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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Avenida de Burgos, 8B

28036 Madrid

 

© 2022 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

N.º 76 - junho 2022

 

© 2013 Red Garnier

O beijo perfeito

Título original: Wrong Man, Right Kiss

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

© 2011 Pamela Brooks

Coração derretido

Título original: A Moment on the Lips

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Estes títulos foram publicados originalmente em português em 2014

 

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1105-474-4

Sumário

 

Créditos

Sumário

O beijo perfeito

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Coração derretido

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

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Capítulo Um

 

Molly Devaney precisava de um herói.

Não estava a ver nenhum outro modo de resolver o dilema. Estava há duas semanas sem conseguir dormir, às voltas na cama, sem conseguir deixar de pensar no que tinha feito, desejando, rezando e esperando que pudesse encontrar a maneira de resolver as coisas. E devia fazê-lo o mais rapidamente possível.

Tinha necessitado de quinze dias com as suas quinze infernais noites para chegar à conclusão de que precisava de ajuda. E rapidamente. Só havia um homem que podia ajudá-la, tal como a tinha ajudado antes em numerosas ocasiões.

O seu herói de sempre, desde que ela tinha três anos e ele seis, quando Molly e a sua irmã, que acabavam de ficar órfãs, tinham ido viver com a rica e maravilhosa família dele na mansão que tinham em San Antonio.

Julian John Gage.

Certamente, não era santo nenhum. Era um sedutor da cabeça aos pés. Podia ter todas as mulheres que desejasse, do modo que preferisse e quando lhe apetecesse, e ele sabia-o. Isso significava que estava disposto a saboreá-las a todas.

Isso incomodava muito Molly.

Não entanto, apesar de ser o alvo preferido das damas e da imprensa devido ao seu posto como chefe de relações públicas do San Antonio Daily, um problema para os seus irmãos e uma maldição para a sua própria mãe, para Molly, Julian John Gage era o seu melhor amigo. Era a razão pela qual ela nunca tinha encontrado companheiro e a única pessoa na Terra que podia ser suficientemente sincero para lhe dizer como seduzir o seu teimoso e frustrante irmão mais velho.

O problema era que Molly poderia ter encontrado um momento melhor para lhe expor os seus maquiavélicos planos. Aparecer no seu apartamento um domingo de manhã não tinha sido a melhor ideia, mas sentia que estava a perder um tempo que era precioso e necessitava urgentemente que Garrett, o irmão mais velho de Julian, se apercebesse de que a amava antes de morrer de tristeza.

Oxalá Julian pudesse deixar de olhar para ela como se ela tivesse perdido a cabeça por completo, algo que estava a fazer há já uns minutos, precisamente desde que ela lhe tinha contado inesperadamente os seus planos.

Ele estava ali, a olhar para ela. Era a mais maravilhosa obra de arte daquele impecável e moderno apartamento. Tinha os pés separados e observava-a com o queixo ligeiramente entreaberto.

– Acho que não ouvi bem – disse por fim. A sua profunda voz estava carregada de incredulidade. – Acabas de pedir-me que te ajude a seduzir o meu próprio irmão?

Molly parou de andar à volta da mesa de café.

– Bom... na verdade não disse «seduzir» exatamente... ou sim?

Produziu-se um incómodo silêncio enquanto os dois pensavam no que ela tinha dito. Julian franziu a testa.

– Não disseste?

Molly suspirou. Ela também não se lembrava. Tinha-se sentido um pouco coibida quando a escultura viva, isto é, Julian, lhe tinha aberto a porta vestido somente com umas calças de pijama um pouco descaídas e o tronco completamente nu. De facto, tinha as calças do pijama tão descaídas que se podia distinguir claramente o pelo escuro que lhe começava justamente debaixo do umbigo. Este facto tinha-a perturbado muito, dado que nunca antes tinha visto um homem naquele estado de nudez. Além disso, Julian não era um homem qualquer. Parecia quase o irmão mais novo de David Beckham. E mais bonito. Menos mal que a amizade que havia entre eles tinha imunizado Molly.

– Está bem, talvez tenha dito. Não me lembro – admitiu Molly. – É que acabo de aperceber-me que preciso de fazer algo drástico antes que qualquer oportunista mo roube para sempre. Tem que ser para mim, Julian. E tu és um exímio sedutor, pelo que necessito que me digas o que tenho de fazer.

Os seus olhos, verdes como as folhas das árvores, abriram-se um pouco mais.

– Olha, Molls. Não sei muito bem como te explicar isto, mas deixa-me tentar. Crescemos todos juntos. Os meus irmãos e eu vimos-te de fraldas. O Garrett nunca poderá deixar de te ver como a irmã mais nova dele. Repito, a irmã mais nova.

– Está bem. Sobre a questão das fraldas já não posso fazer nada, mas tenho razões de peso para pensar que os sentimentos que o Garrett tem por mim mudaram. Ele disse-te alguma vez que somente me vê como a sua irmã mais nova? Já tenho vinte e três anos. Talvez pense que já sou suficientemente crescida para ser uma mulher sexy e sofisticada.

«Com uns peitos bonitos que ele acariciou muito contente no dia do baile de máscaras», pensou ela muito segura de si mesma.

Julian contemplou o modo como ela estava vestida, não era um dos melhores conjuntos de Molly...

– A tua irmã Kate é sofisticada e sexy, mas tu... – disse-lhe, apontando para a saia hippie e a t-shirt manchada de tinta que ela tinha vestido. – Meu Deus, Molls, ultimamente tens olhado para ti ao espelho? Parece que te deram uma tareia e depois te meteram numa batedora.

– Julian John Gage! – exclamou ela tão magoada que o coração lhe doía. – A minha seguinte exposição individual em Nova Iorque é daqui a quatro semanas. Não tenho tempo para cuidar do meu aspeto! Além disso, não posso acreditar que te estejas a meter com o meu aspeto quando tu estás meio despi...

Ouviu-se uma porta a bater na parte posterior do apartamento e, quando Molly se virou, viu de soslaio que alguém se aproximava. Nesse momento, ficou sem fala. Esse alguém era, obviamente, uma mulher.

A loura mais loura e com as pernas mais compridas que Molly jamais tinha visto em toda a sua vida acabava de sair do quarto de Julian. Tinha uma mala de estilo clutch dourada e um par de sapatos vermelhos de salto agulha, para além de uma camisa de Julian que mal parecia poder conter uns peitos enormes.

– Tenho de ir andando – disse a mulher a Julian com voz sugestiva. – Deixei-te o meu número em cima da almofada, por isso... foi muito agradável conhecer-te ontem à noite. Espero que não te importes que eu leve uma camisa emprestada. Parece que o meu vestido não saiu tão bem parado como eu.

Soltou um risinho e atravessou elegantemente a sala para se ir embora enquanto Julian permanecia completamente imóvel.

No momento em que as portas do elevador se fecharam, Molly, que tinha estado a observar a loura completamente boquiaberta, voltou-se de novo para olhar para Julian.

– A sério? – disse-lhe enquanto a fúria a empurrava a aproximar-se dele para lhe tocar no ombro com um dedo. – A sério que vais para a cama com todas as mulheres que conheces?

Voltou a tocar-lhe, mas o ombro de Julian moveu-se o mesmo que se fosse feito de betão armado. Então, ele soltou uma gargalhada e agarrou na mão de Molly.

– Não estávamos a falar da minha vida amorosa, mas sim da tua. E do facto de teres tinta na ponta do nariz, no cabelo e nos sapatos. Essa imagem de artista morta de fome não vai chamar a atenção do meu irmão.

Molly olhou para ele com desprezo. Então, empurrou-o e dirigiu-se ao vestíbulo.

– Oh, deixa-me ir buscar uma das tuas camisas! Tenho a certeza de que isso fará maravilhas.

– Ora, Molly! Não te vás embora assim. Volta aqui e deixa-me pensar em tudo isso, está bem? Sabes que sempre foste bonita e acho que por isso não te importas com o teu aspeto.

Julian chegou até ela com três passadas. Agarrou-a pelo braço e fê-la regressar à sala. Molly olhou para ele com desprezo ao início. Então, quando ouviu que ele suspirava, a sua ira desvaneceu-se. Era-lhe muito difícil estar chateada com Julian John.

Sabia que ele faria qualquer coisa por ela. Ninguém, à exceção talvez da sua irmã, tinha feito nunca as coisas que Julian John tinha feito para se assegurar que ela estava segura e protegida.

Kate tinha assumido o papel de mãe quando as duas tinham ficado órfãs. Kate tinha-a ajudado na escola, tinha-a criado e tinha-lhe dado todo o carinho que lhe teriam dado os seus pais. Por isso, o facto de Julian ter estado a seu lado quase tanto como Kate dizia muito de um homem que insistia em fingir que era apenas um playboy.

Isso era precisamente o que Julian John era e a razão pela qual Molly se contentava com que ele fosse seu amigo e não o homem que ela tinha transformado em objeto das suas intenções mais românticas.

– Olha – disse ela quando Julian a soltou. Corou ao recordar o beijo roubado de Garrett. – Sei que talvez não compreendas, mas amo tanto o teu irmão que eu...

– Desde quando, Molls? Sempre nos deu cabo da cabeça a nós os dois.

– É certo, bom... mas isso era antes, quando ele era tão rígido, já sabes... Antes.

– Antes de quê?

– Antes... antes de ele...

«Antes de me dizer as coisas que me disse quando me beijou», recordou. Tentou relaxar-se para poder continuar a falar.

– Eu... não to posso explicar – acrescentou, – mas algo mudou muito e sei que ele sente o mesmo por mim. Eu sei, Julian... peço-te para não te rires.

Por alguma razão inexplicável, não podia olhar para ele nos olhos. Por isso, virou-se e sentou-se no sofá. O silêncio foi enchendo o espaço que os separava até que, de repente, se viu quebrado.

O riso que rompeu o silêncio foi o pior que pôde acontecer. Era tudo menos alegre.

– Não posso acreditar...

Molly conteve a respiração e olhou para ele. Viu que ele tinha a testa franzida. Jamais tinha visto Julian verdadeiramente chateado, mas se aquele sinal era um indício, ia vê-lo e muito em breve.

Sentiu um nó no estômago a formar-se quando observou o musculado tronco e o vê que o pelo formava antes de perder-se por baixo das calças para conduzir a...

Não podia continuar a pensar naquilo. Tinha de se centrar em Garrett.

– Julian... olha, enquanto estamos a falar, podes vestir uma das camisas que te restam? O tronco e a tablete e tudo isso que tens são demasiado... Digamos que me faz querer dar uma vista de olhos aos do Garrett.

Julian lançou um grunhido e fletiu uns bíceps impressionantes.

– Sabes muito bem que o meu irmão não tem estes músculos.

– E ele também.

– Talvez eu seja o irmão mais novo, mas com isto posso mandá-lo ao chão em cinco segundos.

– Ora... a única coisa em que provavelmente és melhor do que ele é ires para a cama por aí com meio mundo.

Durante um longo instante, os dois permaneceram ali sentados, olhando para o vazio.

Quando Julian voltou a falar, Molly sentiu-se aliviada ao ouvir que a sua voz tinha voltado a adquirir o mesmo tom jovial de sempre.

– Sim, tens razão. Sou melhor a ir para a cama por aí com meio mundo do que os meus dois irmãos juntos, embora, agora que está casado, o Landon nem sequer pensasse em olhar para outra mulher. O Garrett... por que não? Sempre se mostrou muito protetor com a Kate e contigo. Ficaria furioso se soubesse que andas com alguém, em especial se esse alguém tivesse uma má reputação. Só tens que conseguir que algum tipo finja estar apaixonado por ti por um tempo e que seja suficientemente convincente para despertar o bom do Garrett.

Molly sentiu-se encantada de que, por fim, Julian tivesse compreendido a sua situação. Esteve a ponto de pular de alegria. Aplaudiu duas vezes.

– Sim! Sim, isso é uma boa ideia! A questão é se eu conheço um homem que possa fazer uma coisa dessas...

Julian sorriu maquiavelicamente.

– Querida, está à frente dos teus olhos.

 

 

Aquelas palavras pareceram acertar em Molly como se fossem uma descarga elétrica.

– Como? Acho que ouvi mal – disse ela erguendo-se do sofá. – Acabas de oferecer-te para seres meu namorado ou uma coisa parecida?

– Ou uma coisa parecida – afirmou Julian.

Ele parecia tranquilo. No entanto, no interior da sua cabeça, as rodas giravam com umas ideias particularmente inspiradoras. Ideias que talvez mais tarde fosse lamentar, mas que, apesar de tudo, eram muito boas.

Julian quase não podia suportar quão adorável ela estava sentada ali, com a incredulidade e a surpresa refletidas no rosto.

Tinha os olhos abertos de par em par, tão maravilhosamente azuis que um homem teria que ser de pedra para não mover montanhas por ela. Julian jamais tinha visto uma expressão tão sincera e tão inocente na sua vida. Diabos, só porque ela olhava para ele com aqueles olhos sentia-se uma espécie de super-herói.

Com um sorriso, explicou-lhe tudo.

– Significa que eu não tenho namoradas, Molly. Tenho amantes. E adorava fingir ser o teu.

– Estás a brincar comigo, Jules – replicou ela.

– Talvez eu até goste de brincadeiras, Molls, mas asseguro-te que não estaria a brincar contigo acerca disto – disse-lhe, muito a sério.

– Estás disposto a fingir que estás apaixonado por mim?

Ele assentiu. Ansiava poder tirar-lhe uma mancha de tinta da testa e outra da face.

– Suponho que já fiz coisas piores, Moo. Como esta rapariga que acaba de se ir embora... Acho que não estava muito bem da cabeça – acrescentou, apontando para a testa.

Molly levantou-se. Os olhos brilhavam perante uma proposta que, por fim, estava a começar a assimilar.

– O Garrett vai ver-nos juntos e ficará louco de ciúmes! Meu Deus, sim. É uma ideia brilhante, Julian! Quanto tempo achas que ele vai demorar em perceber que me ama? Um par de dias? Uma semana?

Julian olhou para ela fixamente em silêncio. Realmente soava... apaixonada.

Se a diferença de dez anos não era um problema, o facto de os Gage terem sido educados com estritas normas de conduta a respeito das meninas Devaney devia ter certo peso, em especial para Garrett, que nunca infringia uma regra. Teria o seu irmão feito algo para lhe dar a impressão de que estava interessado?

Caramba, aquele assunto dava-lhe tão má impressão que não sabia nem sequer por onde começar.

O seu irmão Garrett mostrava-se excessivamente protetor com as duas irmãs. Elas tinham ficado órfãs porque o seu pai, que era o único progenitor que lhes restava com vida e um dos guarda-costas dos Gage, tinha morrido no cumprimento do seu dever enquanto protegia o pai de Julian de um grupo armado contratado pela máfia mexicana para assassiná-lo por ter publicado artigos em que revelava os seus nomes. Além disso, tinha morrido a proteger Garrett. Embora os membros do grupo tivessem sido condenados a prisão perpétua, como único sobrevivente daquela sangrenta noite de há quase duas décadas, Garrett tinha sido sentenciado a uma vida inteira no inferno.

Vivia fustigado pela culpabilidade e pelo arrependimento. Quando a sua mãe viúva acolhera as duas meninas, Garrett tinha-se mostrado ansioso por protegê-las, inclusive de Julian. Sempre lhes tinham deixado muito claras as regras no que se referia às irmãs Devaney. De facto, até lhes tinham proibido fazer-lhes cócegas, algo que tinha incomodado não só Julian, mas também Molly. Ela adorava que lhe fizessem cócegas. Por isso, era difícil acreditar que, depois da atitude demonstrada por Garrett durante muitos anos, Molly estivesse louca por ele.

A que diabo vinha tudo aquilo?

Julian e Molly eram amigos. Molly, pelo menos, tinha admitido que a amizade que havia entre eles era melhor que uma relação romântica. No entanto, depois de ouvir como ela professava o seu amor por Garrett, Julian tinha-se apercebido que falava a sério, e aparentemente assim era, teria de ajudá-la.

Ia ajudá-la a perceber que não estava apaixonada por Garrett Gage.

– Acho que poderemos ter o Garrett onde queremos aproximadamente dentro de um mês – assegurou-lhe por fim, olhando-a profundamente nos olhos numa tentativa de descobrir quão apaixonada ela estava.

Molly corou de excitação, deu um salto para a frente e abraçou Julian com força enquanto lhe dava um beijo na face.

– És o maior, Jules. Muito obrigada.

Quando os delicados e esbeltos braços dela lhe apertaram a cintura, Jules esticou-se por completo. Estava nu da cintura para cima e, de repente, sentia Molly em todas as partes onde não queria senti-la. Ternurenta e maravilhosa.

O pior de tudo foi quando ela virou o rosto para o pescoço dele e sussurrou:

– És o melhor da minha vida, sabes, Jules? Jamais saberei agradecer-te adequadamente por tudo o que fazes...

Estava a falar a sério? As ideias que aquelas palavras lhe tinham metido na cabeça estavam muito, mas muito erradas. Não conseguiu relaxar-se nem um pouco até ela se separar dele. Então, deixou escapar um longo suspiro e, evitando olhá-lo nos olhos, grunhiu:

– Não me agradeças ainda, Molls. Vejamos como vai correr tudo, está bem?

– Vai correr tudo estupendamente, Julian. Eu sei. Antes de terminar o mês, provavelmente terei no dedo um anel de noivado.

Julian revirou os olhos. Não podia acreditar que aquilo estivesse realmente a acontecer.

– Bom, acho que não devias ligar ao organizador de casamentos ainda, está bem? Só tens que recordar que, durante este mês, estás comigo. Além disso, querida, ninguém da família vai achar muita graça a isto.

Ela franziu a testa e pôs as mãos nas ancas.

– E por que não? Não sou suficientemente boa para ti?

– Não, Molls, sou eu – sussurrou ele, olhando pela janela. Sentia um enorme peso no peito. – Pensarão que sou eu que não sou suficientemente bom para ti.

Capítulo Dois

 

– Estás a mentir-me, canalha. Eu sei!

Julian reclinou-se na sua poltrona e conteve um sorriso enquanto observava como o seu irmão andava de um lado para o outro pela elegante sala de reuniões do San Antonio Daily.

– Meu irmão – replicou Julian, – sei que sou mais novo que tu, mas não te esqueças que sou mais forte e de que te atirarei ao chão se me continuas a chatear.

– Então, basicamente estás a admitir que estás a ir para a cama com a nossa pequena Molls.

– Eu não disse isso. O que te disse é que andamos a sair e que ela vai viver comigo – disse. Isto último era algo que Julian não tinha falado com Molly, mas, de repente, tinha-lhe parecido uma boa ideia. Quando o rosto de Garrett adquiriu a cor de um tomate maduro, Julian compreendeu que tinha acertado em cheio.

Julian e Molly tinham combinado umas regras básicas no dia anterior. Não sairiam com outras pessoas; trocariam uma boa dose de mostras de afeto em público quando estivessem com familiares ou desconhecidos e nenhum dos dois revelaria nunca a ninguém que a sua relação romântica tinha sido falsa.

A Julian parecia-lhe bem. De facto, ter-lhe-ia parecido bem qualquer coisa que significasse fazer a vida negra a Garrett. Não tinha nada contra ele, à exceção de que era demasiado honrado e que desde que Landon fora de lua de mel parecia acreditar que tinha o peso do mundo sobre os ombros. Pelo menos, no que se referia aos assuntos familiares.

Os três irmãos gostavam muito uns dos outros, mas Julian estava há muito tempo à espera de uma oportunidade para se vingar de Garrett. Muito tempo.

Na noite anterior Julian não tinha conseguido pregar olho só de pensar nisso. Naquele momento, aproveitou um instante para desfrutar do facto de que o rosto do seu irmão estivesse tenso.

Por fim, Garrett parou e apoiou-se na mesa.

– Desde quando é que existe este interesse de um pelo outro? – perguntou-lhe Garrett.

– Desde que começámos a trocar mensagens picantes por telefone – replicou Julian sem se desmanchar. Então, antes de Garrett poder perguntar o que quer que fosse, agarrou no telefone e leu uma mensagem. – Caramba, esta rapariga dá comigo em doido – acrescentou. Fingiu enviar-lhe uma mensagem picante de resposta a Molly, mas o que realmente fez foi explicar-lhe o que se estava a passar.

 

Ele já sabe. Está a ficar louco. Conto-te tudo durante o jantar.

 

Garrett lançou-lhe um olhar assassino.

– A Kate já sabe?

– Provavelmente, a menos que esteja demasiado ocupada a preparar o seguinte evento. Apesar de tudo, é a irmã da Molly.

Precisamente nesse momento, chegou a resposta de Molly:

 

Não me estranha que o Garrett e a Kate se deem tão bem.

 

Julian escreveu rapidamente a resposta:

 

Suponho que isso significa que a Kate já não beija o chão que eu piso.

 

Molly replicou:

 

Afirmativo. Tem cuidado, amante. Tem uma espátula e não tem medo de utilizá-la como arma.

 

Julian sorriu. Molly... Era a luz da sua vida.

– Bom, então que parte foi?

Julian olhou para Garrett sem compreender. O seu irmão mais velho parecia estar a deitar fumo pelas orelhas.

– De que parte estás a falar?

– Que parte do que a mamã, o Landon e eu te andamos a dizer há duas décadas é que não compreendeste? A parte de que a Molly Devaney estava vetada? A parte de que serias deserdado se lhe fizesses mal?

Julian assentiu para o interromper.

– Eu compreendi tudo e compreendo tudo agora. Ouve-me tu a mim, meu irmão – disse inclinando-se sobre a mesa com a testa franzida. – Não me importa.

Garrett cerrou os dentes e respirou profundamente.

– Vou falar com a Molly, porque tenho a certeza de que será o melhor para ela reconsiderar esta estupidez. Só quero que saibas uma coisa, Julian: se lhe fizeres mal, se lhe tocas num só cabelo...

Não sabia se era a ameaça, ou o modo tão possessivo como Garrett se estava a comportar em relação a Molly, ou o simples facto de que Molly pensasse estar apaixonada pelo seu irmão mais velho, o pior de tudo era que ele temia que se devesse ao facto de que Garrett quisesse Molly para si mesmo. Fosse o que fosse, a fria fachada de Julian começou a quebrar e foi necessário um esforço sobre-humano para manter a máscara no seu lugar.

De repente, sentiu-se transportado para os seus anos da adolescência e recordou os momentos em que Molly e ele tinham tentado aproximar-se. O vínculo especial que se forjava com alguém, esse vínculo tão raro e tão valioso que uma pessoa tem a sorte de encontrar na vida, era algo que Julian sempre tinha tido com ela. Cada vez que a sua amizade ameaçava transformar-se em algo mais profundo, o pânico apoderava-se da sua família e caíam sobre eles como abutres para chantageá-los emocionalmente para que se separassem. Em mais de uma ocasião, tinham-no enviado para o estrangeiro porque tinha estado a olhar para Molly de um modo que nem Kate, nem Landon nem a sua mãe, e muito menos Garrett, tinham aprovado.

Julian tinha dito a si mesmo uma e outra vez que não se importava. Quando se fez adulto, tinha-lhes feito crer que era um playboy até que não teve outro remédio que representar o seu papel.

A ordem do seu irmão para que se afastasse da única mulher que o conhecia a sério tinha-lhe provocado um ataque de fúria. Fosse o que fosse o que Molly pensava ou o que Garrett pensava fazer, o futuro de Julian estava em jogo. Estava há anos a planeá-lo. Ninguém ia estragar-lhe esse futuro.

Tinha a intenção de utilizar aquela relação falsa com Molly para explorar os verdadeiros sentimentos que tinha em relação a ela.

Com deliberada atitude provocativa, pôs-se em pé, contornou a mesa e colocou uma mão no ombro do seu irmão. Então, sussurrou-lhe ao ouvido:

– Mantém-te à margem disto, Garrett. Não quero fazer-te mal, e muito menos quero fazer-lhe mal a ela. Portanto, mantém-te à margem.

Então, agarrou no seu casaco, recuperou a compostura e saiu da sala de reuniões.

 

 

– Não posso acreditar. A sério que não posso. Estás a gozar comigo, Molly.

Molly, que estava sentada num banco em frente à ilha de granito da cozinha das Devaney em que a sua irmã estava a decorar bolachas acabadas de fazer, parecia totalmente concentrada em limar as unhas. Sentia muitos nervos no estômago pela excitação que lhe produzia que aquela fosse a sua primeira noite como falsa namorada de Julian. Estava morta de vontade por ver a expressão do rosto de Garrett quando ele os visse juntos. Esperava que Julian lhe rodeasse os ombros com o braço daquela maneira tão sensual...

– Não estou nada a gozar contigo, juro-te. Podes ligar ao Julian e perguntar-lhe.

Kate levantou a espátula. O seu cabelo era do mesmo tom avermelhado que o de Molly. Estava apanhado no alto do seu lindíssimo rosto. Transpirava tal sensualidade com aquele avental de renda que, se não gostasse tanto dela por ser sua irmã, Molly tê-la-ia odiado profundamente.

Kate era uma pessoa ativa e incansável, o que explicava o êxito do seu negócio de catering. Era uma fantástica cozinheira com lindíssimas curvas, alta, bronzeada, segura de si mesma e muito divertida.

– O Julian e tu? Juntos? Não posso acreditar. As raparigas dele são sempre tão...

– Não digas isso ou vou odiar-te para sempre – grunhiu Molly enquanto pousava secamente a lima no granito.

Kate suspirou e começou a empacotar as bolachas.

– Está bem. Não o direi, mas já sabes ao que eu me refiro, não sabes?

Molly pôs-se de pé e foi olhar-se no espelho que havia no hall para tentar recordar quanto a tinham magoado as palavras de Julian no dia anterior de manhã.

– Tens razão. Sei que não se parecem comigo – admitiu enquanto regressava à cozinha. – São altas, sexies e sofisticadas...

«Mas não me importa porque eu amo o Garrett, não o Julian», recordou a si mesma.

Os lábios ainda lhe ardiam ao recordar o beijo que ele lhe tinha dado, esfregando-se contra a sua boca como se os lábios de Molly fossem algo que merecesse chupar e morder...

Kate olhou para Molly e começou a rir.

– Apaixonaste-te perdidamente por ele, não foi? Eu gosto muito do Julian, Molls, mas até eu sei que quem se casar com ele é uma estúpida. E não quero que sejas tu, Moo.

Molly esteve a ponto de assegurar-lhe que ela jamais se apaixonaria por Julian. Jamais tinha conhecido um homem tão decidido a ir para a cama com tantas mulheres, era como se tivesse uma necessidade que nenhuma delas parecia cobrir por completo.

– Então, como é que aconteceu? Ele disse-te de repente...?

– Que tinha sido um estúpido por não se ter apercebido antes que a pequena Molly era a mulher da sua vida – disse uma profunda voz vinda da porta. – Sim, foi exatamente assim.

Molly sentiu que ficava com pele de galinha ao ouvi-lo. Virou-se e viu como Julian fechava a porta principal atrás de si. Sentiu que se lhe formava um nó no estômago ao perceber que, mais uma vez, ele a ia encontrar vestida com a roupa cheia de tinta. Então, recordou que não se importava. Era Julian e não precisava de impressioná-lo. Ele já pensava que ela era o produto saído de uma batedora. Por que é que ia ter de fazê-lo mudar de opinião?

No entanto, parecia-lhe completamente injusto que ela tivesse manchas de tinta na roupa e no cabelo e que ele tivesse um aspeto tão pulcro e tão masculino. Um casaco preto ao ombro, gravata da Gucci quase com o nó desfeito, tinha um aspeto desalinhado muito sexy e delicioso. Isso não impressionava Molly, mas supunha que o resto de mulheres sim. Todas, certamente.

Observou como Julian se dirigia a ela com o sorriso que lhe tinha dedicado sempre, desde que eram crianças.

– Não acredites em nada do que a Kate te tiver dito acerca de mim. Tudo se deve a que ela me queria para ela primeiro – disse-lhe enquanto lhe rodeava a cintura com os seus fortes braços inclinando a cabeça em direção à dela.

Julian apertou-a com força contra o seu corpo e esmagou os lábios firmemente contra os dela com tanta habilidade e tanta paixão...

Ohhh... Ohhh... uma pequena parte do cérebro de Molly desejava afastá-lo do seu lado. O único homem que ela deveria desejar beijar naquele momento era Garrett, mas Julian beijava como o seu irmão... a diferença era que Julian tinha um sabor limpo e a mentol nos lábios, não a vinho, e beijava-a como se tivesse todo o tempo do mundo.

Aqueles lábios tão sedosos apertavam-na com dolorosa doçura e moviam-se tão languidamente que todos os sentidos de Molly pareceram perder o controlo. Sentiu-se hipnotizada, praticamente transportada à noite em que o seu mundo se tinha posto de pernas para o ar, na noite em que alguém lhe tinha roubado o coração.

A repentina necessidade de apertar-se contra ele apoderou-se dela, abrasando-a durante um segundo. De repente, ele afastou-se dela e deixou-a atónita e surpreendida, quase a tremer. Por sorte, continuou a agarrá-la até ela conseguir reencontrar o equilíbrio.

Quando terminou, Julian disse-lhe algo. A ela pareceu-lhe distinguir que lhe dizia olá.

Julian perguntou-lhe algo, com a voz mais rouca do que era habitual. Ela não podia afastar o olhar dos lábios. Aqueles lábios tão firmes e tão doces ao mesmo tempo tinham-se transformado no centro da sua atenção. Só conseguia perguntar-se por que é que tinha sido tão agradável aquele beijo.

Até lhe tremiam os joelhos.

Tentou tranquilizar-se, mas não conseguia. Por isso, acabou por falar-lhe com más formas por tê-la apanhado desprevenida.

– O que é que estás a fazer aqui, J. J.? – perguntou-lhe. Utilizou a velha alcunha de quando eram crianças para castigá-lo.

– Nada, bonita. Só queria vir ver a minha rapariga – replicou com um sorriso antes de beliscar-lhe o traseiro. Então, aproximou-se dela para que só Molly pudesse ouvir o que ele dizia. – J. J.? Vais pagar por isso, Molls.

Molly fingiu rir-se para que Kate não notasse nada de estranho e afastou-se dele. O traseiro ardia-lhe por causa do contacto. Disse a primeira coisa que se lhe ocorreu quando viu que Kate olhava para eles com expressão confusa.

– O J. J. adora que eu lhe chame todo o tipo de coisas quando estamos... tu sabes.

– J. J.? – perguntou Kate voltando-se para Julian com as mãos nas ancas e empunhando a espátula como se fosse uma espada. – Pensei que odiavas essa alcunha.

Julian lançou um olhar de advertência a Molly.

– E odeio, mas a pequena Molls chama-me J. J. exclusivamente quando quer que eu lhe dê um açoite.

As faces de Molly ardiam-lhe. Queria morrer de vergonha.

– Querido, ainda é quase de manhã, mas estou mortinha de vontade por me pôr sexy e sofisticada para ti – disse-lhe enquanto contornava a cozinha e fazia gestos por cima dos ombros de Kate. – Terás de esperar um pouco, mas tenho a certeza de que a Kate e a espátula dela vão adorar fazer-te companhia.

– Tens alguma ideia melhor – replicou ele sem se desmanchar. – Por que é que não te ajudo a vestir-te, bombonzinho?

Antes de Molly poder negar-se, ele seguiu-a até ao quarto enquanto Kate continuava na cozinha, decerto sem conseguir acreditar no que tinha visto.

– Podes deixar de me provocar, por favor? – sussurrou Molly empurrando-o contra a porta. – Não me voltes a chamar bombonzinho.

– Quem é que está a provocar?

– Não te atrevas a voltar a beijar-me como fizeste sem me avisares primeiro.

– Se voltares a chamar-me J. J., vou beijar-te com língua, por isso não o faças.

Os dois olharam-se fixamente. De repente, Molly lamentou a sensação que tinha no estômago. Não podia evitar perguntar a si mesma o que Julian era capaz de fazer com a língua que enlouquecia completamente as mulheres.

– Ficou claro, Molls? – perguntou-lhe levantando-lhe o rosto para obrigá-la a olhar para ele.

Ela assentiu para que Julian a soltasse e engoliu em seco. Então, deu-lhe um empurrão para afastá-lo do seu lado.

– Por que é que tiveste que dizer aquilo dos açoites?

– Porque às vezes me parece que queres que eu o faça – replicou ele. Deu-lhe um açoite e dirigiu-se ao armário, deixando-a possuída por um estranho e poderoso sentimento e um traseiro que lhe ardia.

– Bem – disse enquanto tirava uma enorme mala, – disse ao amor da tua vida que vais viver comigo. O que é que me dizes a isso, pequena Picasso?

– Ficou ciumento?

Julian voltou a sorrir.

– Foi a vez que mais perto o vi de começar a dar cabeçadas contra a parede.

Molly abriu a gaveta da roupa interior.

– Nesse caso, estou encantada.