem da elegância no traje branco e formal, os cabelos dourados iluminados pelo lustre de cristal que pendia do tecto. Lá fora, sob o sol brilhante da tarde, brilhariam ainda mais.
– Suzanne... pareces um sonho. Uma princesa.
Ao ver o sorriso amplo e o orgulho amoroso no seu rosto, ela acalmou-se. Teria uma vida tranquila, segura e protegida ao lado de Tristan. Paz, segurança e felicidade eram tudo o que desejava depois das brigas, das frustrações e da incerteza que ela e a mãe tinham conhecido com o seu encantador e talentoso, porém irresponsável, pai.
O mesmo tipo de vida que Suzie teria encontrado com Mack Chaney, se tivesse sido louca e cedesse à paixão.
Assumir um compromisso duradouro com Mack teria sido um desastre. Homens como ele não sabiam apreciar as delícias de um cachimbo e uns chinelos, o tipo de vida que ela queria. Os únicos interesses de Mack eram a sua Harley-Davidson e o seu computador, o hábito de navegar na Internet e sonhar sonhos impossíveis. Preferia nem pensar nos seus outros vícios.
– Pronta para descer? – perguntou Tristan.
A voz fê-la voltar ao mundo real. Aquele era o dia mais importante da sua vida e estava a pensar em...
Não!
Deixou que o noivo a conduzisse até à porta, por onde não chegaram a passar. Alguém entrou no camarim causando grande comoção.
Suzie arregalou olhos ao ver Mack Chaney a aproximar-se como um anjo vingador ou a encarnação do diabo. Ele usava um blusão de couro preto, calças do mesmo material e botas. Os olhos negros brilhavam determinados e os cabelos, da mesma cor, estavam tão despenteados como sempre tinham sido.
– Vais mesmo casar-te com este sujeito mimado? Com uma fraude? – disparou ele. – Nunca imaginei que pudesses levar em frente essa loucura, Suzie. Esperava que visses a luz muito antes deste dia.
– Como te atreves a entrar aqui e... – Suzie parou. – O que queres dizer com fraude?
– Tirem esse homem daqui! – gritou a mãe dela. – Chamem a segurança.
– Esperem! – exigiu Mack. – Não te podes casar com Tristan Guthrie, Suzie. A menos que não queiras um casamento verdadeiro.
Suzie sentiu o corpo de Tristan tremer ao lado do dela e ouviu a exclamação abafada da mãe. Olhou para o noivo, mas ele não a encarou, nem fez qualquer movimento para a proteger ou dar-lhe apoio. O choque parecia tê-lo privado da capacidade de agir ou falar. Os olhos atónitos permaneciam fixos no rosto severo de Mack Chaney.
A mãe de Suzie adiantou-se com ar furioso.
– És capaz de qualquer coisa, não és, Chaney? Sempre soube que causarias problemas!
Mack sorriu.
– Creio que o facto de Tristan Guthrie já ser casado justifica a minha presença.
Suzie sentiu-se tonta. E foi a mão de Mack que a amparou, não a de Tristan. O homem ainda estava paralisado pelo espanto.
– Que tipo de piada é essa? – sussurrou ela ao sentir-se mais forte.
A raiva que ameaçava dominá-la era intensa como jamais sonhara ser possível. Não seria a primeira vez que Mack Chaney a submetia a uma das suas brincadeiras maldosas, mas nenhuma tinha sido tão cruel.
– Porque é que não perguntas ao teu noivo? – respondeu Mack, com tom de desdém.
– Não preciso de o interrogar. Isso é absurdo! – mas Tristan não ria. Ninguém ria! E como poderiam, se a situação era ultrajante? – Deves ter cometido um engano. Ou inventado tudo o que estás a dizer – mas porque é que Tristan se mantinha calado? Porque é que não reagia? – Por favor, diz que não é verdade – pediu ela, procurando os olhos do noivo. Ele estaria tão pálido se fosse apenas uma mentira? – Tristan... diz que ele está a mentir!
Finalmente, ele abriu a boca e emitiu um som rouco e fraco.
– É claro que ele está... enganado – os seus olhos buscaram o rosto do acusador, mas não havia vida neles. – Tem provas? Ou esteve apenas a ouvir mexericos maliciosos?
– Admito que foi um mexerico que me levou a investigar o seu passado – respondeu Mack, confiante. – Não precisei de muito tempo para descobrir o seu segredo. Casou-se há dez anos, quando ainda era um estudante universitário, e nunca se divorciou – ele retirou alguns papéis do bolso. – Aqui está uma cópia da certidão de casamento e uma declaração escrita sobre a inexistência de um processo de divórcio.
Lucy levou a mão à boca. Tristan ficou ainda mais pálido. Angustiado, olhou para a mãe de Suzie, mas só encontrou fúria, choque e incredulidade.
Tristan virou-se para a noiva e segurou a mão dela.
– Podemos resolver tudo isto – prometeu, desesperado. – Eu trato do problema.
– Quer dizer que é verdade? – Suzie gemeu. Tristan fora e ainda era casado, e escondera-lhe esse facto? O príncipe encantado, o homem perfeito, o marido de confiança... mentiu? Tentando confirmar o que ouvira, perguntou: – Tu casaste mesmo com uma mulher há dez anos e ainda és casado com ela?
– Nunca foi um casamento de verdade. Jamais houve amor. Foi apenas... uma união de conveniências. Ela era estrangeira, estudante, e queria o meu auxílio para permanecer na Austrália. Eu só fiz um favor a uma jovem desesperada! Nós casámo-nos em segredo e nunca contámos nada a ninguém. Depois de alguns meses, separámo-nos e seguimos caminhos distintos.
– E onde é que ela está agora? – Suzie tinha de se esforçar para fazer as palavras passarem pela garganta. Se o casamento tivesse acontecido, seria a segunda esposa de um bígamo! De um homem desonesto, mentiroso e sem princípios!
– Não sei – respondeu Tristan. – Um ano depois do casamento, ouvi dizer que ela tinha deixado a Austrália e seguido para uma parte remota de África para ser missionária ou algo parecido. Tentei localizá-la para iniciar o processo de divórcio, mas a mulher desapareceu sem deixar rasto. Ninguém sabe do seu paradeiro. Não tive mais notícias. É provável que ela esteja morta.
– Nesse caso teria sido notificado – interferiu Mack. – Como marido, teria sido o primeiro a ser informado sobre a morte dessa mulher.
Marido. Suzie sentiu uma nova vertigem. Nenhuma outra palavra teria feito o pesadelo parecer mais real.
– Vou encontrá-la, querida – prometeu Tristan, segurando os seus braços. – Conseguirei o divórcio. Estamos separados há anos! Mesmo que não consiga localizá-la, não terei problemas para legalizar a situação.
Suzie encarou-o e, pela primeira vez, viu a essência do homem sob a aparência refinada e atraente. Tristan era um fraco, um menino mimado e covarde, uma fraude, como Mack disse.
– Como tiveste coragem? – gritou ela. – Como foste capaz de esconder a verdade? E de mim! Da mulher que dizias amar, com quem te querias casar e dividir a tua vida!
– Eu... tinha-me esquecido – argumentou ele num tom fraco. Mas era evidente que mentia. – Tudo aconteceu há tanto tempo, querida... Éramos crianças! Jovens estudantes impetuosos. Nunca senti nada por ela. Mal a conhecia, e agora... Bem, ela deixou a Austrália há anos, e não vi razão para reviver o assunto.
– Não viste razão...? Tu ainda és casado com ela! Será que não entendes? – Tristan não aceitava o seu próprio erro. Só queria bani-lo da mente e expulsá-lo da sua existência protegida e mimada como se jamais tivesse acontecido. Oh, céus! Não o conhecia, e há pouco sentira-se culpada por não ter revelado a sua verdadeira personalidade! – Vai-te embora, Tristan. Não me vou casar contigo. Mesmo que consigas o divórcio, não haverá casamento.
Mack decidiu interferir.
– Tristan, sugiro que desça e converse com a sua mãe. Convença-a a deixar o jardim levando os seus parentes e amigos mais próximos, pois só assim poderão escapar a um escândalo embaraçoso.
Os olhos do rapaz revelavam um grande alívio.
– Sim, sim... Obrigado – de cabeça baixa, como se não tivesse coragem para encarar a mulher com quem quase se casara, ele deixou o camarim.
Cobarde! Suzie também estava aliviada por ter escapado de se casar com um fraco. Só lamentava que o resgate tivesse acontecido através de Mack Chaney.
– Vai atrás dele, querida – implorou a sua mãe. – Ainda há tempo para realizarmos o casamento e... – ao ver o desprezo nos olhos da filha, ela parou. – Bem, ao menos dá a Tristan uma oportunidade de escapar de... de uma situação constrangedora...
– Mamã, não me posso casar com ele. Como espera que eu confie em alguém capaz de uma mentira tão grave? Ele escondeu que era casado! Pensei que fosse honesto, íntegro e... Pensei que ele fosse perfeito!
Ao ouvir um som de desdém ao seu lado, Suzie respirou fundo. Mack estava a divertir-se com a situação. Agia como o grande herói, o cavalheiro sagrado que resgatava a dama em perigo no último instante...
– Ninguém é perfeito, querida – protestou Ruth. – Todos temos defeitos e qualidades. Jamais encontrarás um homem perfeito. Mas Tristan está mais próximo da perfeição do que qualquer outro que possas conhecer – e lançou um olhar rancoroso a Mack. Jamais o aprovara. – E ele ama-te.
– Ah, ele ama-me? – seriam alguns beijos castos a medida do amor de um homem? Teria realmente amado Tristan? Ou deixara-se fascinar pela aparência dourada e pela ideia de um futuro calmo e seguro?
– O que vais fazer? – perguntou a mãe, aflita. – Há uma multidão à tua espera. Todos aqueles fotógrafos e especialistas de moda... todos os editores ansiosos para verem o teu vestido de noiva e fotografarem a cerimónia do ano... A Jolie Fashions conta com a tua ajuda para obter uma grande promoção. Para sobreviver!
– E toda aquela comida, todas aquelas caixas de champanhe? – lembrou Lucy. – Não podes desperdiçar tudo aquilo!
Suzie sentia a cabeça a girar. O sonho que julgara irreal transformara-se num pesadelo real. O que podia fazer? Não iria atrás de Tristan para sugerir uma cerimónia falsa. De forma nenhuma. Nem mesmo para salvar a Jolie.
A dor oprimia o seu peito. A Jolie Fashions aceitara-a como estagiária de moda e dera-lhe algum tempo livre para que concluísse os estudos, arcando com os custos das mensalidades. Depois admitiram-na como estilista júnior e incentivaram-na a participar no concurso de Vestido do Ano com uma das suas criações. Devia-lhes a eles tudo o que era!
– Suzie, lembra-te do que a Jolie fez por nós... por mim também – persistiu a mãe. – Tu tens de ir atrás de Tristan!
Ver a mãe tão aflita aumentava o seu sofrimento. A Jolie Fashions também tinha empregado Ruth como costureira numa época em que ela tinha necessitado de trabalho remunerado. Tinha sido ela quem sustentara a filha durante os longos e sombrios anos da adolescência, quando Suzie ainda estava na escola. Como poderia ficar parada enquanto a Jolie se afundava e levava a sua mãe para o fundo? Sem as suas clientes, Ruth teria de retomar a luta desde o início.
Mack aproximou-se e respirou fundo.
– Há uma saída, Suzie – disse ele em voz baixa. – Tu podes casar comigo.